quinta-feira, janeiro 29, 2009

Harry Potter

Acabei de ver que o Padre Peter Fleetwood, que foi o representante do Papa numa conferência de imprensa que marcava um lançamento de um documento sobre o "New Age", declarou em 2003 que não havia mal nenhum em Harry Potter. Disse ainda que J.K.R. era uma escritora cristã.

Confortou-me bastante ler esta noticia do Zenit, pois sempre achei que a saga de Harry Potter valia a pena ser lida. Muito especialmente o sétimo livro.

Os livro de Harry Potter estão claramente mais próximos de "O Senhor dos Anéis" ou das "Crónicas de Narnia" do que da abundante literatura infantil new age que poluem as livrarias. Não digo que se possa pôr J.K. Rowling ao nível de Tolkien ou Lewis, mas percebe-se que ela claramente foi buscar inspiração a este autores.

A magia no mundo de J.K.R. não têm nada a ver com artes místicas ou com sobrenatural. É um dom que se possui ou não. Aliás, é muito marcada nos seus livros que tenta realizar os seus desejos através de "bruxaria" acaba por perder-se.

Em Harry Potter o problema humano não é resolvido com magia. Apesar de toda a magia existe a morte e o sofrimento. Aquilo que sempre me comoveu neste livros foi a humanidade das personagens. Nos primeiros livros os seu problemas banais: as discussões entre amigos, os dramas com a família, os problemas com os professores, as brigas na escola.

Mas conforme os livros foram evoluindo também as personagens o foram. De tal maneira que acabam defrontadas com o drama da morte e perante a escolha entre o bem e o mal. E em todos estes problemas a magia não entra.

Podemos ver em toda a luta contra Lord Voldemort uma companhia humana, cheia de fraquezas e imperfeições que se deixa guiar por Dumbledore. Um homem grande, não pelo seu poder, mas pelo seu perfeito conhecimento da humanidade de cada um. Uma das coisas mais impressionantes deste livro é ver como o director de Hogwarts consegue de facto ver mais longe.

Por fim, o sétimo livro é muito bom. A ideia de todo o livro é a do sacrifício. Contra a ideologia de um "bem maior" apresenta-se o idealismo de luta pelos seus amigos. De tal forma que no momento final a vitória vêm, não da magia, mas do sacrifício de Harry, que dá a vida pelos seus amigos.

Não digo que Harry Potter não tenha defeitos, ou que não possa levar as crianças a acreditar em magia ou a embarcar numa onda "New Age". Mas isso é o risco que se corre ao dar um livro a uma pessoa: que ela não o compreenda.

A mim parece-me que são livros de facto cristãos. Um livro que ensina que acima de todo o poder do mundo, de todo o poder do mal, está a liberdade do homem que pode sempre escolher o bem, vale a pena dar às crianças.

La nuova Aushwitz - Claudi Chieffo



La nuova Auschwitz

Io suonavo il violino ad Auschwitz
mentre morivano gli altri ebrei;
io suonavo il violino ad Auschwitz
mentre uccidevano i fratelli miei. (3x)

Ci dicevano di suonare,
suonare forte e non fermarci mai,
per coprire l’urlo della morte,
suonare forte e non fermarci mai. (3x)

Non è possibile essere come loro. (bis)

Nel mondo nuovo
che ora abbiamo creato
c’è la miseria,
c’è l’odio ed il peccato. (3x)

Ora siamo tornati ad Auschwitz
dove ci è stato fatto tanto male,
ma non è morto il male del mondo
e noi tutti lo possiamo fare. (3x)

Non è difficile essere come loro. (bis)

Ora suono il violino al mondo
mentre muoiono i nuovi ebrei;
ora suono il violino al mondo
mentre uccidono i fratelli miei. (3x)


Eu tocava violino em Auschwitz, enquanto morriam os outros judeus; eu tocava violino em Auschwitz enquanto matavam os meus irmãos. Diziam-nos para tocar, tocar alto e nunca parar, para cobrir o uivo da morte, tocar alto e nunca parar. Não é possível ser como eles. No mundo novo que agora criámos, existe a miséria, existe o ódio e o pecado. Agora voltámos a Auschwitz, onde nos foi feito tanto mal, mas não foi morto o mal do mundo e todos nós podemos fazê-lo. Não é difícil ser como eles. Agora toco violino para o mundo, enquanto morrem os novos hebreus; agora toco violino para o mundo enquanto matam os meus irmãos.

