sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Aberração Sexual

No dia 19 de Fevereiro foi aprovada na Assembleia da Republica um projecto de lei que tenciona tornar obrigatória que as crianças, do ensino básico ao secundário, tenham 12 horas de Educação Sexual por ano.

Existem vários argumentos contra esta medida. A começar nas coisas escabrosas que ensinam hoje em dia aos alunos da primária. Desde do coito até as famílias homossexuais, pelos vistos não há tema sobre a intimidade que o Ministério não julgue estar ao alcance da compreensão de criança entre os 6 e os 10 anos.

Mas o meu problema não é esse. O meu problema é que o Estado chame a si o direito de educar as crianças, com ou sem consentimento dos pais. Uma coisa é a escolaridade obrigatória, o ensino das disciplinas indispensáveis para a vida em sociedade. Outra coisa completamente diferente é impor a visão do Estado sobre a intimidade. Se o Estado, ou quem manda nele, acha que as crianças de dez anos têm que saber como não engravidar, então que o ensine aos seus filhos os métodos contraceptivos. Agora, não retire aos pais dos filhos que não são seus o poder de decidir como educar os filhos.

Porque se a História, a Matemática ou o Português são disciplinas que intervêm apenas no conhecimento das crianças, a Educação Sexual é um opção educativa. Só os pais é podem decidir como querem que os filhos sejam educados.

A questão da Educação Sexual obrigatória vai mais além do que ensinar assuntos de adultos às crianças. Trata-se da imposição da visão grotesca do Estado em relação à sexualidade a todas as crianças deste país.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Samwise the Brave once more.



Quem me conhece sabe que eu "embirro" um bocado com os filmes de "O Senhor dos Anéis". De facto Peter Jackson cometeu vários erros na adaptação ao cinema e deixou escapar vários pormenores.

Mas há alguns momentos em que ele consegue perceber de facto o livro. Este é um deles.

Neste cena há um pequeno pormenor, que a mim prova-me a genialidade da cena. A música que começa no fim do discurso é música do "Shire". De alguma forma Peter Jackson percebe que o "bem" que sustenta Sam é muito concreto: aquele bocadinho de terra, habitado por pequensa e tacanhas criaturas.

"This day we fight"

Claramente os tempos não estão fáceis. No horizonte estão várias batalhas para ser travadas: a defesa da família e do casamento, a eutanásia, a própria liberdade da Igreja estar presente na sociedade em vez de escondida na sacristia.

E as hipóteses, deixem-me que vos digam, não nos sorriem. De cada vez que me lembro disso, lembro-me desta cena de "O Senhor dos Anéis". Um grupo pequeno do que resta de homens livres dispostos a combater, diante de toda a potência do senhor do mundo.

Para nós, tal como para as personagens de Tolkien, a vitória não depende claramente da nossa força. Mas não deixamos de cumprir a nossa parte!



"I see in your eyes the same fear that would take the heart of me.

A day may come when the courage of men fails, when we forsake our friends and break all bonds of fellowship, but it is not this day.

An hour of wolfes and shattered shields, when the age of men comes crushing down! But it is not this day!

THIS DAY WE FIGHT!

By all that you hold dear on this good Earth, I bid you stand, Men of the West!"

Senso Comum

O Cardeal Saraiva Martins afirmou que a homossexualidade não era normal. Explicou esta afirmação citando os Génesis, onde está escrito que o Homem foi feito para a Mulher. Disse ainda que uma criança precisa de uma pai e de um mãe.

Embora sejam duas afirmações claras e de senso comum, os media armaram um escândalo em redor destas declaração, dando espaço de antena a tudo o que se mexe: desde a ILGA até ao grupinho dos 20 católico homossexuais.

Ante de mais, o que mais me têm irritado nas críticas ao Cardeal Saraiva Martins é o argumento de que a Bíblia têm que ser interpretada. Como se o Senhor Cardeal não o soubesse. Como se o Senhor Cardeal não tivesse autoridade para o fazer. Como se a interpretação do Senhor Cardeal não fosse de facto a interpretação que a Igreja têm feito dessa passagem.

Nada me irrita mais do que um qualquer pateta vir tentar dar lições de teologia à um cardeal e ainda por cima ter direito a coluna de opinião em qualquer jornaleco nacional.

Depois não percebo este problema moderno com a palavra "normal". De facto a homossexualidade não é normal. É claro que o a Mulher e o Homem complementam-se. Que foram feitos um para o outro. Não só na sua anatomia, mas também na sua própria maneira de ser.

Por isso, que uma pessoa se sinta atraída por outra do mesmo sexo, então está fora do que é normal. É impressionante como uma pessoa obesa está fora do padrão de normalidade, mas um homossexual não...

Por fim, quanto aos comentários sobre a adopção. Claro que os senhores do lobby gay já apresentaram quinhentos estudos a dizer que é a mesma coisa ter um pai e uma mãe ou dois pais.

Basta olhar-mos à nossa volta, basta olhamos para a nossa vida, para ver como o papel de uma pai é diferente do papel de uma mãe e como este se complementa, exactamente pela diferença que há entre o homem e a mulher.

Nunca me deixa de impressionar que o que mais choca o mundo moderno é o senso comum.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

"De que vale ao homem ganhar o mundo se perder a sua alma?"

Missionário devolve título honorífico ao presidente da Itália

O presbítero Aldo Trento é responsável por uma clínica para doentes terminais


ROMA, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O sacerdote Aldo Trento é, desde 1989, um dos missionários mais conhecidos da Fraternidade de São Carlos Borromeu do Paraguai. Ele tem 62 anos e é responsável por uma clínica para doentes terminais em Assunção.

Em 2 de junho passado, o presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, havia lhe conferido o título de Cavaleiro da Ordem da Estrela da Solidariedade. Nesta quarta-feira, o sacerdote devolveu o reconhecimento a Napolitano, por não ter assinado o decreto que teria detido o protocolo médico para Eluana Englaro.

«Como posso eu, cidadão italiano, receber semelhante honra quando o senhor, com sua intervenção, permite a morte de Eluana, em nome da República Italiana?», pergunta.

«Tenho mais de um caso como o de Eluana Englaro – relata Aldo Trento. Penso no pequeno Víctor, um menino em coma, que aperta os punhos; a única coisa que fazemos é dar-lhe de comer com a sonda. Diante destas situações, como posso reagir frente ao caso de Eluana?»

