O combate contra o cristianismo é um dos mais vastos, sistemáticos e duradouros de sempre. Desde a crucificação segue múltiplos propósitos, formas, atitudes e um só objectivo. Hoje a campanha adquiriu tons específicos, especial agressividade e profundo embuste. Acaba de sair o livro de uma das maiores autoridades no tema, o sacerdote francês Joseph-Marie Verlinde: Imposturas Anticristãs. Dos Evangelhos Gnósticos ao Código da Vinci (Editorial Verbo, 2007). Cientista nuclear, foi expoente do esoterismo antes de, convertido, se tornar campeão da fé em pregação, livros e no site www.final-age.net.
O recente "anticristianismo (...) surge da controvérsia entre as duas correntes: de um lado o racionalismo das Luzes, que reinvindica a autonomia absoluta da razão; do outro o 'sentimentalismo' do romantismo que, rejeitando completamente o Deus transcendente, procura o divino nos bastidores dos mundos ocultos, percebidos 'intuitivamente'. Estas duas correntes, longe de se antagonizarem, vão desenvolver-se em simultâneo" (p. 75-76). No fim do século XIX juntaram-se nas relações do positivismo de Comte com o espiritismo, de Kardec. Agora florescem na New Age.
Por cá, a república, cujo centenário se aproxima, decretou uma sistemática perseguição religiosa na linha do ateísmo oitocentista. Hoje a hostilidade é surda e subtil, mas não menos activa. Olhando a cultura oficial, ninguém diria que vivemos num país cristão. Os autores católicos são menorizados por o serem. A expressão religiosa é possível, mas deve ser privada, e as manifestações da civilização cristã são silenciadas ou distorcidas. Entretanto, visões ateias, exóticas ou anticristãs são subsidiadas, divulgadas, celebradas. A cultura oficial é hedonista, relativista, libertária.
Desde que a Europa abandonou a Igreja, já falharam os sonhos totalitários nazi e marxista, o ateísmo puro não convenceu e o cientifismo triunfante azedou. Vivemos a apoteose da ideologia ocultista, panteísta e esotérica. Verlinde mostra com clareza a sua origem e contornos. "O renascer contemporâneo do pensamento gnóstico desenvolveu-se no Ocidente como consequência 'espontânea' do movimento da secularização, o qual, agora à distância, se percebe que apenas visava a religião 'dominante', a saber, o cristianismo" (p.18). Após séculos a atacar a Igreja, caiu-se no delírio.
O autor lembra que Mircea Eliade avisara: "A grande maioria dos 'sem religião' está atulhada numa miscelânea mágico-religiosa, mas degradada até ao ridículo, e por isso dificilmente reconhecível" (p. 179). A cultura actual explicitou-a num chorrilho de disparates que envergonharia os nossos antepassados iluministas, deístas e positivistas. Uma incrível série de generalizações boçais, paralelos abusivos e truques linguísticos dizem "demonstrar cientificamente" o que a ciência e a História negam peremptoriamente. Daí a popularidade da literatura e movimentos gnósticos, esotéricos e mágicos, o sucesso de Dan Brown, Harry Potter e seus clones, que o autor desmascara com rigor.
Naturalmente, num tempo obcecado com o erotismo, a magia sexualis está no centro. Também isso é um embuste, pois o antigo gnosticismo era misógino, machista e diabolizava o sexo, mas hoje usam-se essas teorias como pretexto para "novas formas de prazer sob a capa de 'demanda mística' " (p. 191).
Entretanto, a Igreja é vista "como organismo tentacular e parasitário" (p. 264), em linguagem paralela à dos nazis contra os judeus. Se as instituições hoje favorecem o sincretismo, porquê perseguir a fé cristã? Trata-se de uma forma de calar a consciência. Quem se afunda no deboche e sofre as suas dramáticas consequências sente a necessidade de descarregar os remorsos. Mas há uma razão mais profunda: "Por detrás da recusa em acolher a interpretação do crente da pessoa de Jesus Cristo (...) esconde-se a recusa de depender de Outro para aceder à verdade última e à vida eterna" (p. 32). Estas seitas repetem a suprema tentação soberba da serpente do Éden: "Sereis como deuses" (Gn 3, 5).