Dia 27 foi o dia da Memória dos Presos do Holocausto. Hoje, como há 54 anos atrás, milhares de "judeus" morrem todos os dias.

Podemos fingir que a barbaridade do regime Nazi foi um caso isolado. Pode tentar arranjar uma explicação razoável para que não se possa comparar a eliminação sistemática de 6 milhões de judeus com o que acontece nos nossos dias. Mas estaríamos apenas a enganarmos-nos.

No nosso tempo todos os dias são mortas pessoas no Darfur, na Birmânia e em tantos outros países do mundo, enquanto nós tocamos violino para podermos fingir que não está a acontecer.

"Defiance" - "Resistentes"



Segunda-feira fui ao cinema ver o filme "Resistentes". Desde da sua estreia que estava curioso com este filme. Nos trailers nunca tinha conseguido percebido bem a história, tendo apenas apanhado que se passava na Segunda Guerra Mundial na Europa do Leste. Fiquei um pouco desapontado com o que vi.

O filme começa por mostrar a invasão nazi da Bielo-Rússia. No meio da perseguição aos judeus, quatros irmão perdem toda a família e fogem para a floresta. Aos poucos e poucos começa-se a formar um grupo de refugiados, que acaba por se transformar numa autêntica comunidade.

O resto do filme narra a história deste grupo na floresta, como conseguem sobreviver, as alianças com os partizans comunistas, a fome, o frio, a doenças e, sobretudo, a perseguição alemã.

Pelo meio vai-se desenrolando uma complexa relação entre os irmão Bielski. Por um lado Tuvia, o irmão mais velho, quer não apenas sobreviver, mas sobreviver como homens. A ele não lhe interessa combater os alemães, sobretudo se isso significar combater sobre as ordens dos russos comunistas, com quem se alia mas em quem não confia.

Do outro lado temo Zus, o segundo irmão. Briguento, lutador, ferido por ser sempre segundo em relação ao irmão. Por tudo isto acaba por se juntar a brigada Outubro, constituída por russos comunistas que luta activamente e barbaramente contra os alemães.

É o terceiro irmão o único que de facto me pareceu humano (o quarto é uma criança, que vai aparecendo). Sempre fiel ao irmão mais velho, Asael é aquele que mantém sempre a esperança.

O filme irritou-me um pouco, antes de mais porque se junta a infinitude de obras que a pretexto do Holocausto explica como os judeus são bonzinhos e sempre foram perseguidos. Não pondo em causa os milhões de judeus mortos na 2ªGM ou os progroms na Rússia do principio do século, existem maneiras de contar a história sem a transforma num exercício de vitimização. Ao longo da história os judeus foram perseguido e perseguiram. Por isso não vale a pena estar sempre a insistir de como o mundo os tratou mal.

A segunda coisa que me irritou foi o herói Tuvia. Embora seja o líder da Brigada Bielski e a inspiração daquele povo escondido na floresta, é uma personagem vazia. Ele só sabe que não quer ser como os alemães ou os comunistas (um desejo bastante justo) mas não sabe o que quer ser. Não sabe o que propor.

Impõem regras para a vida da brigada, para que os fortes protejam os fracos, acolhe todos os que chegam, organiza tudo para que possam sobreviver. Quando é preciso lutar é heróico. Mas só pensa em sobreviver e em não ser um animal. Não luta para nada, não vive para nada, a não ser por uma superioridade moral em relação aos Nazis.

Para mim o que salva o filme é Asael. E salva-o por uma razão muito simples e objectiva: conhece uma rapariga na floresta e casa com ela. Por isso não o move uma questão ideológica como a Tuvia, ou uma revolta social e fraternal como seu irmão Zus, a ele move-o o amor aquela mulher, que acaba por ser também amor pelos irmãos e pelas pessoas que têm diante.

Enquanto Tuvia tem uma relação de comandante diante das pessoas que comanda, Asael têm sempre uma preocupação de pai, com cada um dos que se junta à Brigada Bielski.