«Ontem me trouxeram uma menina nua, uma prostituta, em coma, deixada na porta de um hospital; ela se chama Patrícia, tem 19 anos; nós a lavamos e limpamos. E ontem ela começou a mexer os olhos», afirma.

«Celeste tem 11 anos, sofre de leucemia gravíssima, não havia sido tratada nunca; trouxeram-na para mim a fim de que fosse internada. Hoje Celeste caminha. E sorri.»

«Levei ao cemitério mais de 600 destes enfermos. Como se pode aceitar semelhante operação, como a que se fez com Eluana?»

«Cristina é uma menina abandonada em um lixo, é cega, surda, treme quando a beijo, vive com uma sonda, como Eluana. Não reage, só treme, mas pouco a pouco recupera as faculdades», acrescenta.

«Sou padrinho de dezenas destes enfermos. Não me importa sua pele putrefata. O senhor teria que ver com que humildade meus médicos tratam deles.»

Aldo Trento diz experimentar uma «dor imensa» pela história de Eluana Englaro: «É como se me dissessem: agora levaremos embora seus filhos enfermos».

Para o missionário, «o homem não pode se reduzir à questão química».

«Como pode o presidente da República oferecer-me uma estrela à solidariedade no mundo? Assim que recebi a estrela, eu a levei à embaixada italiana no Paraguai.»

«Aqui o racionalismo cai, deixando espaço ao niilismo – comenta. Dizem-nos que uma mulher ainda viva já estaria praticamente morta. Mas então é absurdo também o cemitério e o culto à imortalidade que animam a nossa civilização.»
"Numa companhia vocacional há sempre pessoas, ou momentos de pessoas para quem olhar", don Luigi Giussani

Padre Julián Carrón no Brasil

Membros de Comunhão e Libertação reúnem-se com líder em São Paulo

Despertar os jovens para a beleza e a humanidade, pede Pe. Julián Carrón


SÃO PAULO, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O responsável mundial de Comunhão e Libertação, Pe. Julián Carrón, reuniu-se com 10 mil membros e amigos do movimento eclesial nesse domingo, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

O sacerdote espanhol chamou os jovens presentes a despertar para o gosto ao estudo, ao trabalho e a paixão pela vida.

«O cristianismo se comunica ‘por inveja': uma pessoa vê o outro com a intensidade, com a alegria que todos gostariam de ter. Foi esta febre, esta paixão pela vida, que encontrei em Luigi Giussani (fundador de CL)», disse.

«Ele introduziu em mim um interesse pela minha própria vida. Desde que o encontrei, comecei a amar o meu desejo. Percebi que minha humanidade, em vez de inimiga, era minha aliada para me tornar mais feliz.»

Na sexta-feira, Pe. Carrón havia se encontrado com representantes do mundo educativo e empresarial no Mosteiro de São Bento.

O sacerdote destacou aos presentes a expressão «emergência educativa», ao falar da necessidade de constante incentivo à formação humana.

Pe. Carrón citou o exemplo de monsenhor Giussani, que, em 1954, trocou a carreira de professor universitário para lecionar religião em uma escola estatal de nível médio.

Dom Giussani –afirmou– queria responder aos sinais de desinteresse. «São famosas as histórias que ele andava pela escola com um toca-discos para colocar música clássica para seus alunos ouvirem nas aulas de religião», para despertá-los à beleza e à humanidade.

«A mesma coisa que acontecia com a música, acontecia com a poesia, com a arte, com as excursões que faziam para os Alpes, no norte da Itália, para poder entrar em relação com algo, de tal forma belo, que podia despertar todo o interesse, toda a fascinação que o homem tem.»

«Que uma pessoa possa encontrar alguém que lhe desperte toda a sua humanidade, todo o seu interesse humano, toda a sua capacidade de beleza. Quantas vezes encontramos alguém com quem queremos estar mais de dez minutos?», perguntou.

Pe. Julián Carrón afirmou que o cristianismo «é essa fascinação que nasce deste encontro com alguém que é diferente, que é atraído pela capacidade que tem de fascinar a própria vida».

Prós e Contras

Fui hoje assistir ao vivo ao programa "Prós e Contras". Mais uma vez arrastei-me até Carnide, para ver a Fátima Campos Ferreira a fingir ser moderadora, enquanto galhofava com os senhores do "sim". Agrada-me sempre ver como a dona Fátima só se lembra de mandar não aplaudir quando nós o fazemos. Do lado de lá vêm berros, faltas de educação, apupos. Mas nós temos sempre azar, porque somos a gota que rebenta a barragem. É uma coincidência quase tão grande como o facto de, em todos os programas que assisti desta senhora, foi sempre o lado dito "progressista" que fechou o debate, porque os outros o tinham aberto.

Bem que preparam a armadilha ao Padre Vaz Pinto, que sentado à mesa viu saltar um católico homossexual (pelos visto são mais raros que os católicos abortistas). Esteve muito bem o senhor padre ao não deixar arrastar o debate para um discussão sobre a posição da Igreja em relação à homossexualidade.

Mas passando além da suposta isenção da RTP, impressionaram-me três coisas no debate.

Primeiro foi todos os do "sim" defenderem que a sexualidade é transversal à pessoa, mas ao mesmo tempo falarem como se a pessoa fosse um entidade abstracta independente do corpo. Como se de facto uma pessoa ter nascido com um corpo masculino não tivesse relação alguma com aquilo que ele é enquanto pessoa.

Porque de facto a pessoa é uma só, corpo e espírito. Por isso é que a homossexualidade é um desvio. Sendo claro que o corpo de um homem é complementado pelo da mulher, é também claro que a sua pessoa o é, pois não uma separação entre corpo e espírito. Por isso se alguém se sente atraído sexualmente por uma pessoa do mesmo sexo é um desvio aquilo que ela é enquanto pessoa feminina ou masculina.

Percebo que este ponto é confuso, mas parece-me muito importante. Na ânsia da igualdade, a sociedade começou a tratar o homem e a mulher como se fosse iguais, pensado que assim os dignificava. Mas o homem só é totalmente dignidade no respeito pela identidade sexual da sua pessoa. Só no respeito pela diferença entre sexos, que ao mesmo tempo se complementam, é que podemos de facto dignificar uma pessoa.

