quinta-feira, agosto 21, 2014

O sufocante silêncio sobre a perseguição aos cristãos.





Os acontecimentos dos últimos dois meses no Iraque e na Síria têm-nos deixado com uma sensação de sufoco.

Por um lado os relatos que nos vão chegando são absolutamente aterradores.  Dezenas de milhares de pessoas expulsas das suas terras, homens mortos através de meios bárbaros, mulheres violadas e vendidas como escravas, crianças abandonadas no deserto, Igreja ocupadas e saqueadas. Tudo isto parece tirado de um filme de terror de má qualidade.

Por outro lado, tudo isto se passa diante do silêncio do Ocidente. Lemos as noticias, vemos os telejornais, procuramos saber o que se passa com esses nosso irmãos mártires, mas nada. Apenas um enorme silêncio. Mesmo quando os jornais falam da situação do Iraque só ouvimos falar dos yazadi (também eles sujeitos ao terror do ISIS) ou dos xiitas. Mas aparentemente nenhum lider politico ocidental ou meio de comunicação reparou que já há mais de cem mil cristãos desalojados e um número ainda por apurar de mortos e de escravos.

E esta realidade é sufocante, aterradora. Saber que os nossos irmãos estão a ser perseguidos sem que ninguém se pareça importar, faz-nos quase chorar de raiva. Por isso revoltamo-nos, justamente. Acusamos o Ocidente de ignorar a perseguição aos cristãos, não só no Iraque, mas em tantas partes do mundo. Chegamos a usar a expressão "cristofobia" para designar esta indiferença pelos cristãos perseguidos.

Mas ao pensar nisto não posso deixar de pensar: então e eu? Que fiz eu por estes meus irmão? Porque se é verdade que a actual situação no Iraque é mais dramática do que nunca, também é verdade que a perseguição aos cristãos no Próximo Oriente não é propriamente uma novidade.

De facto, há onze anos, antes da intervenção americana, existiam no Iraque 1.300.000 cristão. Passados alguns anos só exisitam 300 mil, os restantes tinham fugido da guerra e da perseguição. E isto acontence e aconteceu um pouco por toda aquela região. Os cristãos, presos entre guerras e revoltas, sem nenhum lobby ou país poderoso que os proteja, acabaram por ter que escolher entre fugir ou ser mortos. Aconteceu na Terra Santa, no Libano, na Síria, no Egipto entre outros países.

E nós que fizemos e fazemos? Discutimos, resmungamos, escrevemos textos. Mas damos a este assunto a mesma atenção, ou ainda menos, do que às intrigas eclesiásticas. Quantas vezes perdemos mais tempo a discutir batinas ou o latim, do que com os cristão perseguidos? Que parte deste silêncio esmagador é culpa nossa?

E não vale a pena usarmos como desculpa a falta de meios (a eterna desculpa nacional de que até faziamos, mas ninguém quer). A verdade é que fomos desafiados vezes sem conta pelo Papa (quer pelo Papa Reinante, quer pelo Papa Emérito) a rezar pelos cristãos perseguidos. A verdade é que existem um sem número de instiuições católicas no terreno a quem podemos ajudar. A verdade é que existem várias agências noticiosas católicas que continuam a noticiar estas perseguições. A verdade é que têm havido manifestações na Europa por causa do Iraque, mas todas de apoio ao ISIS... E nós que fazemos? E eu?

Isto nada tira à injustiça que é o silêncio total do Ocidente sobre a perseguiçãos aos cristãos. Nem significa que nos devemos calar perante essa injustiça. Mas devemos também cair na conta de que nós, não sendo os autores dessa injustiça, temos sido sem dúvida seus cúmplices.

segunda-feira, agosto 18, 2014

Porque os animais de Gaza valem mais que os Cristão do Iraque? - Carta ao Director do Observador


Observador
Ao Director
Emo. Sr.
Dr. David Dinis

                                                                                                                                 Lisboa, 18 de Agosto

Senhor Director
Foi com muito interesse que li a reportagem do Observador sobre a destruição do zoo de al-Bisan na Faixa deGaza. A peça da jornalista Vera Novais está muito bem-feita, com bastantes e interessantes pormenores desde o número de animais mortos (oito primatas e uma avestruz) até à descrição das terríveis condições que estes animais enfrentam. Ficámos também a saber como os animais chegaram aquele zoo e o porquê da sua existência.

Esta reportagem aliás demonstra mais uma vez o interesse com que o Observador segue o conflito em Gaza, onde agora se juntam aos 2000 mortos estes oito animais. É de realçar de facto a atenção que o vosso jornal tem demonstrado por este conflito entre um Estado Democrático e um grupo terrorista que tantas mortes tem provocado.

Também pela qualidade da cobertura que o Observador tem dispensado a este conflito não me pode deixar de espantar o facto de, aparentemente, o vosso jornal ignorar que neste momento no Iraque se encontra em curso uma perseguição sem quartel aos cristãos. Perseguição essa que já tinha sido levada a cabo pelo ISIS na Síria.

De facto, pesquisando pela palavra Iraque na vossa página só se encontra uma referência à perseguição aos cristãos no Iraque e nenhuma notícia sobre a expulsão de mais de cem mil pessoas da cidade de Mossul por serem cristãos.
Eu percebo que milhares de casas marcadas com a letra “N” (de Nazarenos, ou seja cristãos) não tenha tanto interesse jornalístico como a morte de oito primatas. Ou que uma população pobre obrigada a pagar um imposto de 450 Dólares para poder ficar em sua casa não seja de facto tão relevante como as más condições que os animais do Jardim Zoológico de al Bisan enfrentam. Ou que a morte de mulheres, crianças e homens desarmado por terroristas não mereça a mesma cobertura jornalística que a discussão se o ataque de Israel ao zoo foi ou não justificado.

Porém não posso deixar de lhe perguntar: se em vez de crucificarem cristãos as forças do ISIS crucificassem macacos o vosso jornal publicaria a notícia? Ou se em vez de violarem mulheres violassem avestruzes? Ou se em vez de ocuparem igrejas ou mosteiros milenares ocupassem jardins zoológico? Será que assim o silêncio do Observador seria rompido?
Se for esse o caso gostaria que Vossa Excelência mo dissesse para começar uma campanha para construir um Zoo em Mossul, na esperança de que assim os nossos media começassem a noticiar as barbaridades que se passam no Iraque neste momento.

Com os melhores cumprimentos,
José Maria Seabra Duque