O filme prometia ser bom, mas acabou por ser mais um para juntar à longa lista de vitimização judaica com um pouco de curso motivacional pelo meio.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Conversão




Ontem foi dia da Conversão de São Paulo. Neste ano Paulino a Conferência Episcopal Portuguesa quis marcar esta com uma peregrinação nacional a Fátima, onde estiveram presentes 22 bispos, trezentos padres e dezenas de milhares de fiéis. Infelizmente, devido a afazeres vários, não consegui estar presente ontem em Fátima.

A mim este dia diz-me muito, pois foi nesta festa que eu recebi o Crisma das mãos do Senhor Dom Tomás. Desde aí tambem eu já preparei alguns jovens para o Crisma.

Para além disso, ontem foi com alegria que fui à primeira-comunhão de um dos meus primos.

Conto isto, porque ontem dei por mim na missa espantado com a generosidade de Nosso Senhor, que nos concede tantas graças. Ante demais, como ontem relembrava o senhor padre que fez um belíssima homilias, concede-nos a Graça de estar coporalmente presente na Eucarístia. Mas para além da Eucaristia, os seus dons estão presente de maneira objectiva nos Sacramentos que deixou à Igreja.

Celebrar o dia do meu Crisma é fazer memória do dia em que o Espírito Santo desceu sobre mim, tal como desceu sobre os apóstolos no Pentecostes. Na confissão (ontem, para fazer o "pleno sacramental" tambem me confessei) os nossos pecados são perdoados.

Mas para além dos Seus sacramentos deixou-nos uma companhia humana, onde o Seu rosto é visivel. Antes demais, torna-se presente nas famílias cristãs. Ontem ao ver a minha familia reunida para testemunhar a comunhão de um dos mais pequenos, relembreu a gaça que é ter uma família onde a presença de Cristo é visível.

Mas para além da família deixou-nos toda a Igreja. E através das várias gerações de cristãos, Cristo torna-se presente no quotidiano. Dava-me ontem conta, com comoção, como Deus me usou para preparar alguns miudos para o Crisma. Mas isto só é possível por causa da catequista que me preparou a mim. Por isso, de um modo estranho, o Infinito vai-se revelando através de criaturas finitas.

Agradeço muito a Deus pelo dia de ontem. Não que Ele se tenha revelado de maneira mais clara. Ele revela-se todos os dias de maneira clara. Mas ontem, atravé da graça dos Sacramentos e do testunho da Igreja, aconteceu-me o mesmo que a Saulo: os meus olhos abriram-se e eu Vi o Senhor.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Obama e Lincoln versão TVI

Hoje, no jornal da hora de almoço da TVI, um jornalista falava da festa de Obama ontem frente ao memorial de Lincoln.

Depois de alguns minutos apolegéticos sobre Barack Obama, a senhora jornalista acaba a peça dizendo que o presidente eleito escolheu o memorial de Lincoln porque este tinha unificado o país e dado a liberdade aos escravos.

Ora, por muito que a senhora goste de Obama, por muito que ela ache que este vai unificar o país, dizer que e Lincoln unificou a América é um disparate. Não só não unificou, como a sua candidatura fez afastar três estados da União e a sua eleição levou à Guerra da Secessão.

Estes factos não diminuem a grandeza de Abraham Lincoln. Os confederados começaram a guerra não porque tinham um motivo justo contra Lincoln, mas porque queriam manter os escravos. Por isso, ainda bem que foi ele eleito.

Eu não sei o que levou a jornalista a dizer tal disparate. Pode ter sido uma intrepertação livre da história para enaltecer Obama, pode ser simplesmente falta de conhecimento. Contudo, exige-se de um jornalista um pouco mais de atenção com o que diz.

Entrevista a Alice Vieira, Publico 19/01/09

Esta é a segunda greve de professores, este ano lectivo. Em que é que estas acções influenciam a qualidade da escola pública?
Os professores têm um calão muito próprio e gostava que um professor e a senhora ministra da Educação se sentassem e me explicassem o que é que é a avaliação? O que é que os professores têm que fazer? Para eu perceber! Os professores dizem que têm muitas fichas para preencher. Que tipo de fichas? O que é que a ministra quer fazer com aquilo?