É esta confusão moderna, que a filosofia resolveu há séculos, que abre às portas à tratar-se a sexualidade como aparte do género sexual. Num tempo em que o sexo é cada vez mais omnipresente, numa suposta tentativa de o elevar, o mundo moderno rebaixa a sexualidade a uma mistura de hormonas e afectos.

O segundo ponto foi levantado pela Prof. Isabel Moreira, que de dedo esticado para o Padre Vaz Pinto, dizia em tom irado "mas para si eles precisam de perdão". Ideia esta que foi repetida pelo senhor católico homossexual. Não percebo duas coisas: primeiro, que tem Isabel Moreira a ver com o que a Igreja pensa sobre a homossexualidade.

A Igreja afirma que a homossexualidade é pecado, mas ninguém obriga a senhora professora a achar o mesmo. É uma questão que a ela não lhe diz respeito. É engraçado como todos se levantam quando a Igreja dá a sua opinião em assuntos políticos, ao mesmo tempo que é suposto todos puderem atacar as posição religiosas da Igreja.

Mas mais do que isto, não percebo qual é o problema do perdão. A igreja ensina que a homossexualidade é pecado, como ensina que o adultério é pecado, a fornicação é pecado, a mentira é pecado, a gula é pecado. Mas ao mesmo tempo ensina que é preciso distinguir o pecado do pecador.

Para além disso temos a certeza que Deus nos perdoa. Não é o padre Vaz Pinto que perdoa os pecados, mas Cristo por meio dele. E perdoa os homossexuais como me perdoa a mim por outro pecados. Uma pessoa não é menos da Igreja por pecar. A Santa Madre Igreja não expulsa ninguém, as pessoas é que podem escolher afastar-se dela.

Por isso, a mim não me ofende que achem que eu precise de ser perdoado. Muito pelo contrário, alegra-me que haja alguém que me ama tanto que me oferece a possibilidade de ser perdoado dos erros que faço.

Por fim, o último ponto que me impressionou foi a questão da igualdade. O Código Civil não diz que as pessoas são livres para se casarem com quem amam. Diz apenas que duas pessoas de sexo diferente que queiram constituir família através da comunhão de vida podem contrair um contrato, chamado casamento, ao qual o Estado reconhece diversos efeitos. Por isso qualquer pessoa, independentemente da sua orientação sexual, pode-se casar.

Eu, que sou heterossexual, não me posso casar com outro homem. Tal como não me posso casar com a minha irmã ou com mais de uma pessoas. Todos os contratos tipificados têm certos pressuposto que os tornam típicos. Ser entre pessoas de sexo diferente é um dos pressuposto para se preencher a tipicidade deste contrato em específico que é o casamento.

Este são apenas três pontos, muito ficou por dizer. Do debate fiquei com a ideia de uma total intolerância da parte dos defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que apelidaram todos os que se lhes opõem como homofóbicos (isto foi a resposta a uma só voz da plateia à resposta do Dr. António Maria Pinheiro Torres).

Rezemos para que este novo ataque ao casamento e à família não nos leve a dar mais um passo na cultura de morte que parece ser política do PS.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Entrevista ao Cardeal Odilo Scherer, ZENIT

Cardeal Odilo Scherer fala sobre o tema



SÃO PAULO, domingo, 15 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, concedeu entrevista ao departamento de imprensa de sua arquidiocese sobre a questão do levantamento da excomunhão dos quatro bispos lefebvristas.

–Que é mesmo a excomunhão?

–Cardeal Scherer: A excomunhão é a censura mais grave imposta a algum membro da Igreja, por motivos muito sérios, mediante a qual ele é excluído da comunhão dos fiéis, ou seja, do vínculo jurídico-social com a Igreja. É uma pena canônica, que não implica necessariamente na perda do vínculo espiritual com o corpo místico de Cristo, o que só acontece com a negação ou a perda da fé. O Direito Canônico prevê diversos tipos de excomunhão, com efeitos também diversos.

–Por que os quatro bispos “lefebvristas” estavam excomungados?

–Cardeal Scherer: Porque aceitaram a nomeação e a ordenação episcopal, em junho e julho de 1988, sem terem sido escolhidos e nomeados pelo Papa, como prevê a lei da Igreja. Existe uma excomunhão automática, que acontece quando a pessoa mesma se coloca fora da unidade da Igreja, contrariando gravemente a fé e a disciplina da Igreja. Por exemplo, não aceitar o Concílio Vaticano II, ou a autoridade dos papas eleitos de modo legítimo, como aconteceu com os 4 bispos. Nesse caso, a autoridade eclesiástica competente só declara e torna pública a excomunhão.

–Qual foi o efeito da suspensão da excomunhão, no caso dos 4 bispos?

–Cardeal Scherer: Recentemente eles haviam pedido para serem readmitidos à unidade da Igreja, pois queriam ser católicos, e estavam em diálogo sobre isso com o Organismo competente da Santa Sé. Num gesto de acolhida e boa vontade, a Congregação para os Bispos, com a autorização do Papa, “levantou” a pena de excomunhão deles, para abrir a porta ao diálogo. Isso, porém, não significou ainda a superação de todas as dificuldades, nem a plena adesão à unidade da Igreja, como foi noticiado. De fato a excomunhão também foi levantada, tempos atrás, em relação à Igreja ortodoxa e, nem por isso, ela está em comunhão plena com a Igreja católica. Portanto, os 4 bispos “lefebvristas” ainda não estão na unidade plena da Igreja, nem exercem licitamente o ministério episcopal nossa Igreja católica. Isso deve ficar claro.

–Quando pode acontecer a comunhão plena dos 4 bispos em questão?

–Cardeal Scherer: Quando eles aceitarem publicamente e integralmente o Concílio Vaticano II e a legitimidade do Magistério dos papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI. Isso também requer a adesão pública à fé da Igreja católica, o quê ainda não aconteceu; mas existe o diálogo com os interessados sobre as questões ainda abertas, na esperança de que se chegue à superação de todas as dificuldades e à adesão plena à Igreja católica.

–Houve, então, um mal-entendido na divulgação da notícia sobre a reintegração dos “lefebvristas” na Igreja?