O recente "anticristianismo (...) surge da controvérsia entre as duas correntes: de um lado o racionalismo das Luzes, que reinvindica a autonomia absoluta da razão; do outro o 'sentimentalismo' do romantismo que, rejeitando completamente o Deus transcendente, procura o divino nos bastidores dos mundos ocultos, percebidos 'intuitivamente'. Estas duas correntes, longe de se antagonizarem, vão desenvolver-se em simultâneo" (p. 75-76). No fim do século XIX juntaram-se nas relações do positivismo de Comte com o espiritismo, de Kardec. Agora florescem na New Age.
Por cá, a república, cujo centenário se aproxima, decretou uma sistemática perseguição religiosa na linha do ateísmo oitocentista. Hoje a hostilidade é surda e subtil, mas não menos activa. Olhando a cultura oficial, ninguém diria que vivemos num país cristão. Os autores católicos são menorizados por o serem. A expressão religiosa é possível, mas deve ser privada, e as manifestações da civilização cristã são silenciadas ou distorcidas. Entretanto, visões ateias, exóticas ou anticristãs são subsidiadas, divulgadas, celebradas. A cultura oficial é hedonista, relativista, libertária.
Desde que a Europa abandonou a Igreja, já falharam os sonhos totalitários nazi e marxista, o ateísmo puro não convenceu e o cientifismo triunfante azedou. Vivemos a apoteose da ideologia ocultista, panteísta e esotérica. Verlinde mostra com clareza a sua origem e contornos. "O renascer contemporâneo do pensamento gnóstico desenvolveu-se no Ocidente como consequência 'espontânea' do movimento da secularização, o qual, agora à distância, se percebe que apenas visava a religião 'dominante', a saber, o cristianismo" (p.18). Após séculos a atacar a Igreja, caiu-se no delírio.
O autor lembra que Mircea Eliade avisara: "A grande maioria dos 'sem religião' está atulhada numa miscelânea mágico-religiosa, mas degradada até ao ridículo, e por isso dificilmente reconhecível" (p. 179). A cultura actual explicitou-a num chorrilho de disparates que envergonharia os nossos antepassados iluministas, deístas e positivistas. Uma incrível série de generalizações boçais, paralelos abusivos e truques linguísticos dizem "demonstrar cientificamente" o que a ciência e a História negam peremptoriamente. Daí a popularidade da literatura e movimentos gnósticos, esotéricos e mágicos, o sucesso de Dan Brown, Harry Potter e seus clones, que o autor desmascara com rigor.
Naturalmente, num tempo obcecado com o erotismo, a magia sexualis está no centro. Também isso é um embuste, pois o antigo gnosticismo era misógino, machista e diabolizava o sexo, mas hoje usam-se essas teorias como pretexto para "novas formas de prazer sob a capa de 'demanda mística' " (p. 191).
Entretanto, a Igreja é vista "como organismo tentacular e parasitário" (p. 264), em linguagem paralela à dos nazis contra os judeus. Se as instituições hoje favorecem o sincretismo, porquê perseguir a fé cristã? Trata-se de uma forma de calar a consciência. Quem se afunda no deboche e sofre as suas dramáticas consequências sente a necessidade de descarregar os remorsos. Mas há uma razão mais profunda: "Por detrás da recusa em acolher a interpretação do crente da pessoa de Jesus Cristo (...) esconde-se a recusa de depender de Outro para aceder à verdade última e à vida eterna" (p. 32). Estas seitas repetem a suprema tentação soberba da serpente do Éden: "Sereis como deuses" (Gn 3, 5).
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