Sente que a opinião pública tem as mesmas dificuldades em compreender o que se passa?
A maior parte não compreende e os professores queixam-se disso mesmo. Eu não quero acreditar que o que se passa é como aquela anedota, em que “todos vão com o passo errado e só o meu filho é que vai no passo certo”. O descontentamento é geral e quando 140 mil professores vêm para a rua, é óbvio que devem ter razão, mas não têm toda. A ideia que tenho, desde o princípio é de que a ministra tem razão em querer que os professores sejam avaliados, mas ela não sabe transmitir o que quer.

Isso reflecte-se no modo como as negociações têm sido conduzidas?
Sim, é visível nos vai-e-vem. Agora avalia-se assim e depois já é de outra maneira... As pessoas não sabem muito bem o que é ou não é. A ideia que passa é que os professores não querem trabalhar, que não querem ser avaliados e é fácil veicular essa ideia porque os professores são um grupo complicado.

Porquê?
Porque chegam a uma certa altura da carreira, têm os seus direitos adquiridos e é mais difícil aceitar outras coisas. Chega-se a uma altura em que as pessoas estão cansadas.

Sente isso nas escolas aonde vai?
A primeira coisa que ouço dizer é: “Estou cansada”, “vou-me reformar”, “estou farta disto”, “não me pagam para isto”... É só o que eu ouço.

Mas sempre ouviu esses lamentos ou agudizaram-se nos últimos anos?
Há 30 anos que vou às escolas e ouço-o agora. As leis são iguais para todos, mas há escolas onde dá gosto ver o trabalho que os professores fazem, que estão motivados e a ministra é a mesma! Não é a totalidade das escolas, mas sobretudo nas mais afastadas, nas do interior, encontro gente motivada e a fazer bons trabalhos. Essas escolas nem vêm no ranking das melhores. Também vou a privadas, ligadas à Igreja Católica, às vezes converso com professoras minhas amigas e conto-lhes: “Os alunos entram em fila, ou levantam-se quando eu entro, não fazem barulho...”. E respondem-me: “Está bem, mas isso é nessas escolas”. E eu pergunto: “Mas se está bem para essas escolas, porque é que não está para as outras?!”

A escola pública está a perder qualidade?
Há um desinteresse, um cansaço e depois há o problema da formação. Eu não quero generalizar, mas esta gente mais nova... Qual é a preparação que tem? Converso com professores e é um susto, desde a língua portuguesa tratada de uma maneira desgraçada, até ao desconhecimento de autores que deviam ter a obrigação de conhecer... Sabem muito bem o eduquês, mas passar além disso, é difícil. Muitos professores com que lido têm uma formação muito, muito, muito deficiente. Eles fazem com cada erro, que eu fico doida! E não só falam mal como se queixam diante dos miúdos. Podem dizer mal entre eles, mas não diante dos alunos, que depois reproduzem e a balda vai ser completa. A responsabilização dos professores é fraca, eles não são muito seguros e os alunos sentem que os professores não são seguros.

E por isso há atitudes de indisciplina e de violência?
Por exemplo, as manifestações dos miúdos também me perturbam um bocadinho, porque eles não sabem o que andam ali a fazer. Os miúdos devem aprender a falar bem, para saber reclamar, reivindicar, é uma questão de educação.

Mas nesse caso a culpa não é da escola, pois não?
Também é. Os professores queixam-se muito que têm de ser pai, mãe, assistente social, educadores... Pois têm! Porque a vida dos miúdos é na escola. Em casa não lhes dão as mínimas noções de educação, o simples “obrigada, se faz favor, desculpe”. Quando os alunos vêem os professores na rua, a berrar e a gritar, o que é que eles pensam? Os alunos manifestam-se para exigir melhor ensino? Não. Não os vejo preocupados porque os professores os ensinam mal.

Com alunos e professores na rua, o ano lectivo está perdido?
Não me parece que esteja perdido, se houver bom senso. Não se pode estar a brincar. As pessoas não entendem muito bem que o maior investimento que podem fazer é na educação. Se não tivermos gente educada, a saber, capaz, o que é que vai ser de nós? Estamos a fazer uma geração que não se interessa, não sabe nada, mas berra e grita. E isso perturba-me.

Volto a perguntar, a educação está a perder qualidade?
Eu comecei a ir às escolas há 30 anos, para apresentar o meu primeiro livro “Rosa, minha irmã Rosa” e ía falar com os alunos de 3.º e 4.º anos. Agora vou, exactamente com o mesmo livro falar a alunos dos 7.º e 8.º anos. Alguma coisa está mal. É assustador! Outra coisa assustadora é a utilização da Internet.