–Cardeal Scherer: Certamente houve uma interpretação indevida da “suspensão” da excomunhão, como se isso já tivesse significado a plena reintegração deles na Igreja católica, mesmo sem eles aceitarem integralmente a fé da Igreja e o magistério do Papa. Ainda há passos a dar e, assim esperamos, superadas as dificuldades, possa ser curada mais essa ferida recente no Corpo de Cristo.

–As opiniões de um desses bispos, Dom Williamson, negando na prática a existência do Holocausto, podem ser mais um obstáculo a superar?

–Cardeal Scherer: Sim. Certas declarações do senhor Williamson sobre o Holocausto são absolutamente inaceitáveis, até por negarem uma dolorosa evidência histórica, e porque são ofensivas às vítimas daquele selvagem genocídio e crime contra a humanidade. Como declarou em Nota recente o Secretário de Estado, o colaborador mais próximo do Papa, Bento XVI desconhecia essas opiniões mas, tão logo teve conhecimento, rejeitou-as com firmeza e exigiu do bispo a retratação de maneira pública e inequívoca.


via ZENIT

Casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Parece que vai começar a luta a sério na questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Chamo-lhe assim, não como cedência ao lobby gay que pelos visto usa a mesma expressão, mas porque me parece a forma mais precisa de descrever a questão.

Porque de facto não é o casamento dos homossexuais que está em discussão. Os homossexuais podem casar-se à vontade, tal como têm liberdade para celebrar qualquer contrato, desde que respeita as regras do casamento.

Mas sobre a questão em si, parece-me que existem dois pontos importantes.

O primeira é a homossexualidade em si mesmo. E esta questão é diferente da do casamento. Uma pessoa que tenha tendências homossexuais e as pratique está a cometer um pecado. A prática de actos homossexuais é um erro que ofende a Deus e sobre isto não tenho dúvidas.

Contudo, temos sempre que distinguir o pecado do pecador. Diante do pecado não há tolerância, mas diante do pecador só pode haver caridade. Quanto mais não seja, porque pecadores somos todos.

Mas não é por isto que eu sou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O pecado é da relação do homem com Deus e só deve ter valoração jurídica quando vai contra a vida em sociedade.

Por isso, mesmo sendo pecado, a homossexualidade não é, nem deverá ser, crime ou ilícito. O que cada um faz na sua vida privada (desde que não viole a liberdade dos outros) não diz respeito ao Estado.

Mas o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um assunto diferente da posição moral sobre a homossexualidade.

Até agora a questão sobre este assunto tem sido sempre posta ao contrário. Até agora têm-se perguntado "porque não hão duas pessoas adultas do mesmo sexo poder casar-se?".

Mas do ponto de vista jurídico a questão é claramente feita ao contrário. "Porque razão há o Estado de regular a vida privada de duas pessoas?".

No caso de duas pessoas de sexo diferente que querem viver juntos a sua vida, com comunhão de leito, tecto e mesa isto é claro. Porque esta união é essencial para a sociedade. A sociedade está dependente de haver família. Não só pela continuação da espécie, mas também por causa da educação.

O primeiro lugar onde uma pessoa é educada é na família. É a instituição onde de facto as pessoas mais facilmente crescem de modo saudável.

Claro que há excepções, mas não para elas que o legislador legisla.

Em relação a duas pessoas do mesmo sexo e à relação entre eles, não existe razão nenhum para o Estado a tutelar. O Estado não tem que saber das preferências sexuais de cada um ou do modo como as pessoas decidem viver.

Se dois homens querem viver juntos e partilhar a cama, é um assunto que não diz respeito ao Estado. Assim como não deve proibir, também não deve tutelar.

Nos próximos tempos haverão muitos debates sobre esta questão. Os que estiverem a favor desta ideia tentaram puxar sempre para a emoção e para a perseguição.

Devemos manter a calma, nunca perder a caridade e falar apenas sobre esta questão, sem deixar que eles puxem para questões ao lado.

O Papa e o Holocausto, Nuno Rogeiro, JN, 06/02/09

Falar neste lugar de horror, neste sítio onde se cometeram crimes indizíveis contra Deus e contra o Homem, é quase impossível. E é especialmente difícil e perturbante para um cristão, ainda mais Papa vindo da Alemanha".

Pouco mais de um ano depois do fumo branco que, em Roma, o anunciara nas sandálias de Pedro, o sucessor de João Paulo II falava assim, de mãos e rosto cerrados, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.

Bento XVI foi sempre claro sobre o assunto do genocídio. Referiu, no seu profundo discurso de Auschwitz, a intenção nazi de, ao exterminar os judeus, eliminar a origem do monoteísmo, e recriar o mundo, numa paródia demoníaca da religião. Encimou o preito de dor com uma reflexão pessoal: "isto não nos produz ódio; mostra-nos antes o terrível efeito do ódio".

Parece, pelo menos, injusto, alegar agora, a propósito de declarações soltas de prelados imprudentes, que o Vaticano mudou. E que mudou, sobretudo, de posição face à destruição sistemática de inocentes e civis, em nome da raça, ou de uma ideia política. Como aconteceu nos consulados totalitários, "comunistas" ou "nacionalistas", a Leste e Oeste, na Europa ou na Ásia, na África ou algures, durante o século XX.

A polémica, que recorda a peça de teatro de Rolf Hochtruth, "O representante", de 1963, coloca outra vez em primeiro plano a atitude do Vaticano face ao Holocausto da Segunda Guerra Mundial.Foi nessa altura que se criou a imagem de um Pio XII silencioso, senão cúmplice, com o extermínio de milhões. Mas personalidades esclarecidas, como o jesuíta Robert Graham, entre muitos outros, há vários anos que restauraram o equilíbrio na revisitação histórica.

Não se pode esquecer, na verdade, o enorme esforço de resgate, salvamento, intercessão ou protecção de judeus, um pouco por toda a Europa, por obra da igreja católica. Não se pode esquecer a rede do Padre Weber e do cardeal Pacelli, a actividade da Organização S. Rafael, a intervenção junto da Eslováquia, em 1941, contra a aprovação do "Código Judeu". Nem a actividade do bispo Preysing, em Berlim, de monsenhor Rotta, na Hungria, de Monsenhor Cassulo, na Roménia.
Não se pode esquecer a pastoral corajosa do arcebispo Saliege, de Toulouse, em 1942, denunciando "os factos terríveis" nos campos de Noe e Recebedom, afirmando que "os judeus são nossos irmãos".

