As últimas notícias sobre a regulamentação da lei do aborto deixaram alguns intelectuais de cara à banda: então se o povo português quer aborto como aspirina na farmácia, como é que os médicos - esses malandros! - podem querer ser (imagine-se!) objectores de consciência?!
1. O resultado do referendo tem uma leitura política clara: mais de 50% dos eleitores não votou, portanto não há vontade expressa de uma maioria na mudança da lei. ~
Podemos depois interpretar, extrapolar, imaginar os sentimentos profundos dos abstencionistas, podemos.
Mas nunca deixarão de ser interpretações, extrapolações ou imaginações. O facto é que houve um referendo para mudar a lei e quem não foi votar não expressou vontade de mudar a lei ("Quem não votar, vota não!" - LOUÇÃ dixit);
2. Os apoiantes das causas fracturantes como o aborto dividem-se tendencialmente em SIM's e NÃO's, como uma grande diferença.
Os SIM's aparecem todos - olha a modernidade! -, todos os que existem vão às manifs, telefonam para o Opinião Pública e inundam a blogosfera.
Os NÃO's são sempre menos. Sempre. Depois da campanha do Referendo percebi este ponto sociológico da nossa sociedade... Os NÃO's não querem saber de campanhas, políticas e referendos.
Quando tange com a vida concreta, zangam-se. Quando é preciso "sujar as mãos" na política, assobiam para o lado.
Porque tenho mais que fazer, porque aqueles que já fazem é que são bons ou tão simplesmente porque não há nada a fazer, eles ganham sempre! Contra os meus falo, mas...
3. O ponto anterior explica muito bem a questão dos objectores de consciência. Eu arriscaria uma aposta em como esses mesmos 80% de objectores de consciência ficaram em casa no dia 11. Ou mesmo - pasme-se! - que votaram SIM. Porque coitadinhas das mulheres, elas é que sabem (mas EU nunca faria!); ai e a prisão? Não pode ser crime... (mas EU nunca faria!)...
O argumento central da vitória do SIM foi o da falsa liberdade (eu acho mal e nunca faria, mas cada um sabe de si), a falsa liberdade promovida a princípio de direito penal...
E o resultado é a pasmaceira (do verbo pasmar...) dos nossos SIM's...
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