quarta-feira, abril 09, 2008

A Igreja clandestina.

Neste dias estalou a polémica sobre os Jogos Olímpicos de Pequim. A questão tem sido o Tibete, que continua a ser ocupado barbaramente pela China.

Embora o Tibete seja mais um motivo de repúdio em relação à China está longe de ser o único, ou mesmo, o mais importante. Os media decidiram , assim como os lideres mundiais que se atreveram a falar sobre este assunto, preferem falar apenas sobre o Tibete, o Dalai Lama e os pobres budistas. Mas ninguém se atreveu ainda a denunciar a sistemática violação dos direitos humanos que existe no pais de Mao.

Os lideres políticos preferem esquecer que o milagre económico chinês, perante o qual se vergam, tem como base trabalho escravo. Milhões trabalham na China em regime de quase de escravatura, guardados por homens armados, em fábrica onde trabalham horas sem fim a troco de pouco mais de cem dólares por mês. Por cima disto, parte substancial desse salário serve para pagar o alojamento e a comida. O milagre económico chinês resume-se a vender produtos baratos para o estrangeiro, fruto de mão de obra quase gratuita.

Mas os atropelos aos direitos humanos no país da revolução cultural (onde Mao, coqueluche de uma certa esquerda cultural europeia, matou mais milhões que Hitler) não se resumem aos problemas laborais. Hoje na China não existe liberdade religiosa. Existem quatro igrejas do Estados, uma das quais a Associação Católica Patriótica. Fora disto estão proibidas todas as outras confissões. Todos os anos são presos, torturados e mortos católicos na China. Mas a comunidade internacional fecha aos olhos, com medo de ofender o novo colosso económico.

Resta como consolação aos católicos chineses, assim como a todo o o povo chinês, as palavras que o Santo Padre lhes dirigiu na Páscoa.

Maçonaria ao ataque.

A Conferência Episcopal Portuguesa decidiu voltar a eleger Dom Jaime Ortiga, Arcebispo de Braga, para seu presidente. Quando tomou posse, o senhor arcebispo pediu aos católicos empenho na vida pública e acusou o governo de afastar os católicos do Estado.

Como resposta a estas declaração choveram coros de protestos dos habituais bem pensantes laicistas que dominam o panorama cultural português. A frase que mais transtorno causou foi "o Estado não pode ser militantemente ateu". Os bastiões da ética republicana bradaram aos céus, exclamando que a Igreja queria era interferir no Estado.

Por outro lado, hoje, representantes de várias lojas maçónicas receberam o presidente da Comissão Europeia, para lhe pedir satisfações por uma declarações que terá prestado na Roménia, num encontro ecuménico, onde salientou a importância das religiões na construção europeia.

Sobre isto, ninguém falou. Não deixa de ser preocupante que os intelectuais do regime ataquem quem luta publicamente, mas se calem perante jogos de poder secretos. A Igreja é uma alvo a abater, apesar de fazer luta dentro do sistema democrático, enquanto a maçonaria é poupada e secretamente vai puxando cordelinhos nos bastidores da vida politica.

Para que não hajam dúvidas: decorre neste momento uma perseguição cultural à Igreja. A Igreja é cada vez mais atacada, denegrida, reduzida à privacidade de cada um. Cabe a cada um de nós sermos testemunhos públicos de Cristo, na circunstância que nos for confiada!

terça-feira, abril 01, 2008

"Cl, o desafio da missão", Entrevista do Padre Carrón no jornal Avvenire a 20/03/2008

Publicamos a entrevista ao padre Julian Carrón, presidente da Fraternidade de CL, realizada por um jornal espanhol.

Há um ano atrás, no dia 24 de Março, a praça de São Pedro encheu-se de celinos, provenientes de todo o mundo, para a audiência com Bento XVI, por ocasião dos 25 anos do reconhecimento pontifício da Fraternidade de Comunhão e Libertação, da qual o senhor foi confirmado presidente nos últimos dias. Padre Carrón, o que lhe ficou daquela audiência?


Roma foi a confirmação apostólica do valor do carisma dado a Don Giussani pela vida da Igreja. Bento XVI sublinhou a origem pessoal do carisma e confirmou a permanência do mesmo na experiência do movimento.
E relançou-nos na tarefa missionária, que já nos tinha sido confiada por João Paulo II. Nos dias de hoje, este desafio missionário é ainda mais decisivo, por exemplo, como o que aconteceu no Brasil nestas últimas semanas. Durante um encontro em São Paulo, com 50 mil membros do Movimento dos Sem Terra, a Cleuza Zerbini, percursora deste movimento, bem como o seu marido Marcos, disse: «Carrón, há uns anos também tinha um movimento, o Nova Terra. Quando conheceu Don Giussani confiou-lhe este movimento, porque não havia mais nada para procurar; tudo o que devia encontrar, tinha encontrado. A história repete-se mais uma vez. Hoje não existem duas estradas: existe apenas uma. Hoje, o Nova Terra e os Sem Terra unem-se ao movimento de Comunhão e Libertação». Imagine a minha comoção, tal como a que acenei quando o Don Giussani me chamou de Espanha para o acompanhar a guiar o movimento. Como então, senti-me tão pequeno, tão insignificante, que em São Paulo tive a mesma sensação. Mas este facto novo que o Mistério nos coloca diante não me amedronta, porque Aquele que começou entre nós esta obra boa, leva-la-à a bom termo.

Como acolheu o mandato renovado para guiar o movimento nos próximos anos? O que representa para si?