Não se pode esquecer o arriscado apoio do Vaticano à organização judaica DELASEM, de Génova. Não se pode esquecer a Encíclica Summi Pontificatus, de 1939, poderosa denúncia das doutrinas de "pureza rácica".

Não se pode esquecer que, onde pôde mudar as coisas, ou influenciá-las, o Vaticano sempre falou. E que, onde se calou (como o fez o Comité da Cruz Vermelha, ou o Conselho Mundial das Igrejas), executou muitas vezes custosas e arriscadas operações, clandestinas, de auxílio e transporte.

Não se pode esquecer, por fim, que uma coisa é a denúncia antes da guerra (quantos o fizeram?), e outra é falar sobre a ocupação, onde o que importa é resgatar vidas, e não pregar sermões exemplares, que, como na Holanda, só aumentaram a repressão.

Não se pode esquecer, ainda, que pelo menos 3000 padres católicos foram executados pelo Reich, só na área do agora Benelux.

E não se pode esquecer que, numa altura de trevas, em que a intolerância surge até das dificuldades da "luta contra o terrorismo", tem sido a Santa Sé uma das vozes qualificadas, em nome da decência e da Humanidade.

Contra todos os holocaustos, alertando antes.

Para que não se repitam.

in JN

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Alienação

Hoje fui sair à noite. Sair à séria, para uma discoteca. Convidado por uns amigos meus fui, de forma entusiástica diga-se, infiltrar-me nesse mundo desconhecido para mim que é o das discotecas.

Não foi de todo a primeira vez que entrei numa discoteca, mas também não precisaria de todos os dedos que possuo para contar as vezes que entrei neste género de local.

Contudo hoje, mais do que de todas as outras vezes, chocou-me lá ir. Não porque as pessoas fossem selvagens, tivessem a drogar-se ou fazer sexo em público. Estavam todos apenas a dançar. Mas as marteladas musicadas ao som dos quais as pessoas se abanavam serviam apenas para alienar. Não alienar apenas das responsabilidades, das chatices, dos problemas, mas alienar de toda a realidade. Toda aquele ambiente estava montado para que ninguém tivesse um pensamento.

Achei aquilo propriamente agonizante. Uma quantidade de pessoas bestializadas, deixando-se arrastar por um ritmo frenético que respondia aos nossos instintos mais básicos.

Quando estava a falar disto com a Teresa ela disse-me para reparar como as pessoas se olhavam. E de facto as pessoas olhavam para as pessoas como se não esperassem nada delas. Estavam ali, davam um abraços, um apertos de mão, dançavam. Mas de facto não estavam em relação com aqueles que tinham diante. Os outros estavam apenas no mesmo espaço.

Mas aquilo que mais me horrorizou foi perceber que também eu sou assim. Não com musica martelada aos ouvidos, porque não sou fã de dançar. Mas sou assim com os livros, os jogos de computador, as conversas infindáveis sobre coisas nenhuma.

E aqueles que hoje vi têm uma razão que eu não tenho. Eles pensam que ninguém lhes prometeu nada. Não esperam nada, porque não sabem que tudo lhes foi prometido.

Mas eu sei que Cristo me prometeu tudo. Que Ele se ofereceu como significado de cada momento da minha vida. Por isso, que aqueles que ali estavam simplesmente a divertir-se não esperem nada daquilo que fazem é natural. Que eu, num só momento que seja da minha vida, não esperar tudo então não estou a ser fiel aquilo que encontrei.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

2 anos.

Faz hoje, dia 11, dois anos sobre o referendo à lei do aborto, que abriu as portas ao PS para legalizar a morte de bebés até as 10 semanas de gestação.

Foi um dia doloroso para todos aqueles, como os escribas deste blog, que participaram na campanha pelo Não ao longo de meses. Mas se nesse dia a batalha política foi perdida, a luta continuou.

Continuou porque para nós o aborto era e é muito mais que uma questão politica. As mulheres em dificuldade são mais do que uma bandeira política, útil para atrair votos.

Para nós o aborto é um flagelo que todos os anos faz milhares de vítimas: bebés que morrem, mães que desesperam, famílias que se separam. Por detrás de cada aborto há um história dramática, de pessoas concretas. E por isso, no que toca ao aborto, a luta é clara. Há que informar e tentar por todos os meios apoiar as mulheres grávidas que estão em dificuldade. Para que ninguém possa dizer que abortou porque não encontrou quem a ajudasse.

Para além disso a luta pelas questões da vida (que é inseparável da defesa da família) não se resume ao aborto. Cada vez mais a dignidade da pessoa humana e da família é atacada: a utilização de embriões em experiências, a eutanásia, o divórcio facilitado, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a imposição de uma educação sexual depravada nas escolas, tudo questões que estão em cima da mesa neste momento.

Por isso é preciso continuar a lutar. Mas também há que recorda a razão porque lutamos, pois de nada vale ao homem ganhar o mundo se perder a sua alma. Lutamos porque amamos a vida, a nossa vida em concreto. Amamos a nossa vida porque nos foi dada por Alguém que nos quer bem. Por isso peçamos que nesta lutamos nos mantenhamos sempre como humildes servos do único que nos pode dar a Vida verdadeira.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Família vs. Estado

Saiu no DN de hoje um artigo que relata um aumento no número de casais não divorciados que procuram o tribunal para resolver questões dos filhos.

Até há revisão do Código Civil de 1966 após a Constituição de 1976, o legislador via o casamento do ponto de vista funcional. O homem tinha certos deveres a mulher tinha outros, tendo em atenção as diferenças entre os sexos, assim como a própria realidade social do casamento.

Assim por exemplo, em última instância o homem decidia o nome do filho, pois era cabeça de casal. A mulher decidiria a escola do filho, pois era ela quem tinha a responsabilidade da sua educação.

Contudo, após a revolução de Abril, o legislador constitucional decidiu tornar inconstitucional (e bem) qualquer discriminação com base no sexo. Os nosso políticos, dominados por um sede de igualitarismo e democratização, acharam por isso que também o casamento devia ser democrático e igualitário.

Claro que isto levou a que nos casos em que os pais não se decidissem sobre os filhos o Estado, através dos Tribunais, pudesse penetrar na intimidade da vida famíliar e decidir o que era melhor para as crianças, sem ter sequer que dar importância à opinião dos pais.

Daí termos chegado a esta situação ridicula, em que pais pedem ao Tribunal que decida o nome dos filhos ou o colégio em que eles devem ser matriculados.

A família é o último reduto contra o poder controlador do Estado. O Estado que decide o que se estuda na escola, o que se come, o que se bebe, nada pode diante da família que educa em liberdade os seus filhos. Por isso é natural que a lei abra todas as portas possíveis para que o Estado domine a família. Cabe às famílias terem a inteligência de as manterem fechadas.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Morreu Eluana Englaro

Morreu hoje a Eluana Englaro.

Comunicado do Vaticano: "Que o Senhor a acolha e perdoe todos os que a conduziram até este ponto".

Para esperar é preciso ter recebido uma grande Graça. Esta Graça é a Fé (d. Giussani).




sábado, fevereiro 07, 2009

Um pai

O Santo Padre decidiu levantar a excomunhão aos quatro Bispos que Monsenhor Lefebvre ordenou para continuar a sua obra na cismática Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Antes de mais convém esclarecer que estes bispos, embora tenham sido ordenados sem autorização do Papa, são bispos, pois foram sagrados por outro bispos. Contudo estavam excomungados e continuam suspensos das suas funções episcopais.

Para além disso, o levantamento das excomunhão destes bispos não fez com que a FSSPX fosse integrada na Igreja. A Santa Sé já deixou claro que esta decisão não marcou o fim do cisma, mas apenas um começo para esse fim.

Mas obviamente que bastou este acontecimento para que os media ficassem em pulvurosa. Rapidamente apareçam notícias e entrevistas a falar do "conservadorismo" de Bento XVI.

A juntar a esta polémica vieram a lume umas declarações de um deste bispos, Dom Richard Williamson a diminuir o número de mortos do Holocausto. Obviamente que a televisão que fez tal entrevista esperou pelo dia em que foram levantadas as excomunhões para transmitir a mesma.

As respostas não se fizeram esperar. O chefe dos rabis de Israel cortou relações com a Santa Sé, a Chanceler alemã acusou o Papa por este não condenar tais declarações, vários bispos progressistas criticaram o Santo Padre e alguns clérigos menos esclarecidos chegaram a falar em resignação.

Os media adoraram esta pequena intriga e montaram uma feira. Nunca tinha visto os nossos jornais falarem tanto sobre a Igreja como neste últimos dias.

Mas nós não nos devemos deixar confundir. O Santo Padre, lembrando a sua Paternidade em relação a estes filhos pródigos, decidiu dar um primeiro passo para que eles voltem a casa. Não se trata de concordar com eles, não se trata voltar atrás, trata-se apenas de caridade de uma pai para com uns filhos orgulhosos.

Mas é óbvio, e sobre isso a Santa Sé foi clara, que para a FSSPX volte a estar em comunhão com a Igreja precisa de reconhecer o Concílio Vaticano II. A caridade não é branquear um erro, é perdoar o erro de quem se arrepende.

O problema da FSSPX é que defende a tradição por si só, sem compreender que a tradição só têm valor quando está em comunhão com o Papa e os bispos. Podem citar todos os tratados teológicos que quiserem, mas enquanto não viverem em comunhão com o Papa, cabeça da Igreja, estão fora da Igreja.

É verdade que do ponto de agenda mediática talvez a decisão do Papa não tenha sido a melhor. Mas como o papel do Papa é converter a almas e não conseguir "boa publicidade" a Igreja, pouco me interessa o que os jornais acham. Eu fiquei contente ao ver, uma vez mais, a grande paternidade e caridade do Santo Padre Bento XVI.

SEMPER FIDELIS!

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Eluana Englaro II

Amigos,


Como saberão, está em curso em Itália o processo para matar Eluana Englaro. Faço-vos um pequeno resumo da situação e um juízo sobre o caso, que nasce do estudo que fiz para a cadeira de Direito Constitucional Europeu, mas sobretudo decorre da constatação de um facto: a vida, a minha e a tua, é um dom misterioso, que não pedimos mas que nos foi dado, e que a seu tempo assume formas e circunstâncias que não prevemos (e isto vale para todos).


A Eluana sofreu um desastre em 1992 e desde essa data que se encontra naquilo a que habitualmente se chama Estado Vegetativo Permanente (EVP). Este conceito, tal como outros, não passa de isso mesmo: de um conceito. É uma construção teórica para definir o estado físico e psicológico de pessoas que se encontram aparentemente afastadas da relação com o mundo exterior, devido a graves lesões cerebrais.


Na prática, Eluana não está ligada a nenhuma máquina para respirar; devido à sua condição precisa unicamente que lhe dêem comida e bebida porque ela sozinha não consegue alimentar-se e hidratar-se. Necessita naturalmente de todos os cuidados de higiene, mas sobretudo, do amor que durante 15 anos lhe foi gratuitamente oferecido pelas freiras da casa de repouso em Lecco (perto de Milão).


Um dia normal na vida de Eluana é igual ao de muita gente: acorda de manhã, passeia, come, bebe, dorme à noite. É mesmo assim. Não está submetida a nenhuma terapia.


Em causa estão portanto dois problemas: o primeiro técnico, o segundo humano.

A nível técnico – que não vos maço muito, prometo! – há que não confundir o conceito de obstinação terapêutica (não tenho a certeza que o nome técnico em português seja este) com o conceito de alimentação e hidratação. São diferentes os casos em que uma pessoa está submetida a duros tratamentos e terapias invasivas que, além de não melhorarem a condição clínica dos pacientes, os colocam ainda numa situação de sofrimento físico. Isto é obstinação terapêutica. E é proibida em muitos países – justamente, a meu ver – e sancionada igualmente pela legislação internacional (vide Carta Europeia dos Direitos Humanos). Não é este o caso de Eluana.

Os juízes italianos assumiram que alimentar e hidratar Eluana equivalia a este conceito. Erraram. Mas mais ainda, colocaram a problemática ao nível do testamento biológico (uma pessoa manifesta a sua vontade em caso de se encontrar numa situação clínica crónica ou terminal), baseando-se em presumíveis testemunhos de familiares e amigos; estes contaram que Eluana era uma pessoa “alegre e viva” (cito uma das sentenças), e que por mais de uma vez terá dito “eu nesse caso preferiria morrer”, estando de boa saúde.