Aceitei a decisão com o mesmo espírito com que aceitei a decisão de Don Giussani, procurando obedecer à modalidade com que o Mistério me chama a responder. Hoje estou muito mais consciente da desproporção total diante da tarefa que me é confiada. E o que eu quero viver está bem descrito no trecho de Solov’ev que o Don Giussani nos propôs como manifesto permanente do nosso movimento: «O que nos é mais querido no cristianismo é o próprio Cristo, Ele próprio, e tudo o que Dele deriva, porque nós sabemos que n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da divindade». Desejo não querer nada mais na vida para além disto.

Isto tudo que acabou de dizer, o que é que significa para o futuro de CL?

Os factos imponentes que aconteceram neste último ano trouxeram mais uma vez à baila a nossa responsabilidade, segundo o mandato do dia 24 de Março de 2007: viver uma fé profunda e personalizada, que nos permita estar na realidade, como nos disse Bento XVI, com uma «espontaneidade e uma liberdade que permitam novas e proféticas realizações apostólicas e missionárias», para colaborar juntamente com os pastores em «tornar presente o mistério e a obra salvífica de Cristo no mundo».
Uma fé madura exprime-se em obras nas quais o desejo do homem incarna e assim oferece um contributo à vida social. A fé católica não é só uma questão privada ou limitada a algum âmbito particular, mas tem igualmente uma função pública, visto que é um factor que torna melhor a vida quotidiana, mais humana e mais positiva, e coloca nas condições óptimas para enfrentar os problemas e as dificuldades, nas relações entre as pessoas, na educação, no trabalho, até mesmo no empenho cívico e político vivido como caridade.

O que representa, na sua opinião, para os cristãos, o contexto cultural e político de Espanha e de Itália, feitas as distinções devidas?

Há uma intervenção de Don Giussani em 1972, que me parece de grande actualidade. Ajuizando um momento igualmente dramático da nossa história – a crise de 68, da qual alguns dos fenómenos actuais são certamente a última consequência – disse: «Deus não permite que nada aconteça que não seja para um amadurecimento. Mais, é exactamente da capacidade que cada um de nós e cada realidade eclesial tem (família, comunidade, paróquia, Igreja em geral) de valorizar o que aparece como objecção como estrada de amadurecimento, demonstrando-se assim a verdade da fé». Mas é sobretudo a frase seguinte que me interessa sublinhar: «Este é o sintoma da verdade, da autenticidade pelo menos da nossa fé: se em primeiro plano colocamos verdadeiramente a fé ou outro tipo de preocupação, se esperamos verdadeiramente tudo do facto de Cristo, ou se do facto de Cristo esperamos apenas o que decidimos esperar, fazendo dele em última análise motivo e sustento para os nossos projectos e para os nossos programas». Por isto, a situação problemática que os nossos países estão a atravessar é uma circunstância que o Senhor permite para a nossa educação, para verificar o que cada um de nós ama mas também para desmascarar a ambiguidade que pode existir em todas as iniciativas humanas, por sua natureza, limitadas.

No que diz respeito à presença pública dos cristãos, o que é que este seu juízo implica?

Na situação actual, na qual – como vimos – não basta uma reactividade às provocações dos outros, somos incentivados a descobrir a originalidade do cristianismo. É preciso uma presença original, não reactiva. «Uma presença é original quando decorre da consciência da própria identidade e da afeição que se tem por ela, e nisso encontra a sua consistência» (Don Giussani). Como cristãos, não fomos escolhidos para provar as nossas capacidades dialécticas ou estratégicas, mas sim para testemunhar a novidade que a fé introduziu no mundo e que nos «conquistou» em primeiro lugar. O desafio que temos diante é o de sempre: educar adultos na fé, segundo um método que torne razoável a adesão a Cristo. Como disse padre Giussani ao Sínodo em 1987, «o que falta não é sequer a repetição verbal ou cultural do anúncio. O homem de hoje espera, talvez inconscientemente, a experiência do encontro com pessoas através das quais o encontro com Cristo é realidade de tal modo presente que a sua vida é mudada. Só um impacto humano pode interpelar o homem de hoje». Portanto, o encontro com alguma coisa que corresponda às exigências do coração, que interpele a razão no torpedo em que esta caiu e constitua uma resposta que nenhum moralismo pode sequer sonhar.

Sinteticamente, o que pode o carisma de CL oferecer de original?

O que recebemos da grande tradição da Igreja e que a genialidade humana e cristã de Don Giussani tornou experiência presente, atraente na actualidade: na fé, a solidão e o cepticismo são derrubados e a vida torna-se uma certeza imensa, exactamente porque Outro actua na história; em qualquer circunstância e dentro de qualquer prova, é possível viver assim. É este o contributo que consideramos poder dar à vida da nossa gente: mostrar a pertinência da fé para as exigências da vida – exigências de verdade, de beleza, de justiça, de felicidade – e portanto, a utilidade da fé para a vida dos homens do nosso tempo. Esta fé é esperança para a vida de todos.

Isto basta para enfrentar o golpe de um mundo que se afastou progressivamente da Igreja e da fé, e que se quer construir a prescindir, quando não explicitamente contra, o cristianismo?

Respondo-lhe com palavras que Don Giussani pronunciou depois da derrota dos católicos italianos do referendo ao aborto em 1981: «Exacto, este é um momento no qual seria preferível sermos apenas doze em todo o mundo. Quer dizer, é mesmo um momento onde se volta ao início, porque nunca tinha sido assim demonstrado que a mentalidade já não é cristã. O cristianismo como presença estável, consistente, e logo capaz de tradere, de tradição, de comunicação, de criar tradição, já não existe: tem que renascer. Tem que renascer como solicitação à problemática quotidiana, quer dizer, à vida quotidiana». Existe alguma coisa mais original e mais entusiasmante que isto?

tradução não oficial de Catarina Almeida