Neste momento Eluana está numa clínica diferente, longe das freiras que muito a amaram durante todos estes anos, e hoje começaram a diminuir a alimentação e a hidratação. Está previsto que nos próximos dias comece a sua agonia que a conduzirá até à morte. Uma morte dura e feia. Vai morrer à fome e à sede.


Faço três considerações finais:


Estamos perante um caso de legitimação legal da morte de uma pessoa inválida. Uma prática legal não é necessariamente uma prática justa.

Matar alguém à fome, ainda que com a autorização de juízes e intelectuais lembra-me inevitavelmente o massacre dos judeus: era tudo legal, estava tudo dentro dos parâmetros.

Se algum dia a minha vida mudar radicalmente e eu ficar num estado em que não seja capaz de vos expressar a minha “vontade”, usem os arquivos deste blog para gritar ao mundo que a minha é vida é minha, e só quero que ma tire quem ma deu. A vida é um mistério, um mistério que precisa de ser vivido para se desvelar um passo, e outro, e outro.


Uma coisa está diante dos nossos olhos, uma única evidência: há um aspecto último da vida que não podemos escamotear, que não podemos reduzir a análises lógicas. Há um aspecto último da vida que é Mistério.


Aquele que me deu a vida, Aquele que me quer aqui e agora, fez-Se carne há 2009 anos, e continua a acompanhar-nos. Durante 15 anos, Cristo esteve presente na vida de Eluana através do amor das freiras que a acudiram; hoje tenho a certeza que Cristo está naquele quarto a sustentar a agonia de Eluana porque Ele não foi poupado à Cruz.


Peço ainda o milagre, mas estou certa que o Pai a acolherá num quarto bem mais luminoso e confortável.


Catas


Ps: O don Pino pediu-nos que rezássemos todos os Angelus nas comunidades pela Eluana, porque “a oração é a nossa comunhão com a alma de Eluana".

Eluana Englaro

Parece que o drama de Eluana Englaro está prestes a conhecer um fim trágico. De há meses para cá que o pai de Eluana, um jovem italiana que há anos que se encontra em estado vegetativo, têm recorrido a todas as instâncias para que seja permito aos médicos cortarem a alimentação e hidratação da sua filha.

A batalha pela vida de Eluana dura há meses, com a Igreja e o Governo italiano a fazerem todos os possíveis para que a jovem não possa ser morta à fome. Do outro lado, o pai e alguns esquerdistas falam em morte digna e têm conseguido apoio dos tribunais.

Obviamente os jornais portugueses têm sido bastante tendenciosos a falar deste assunto, aproveitando para puxar o tema da eutanásia. Mas convém esclarecer desde já um ponto. Aqui não estamos a fala de eutanásia, nem sequer de suicido assistido. A questão não é acabar com o sofrimento de ninguém, ou acabar com uma vida a pedido do próprio. Trata-se simplesmente de matar uma pessoa que não está consciente à fome.

Não digo isto por achar que se fosse eutanásia então já era justo deixar Eluana morrer. Mas porque os nossos jornais têm aproveitado esta história para fazer um campanha "subliminar" por mais um "tema fracturante", abusando claramente do seu papel de informar o público.

Mas voltando ao caso em si. A mim parece-me que antes de todas as questões legais e jurídicas há uma questão moral: a dignidade do homem é imposta pela circunstância ou a vida humana têm um valor em qualquer circunstância? Ou seja, é possível alguém dizer sobre outra pessoa que a sua vida naquelas condições não faz sentido? Para isso era preciso que esse alguém fosse o criador da vida e o seu sentido.

Com que autoridade pode alguém decretar a morte de outro? Acaso somos nós autores da vida, acaso somos resposta para alguém? Não. A resposta para o Homem encontra-se em Deus, que se fez companhia para nós. Nós não buscamos apenas uma resposta ou uma pista de Deus, nós esperamos o próprio Deus.

Por isso, como nos ensina don Giussani, "aquilo que todos os dias para nós seria limite está destina a tornar-se grande, como o olhar de Maria. Maria compreendia que cada condição humana desenvolvia e realizava o desígnio de um Outro. Não o desígnio do nosso coração, mas o desígnio do coração do próprio Deus. Por isso vivereis a vida como um caminho. As dores, tal como a vida, não vos faltará. Mas mesmo quando for cansativo, será a descoberta de um bem verdadeiramente grande."

Por isso nesta hora dramática, onde se joga não só a vida de uma pessoa, mas a própria humanidade de quem está envolvido nesta questão, rezamos para que Deus conceda sabedoria a todos aqueles que neste momento detém poder sobre a vida de Eluana.

P.S.: Sobre assunto vale a pena ler o juízo de Comunhão e Libertação. Disponível aqui.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Yes we can!

O Bom Pastor

Foi hoje a missa de corpo presente do Senhor Dom António dos Reis Rodrigues, Bispo Auxiliar Emérito do Patriarcado de Lisboa. Foi uma missa muito bonito, com muitos dos seus irmãos no episcopado e no sacerdócio presentes, ainda que com pouco povo. A Sé estava composta, mas estava longe de estar cheia.

Há muito para se dizer sobre este santo homem, muito mais do que eu sei ou sou capaz. Confesso que procurei um pouco por todos os cantos "católicos" da net e ainda não encontrei nenhum texto que lhe faça jus. Eu, que só conheci este pastor na sua velhice, também pouco sei dizer.

Relembro só com gratidão a missa do seu 90º aniversário, onde Deus me concedeu a Graça de ficar ao lado do Senhor Dom António, a apoiá-lo quando se levantava e sentava já com grande dificuldade. Nessa altura impressionou-me sobretudo a lucidez e serenidade com que falava. Sempre com grande amor a Deus e fidelidade ao Papa e aos Patriarca.

Dos muitos dados bibliográficos que li, deixo apenas um. Em 1984, quando um grupo de católicos pela vida fizeram uma marcha do Largo do Rato até a São Bento, o Senhor Dom António apareceu, como grande pastor que era, para acompanhar o seu rebanho numa luta que ainda hoje, mas agora já diante do Pastor Eterno, ele acompanha e abençoa.

Que Deus nos mantenha sempre fiéis nesta luta, lembrando e rezando sempre ao Senhor Dom António.

SEMPER FIDELIS!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Bem vindo a Casa!

O problema do PSD.

A vida não corre bem a Dra. Manuela Ferreira Leite. Por uma lado as sondagens persistem em pôr o PSD abaixo do PS, por outro todos os dias os jornais noticiam uma nova critica de um qualquer militante à presidente do partido. Desde do seu antecessor até aqueles que todos os jornais consideram o seu sucessor, todos têm direito um espaço nos jornais (incluindo a nulidade algarvia que dá pelo nome de Mendes Bota).

Para além disso, nada do que a "Dama de Ferro" portuguesa diz parece ter impacto na imprensa. Nenhuma declaração da senhora dura mais do que uma hora nos cabeçalhos dos jornais on-line. Já os telejornais e restante imprensa parecem só reparar nas suas eventuais gaffes.

Enquanto isso o PS do primeiro-ministro Sócrates vai inventado estudos da OCDE aos mesmo tempo que denuncia cabalas negras contra o seu mestre sem que nenhum jornal dê grande importância a tais questões.

Mas aquilo que me espanta é que as pessoas estão de facto convencidas que a falta de oposição à direita se deve a uma qualquer deficiência política da Dra. Manuela Ferreira Leite.

As pessoas parecem não reparar que os jornais estão amestrados pelo governo e raramente mostram ou escrevem qualquer opinião importante da presidente do maior partido da oposição. Em contrapartida, dão todo o tempo de antena necessário à oposição interna.

O povo português pelos visto acha que é suposto um homem, cujo o único feito político foi ter perdido as eleições do partido para a Dra. Manuela Ferreira Leite, merece mais cobertura mediática do que a presidente em funções.

Já os nosso jornalistas acham a escolha do candidato do PSD à Câmara de Olhão é assunto para ocupar várias página de jornais, com um autarca a bater constantemente na líder do PSD.

O problema do PSD não é a Dra. Manuela Ferreira Leite. Aliás, longe de ser o problema, ela pode de facto ser um boa solução. O grande problema do PSD é que a imprensa está dominada pelo PS. Venha quem vier para o PSD será sempre um alvo a abater.

"Mr. Magorium's Wonder Emporium"




Ontem à noite vi o filme "Mr. Magorium's Wonder Emporium". Confesso que ia preparado para, no máximo, achar o filme indiferente. Quando acabei de ver o filme estava bastante surpreendido.

A história do filme é bastante surreal. Mr. Magorium é um inventor de brinquedos com 243 anos e é dono do "Mr. Magorium's Wonder Emporium", uma loja de brinquedos mágica, onde os brinquedos e a própria loja têm vida. Percebendo que está próximo o dia da sua morte Mr. Magorium contrata um contabilista (um "accountant" uma mistura entre um "account" e um "mutant" segundo Mr. Magorium, que daí para diante falará dele chamando-lhe simplesmente mutante) para pôr as suas contas em dia e assim deixar a loja em testamento à sua gerente.

Para perceber este filme é preciso perceber as personagens. O que realmente importa nesta história não são as circunstâncias, mas o modo como cada personagem se coloca diante destas.

Antes de mais temos o Mr. Magorium, um homem que parece viver completamente for do mundo mas que ao mesmo tempo é mais realista do que todos os outros. Impressionou-me sobretudo a sua serenidade perante a morte. No seu último dia de vida a sua herdeira leva-o a passar um dia fantástico, para no fim lhe dizer: "a vida é tão boa, porque razão há de morrer?". A isto Mr. Magorium responde que sabe que a vida é boa, que gostou de muito do dia, mas que simplesmente chegou a sua hora. Dito isto, vai para a sua loja de brinquedos e morre.

A seguir temos Eric, um excêntrico rapaz de nove anos, coleccionador de chapéus e narrador da história. Eric vê as coisas como só as crianças vêm: como elas são. Para ele é simples. Se a loja faz magia é porque é mágica. Para ele não há um dualismo entre o que acontece e a razão. As coisas são como são.

Chegando a um ponto fulcral da história, quando a loja está a venda, Eric vai oferece-se para a comprar. Se bem que o faz de modo infantil, é ao mesmo tempo profundamente realista e razoável. Oferece-se o cheque que a avó lhe deu no Natal, a sua semanada e um percentagem do lucro da loja.

Ainda dentro das personagens surreais temos Molly Mahoney, compositora, gerente da loja e herdeira de Mr. Magorium. Molly é uma personagem curiosa. Se por um lado se espanta com a Loja e reconheça a magia daqueles brinquedos, reduz toda aquela beleza à pessoa do Mr. Magorium. É como se olhasse para aquele velho excêntrico (mas no fundo mais realista que todos os outros) e dissesse: "isto é bonito, mas para ti. Eu não consigo viver isto". Por isso para ela a morte do inventor de brinquedos é como que o fim daquela bonita história. Como se tivesse tido uma tempo de brincadeira, mas agora fosse preciso viver.

Depois do enterro de Mr. Magorium, Eric encontra Molly a tocar piano num hotel para ganhar a vida. Quando ele lhe diz que ela não pode vender a loja, Molly responde simplesmente que têm que ganhar a vida. Que não pode fazer o mesmo que Mr. Magorium porque ele era mágico.

Por fim temos a personagem "séria": Harry Weston, o Mutante responsável por pôr as contas de Mr. Magorium em dia. O Mutante é o protótipo do homem moderno. Posto diante de todos os "milagres" ignora-os. Não o faz de forma consciente. Simplesmente não repara. Não perde cinco segundos a espantar-se com a realidade.

Mas a verdade é que Harry é um bom homem, só lhe falta uma companhia que lhe ajude a ver. Por isso, só quando Eric e Mahoney se tornam seus amigos é que ele começa a reparar na magia da Loja.
Já Mahoney, tambem por causa da presença dos seus amigos, percebe que aquilo que fazia aquela loja espantosa não dependia do Mr. Magorium. A Loja era mágica, o ponto é se ela o reconhecia ou não. É neste ponto que ela percebe que a sua atracção pelo velho inventor de brinquendo não vinha apenas dele, mas daquilo que de que ele era sinal.

De um modo estranho este filme fez-me lembrar os romances de Chesterton, onde nos cenários mais inverosímeis, acontecem os dramas mais realistas. Embora com algumas cedências (mas poucas) ao "new age" vale a pena ver este filme, pois ele conta-nos como o impossível se faz possível através do testemunho de pessoas reais. Não é um método novo, Nosso Senhor já o usa há 2000 anos.