Não concorda com o acesso dos mais novos às novas tecnologias?
Estamos a queimar etapas, a atirar computadores para os colos dos miúdos quando não sabem ler nem escrever. Só devia chegar quando tivessem o domínio da língua e da escrita.

E os mais velhos?
Os mais velhos, não sabem utilizar a Internet, não sabem pesquisar, eles clicam, copiam e assinam por baixo. Eu chego a uma escola, vou ver e fizeram 50 trabalhos sobre um livro meu, todos iguais, com os mesmos erros e tudo, porque descarregam da Internet. Pergunto aos professores e respondem-me: “Mas eles tiveram tanto trabalho a procurar...” O professor tem que ensinar a pesquisar. Às vezes, estou a falar com os alunos e tenho a sensação nítida de que não estão a perceber nada do que eu estou a dizer.

Essa sensação é generalizada?
No geral, as crianças têm muitas, muitas dificuldades. E os professores, logo à partida, têm medo que os alunos se cansem e nem tentam! “O quê? Dar isso? Eles não gostam, cansam-se”. Há um medo de cansar os meninos. Desde 1974 que os alunos têm sido muito cobaias da educação. E os professores e os alunos não sabem muito bem o que é que andam a fazer... Aconteceu uma coisa terrível é que tudo tem que ser divertido. Há duas palavras que me põem fora de mim: moderno e lúdico! Tudo tem que ser lúdico, tem de ser divertido, nada pode dar trabalho. Não pode ser!

É preciso mudar a mensagem?
Quando vou às escolas esforço-me imenso por transmitir aos alunos que as coisas dão trabalho. E eles olham para mim como se fosse uma coisa terrível. Há muitas maneiras de se abordar as coisas, mas se os próprios professores passam a mensagem de não querer ter trabalho... Quando vou ao estrangeiro, vejo os professores e penso “se fosse em Portugal, não era assim”. Eles fazem o que for preciso fazer. Cá dizem que não é da sua competência... Isso é complicado.

Disse que as escolas do interior são diferentes das de Lisboa. Essas diferenças não se devem aos públicos que cada escola acolhe?
Sim, os miúdos de Lisboa têm mais solicitações, ao passo que para os de Trás-os-Montes, a ida de um escritor à escola é uma festa! Em Lisboa já não há lisboetas, há miúdos de todas as terras, de todos os países... E porque é que os miúdos da Europa de Leste se destacam nas escolas? Porque vêm de culturas de trabalho e, desde cedo, ouvem dizer que têm quee trabalhar. Com a democracia, as portas abriram-se, a escola deixou de ser de elite e estão todos na escola. Ainda bem! Mas os professores não estavam preparados para isso e admito que é difícil.

Falta-lhes formação?
Eu gostava de saber onde é que os professores são formados! Mas tendo alunos tão diferentes é necessário fazer formação. Porque, coitados dos professores, são deitados às feras! Como se chega aos alunos? Muitas vezes, olho para eles e vejo que não estão a ouvir nada. E eu apanho o melhor da escola, a parte boa, não tenho um programa para dar. Agora, quem está todos os dias na escola, compreendo que seja um stress terrível. A educação é daquelas matérias em que, se calhar, são precisas medidas impopulares, mas necessárias. Na educação nunca se fez um salto, que é necessário, nunca houve um ministro de quem se diga “fez”.

É precisa mais disciplina?
É preciso mais autoridade, o professor não pode fazer nada, não tem autoridade nenhuma. A solução passa por mais interesse e mais disciplina. O gosto pelo que se faz. E o professor tem que sentir esse gosto e passar aos miúdos. A profissão é de risco, de missionário e não de funcionário público na acepção pejurativa da palavra. Não é uma profissão como as outras e não é seguramente a de preencher impressos...

Como é exigido na avaliação?
Voltamos à avaliação! Ela é necessária, todos nós devemos ser avaliados, mas não pelo parceiro do lado ou pelo filho do patrão! Não faço ideia de como é que se avalia, mas na educação existe gente competente, que estudou, e devia ser chamada para dizer como avaliar. Não concordo que sejam avaliados entre eles. Não se pode ser irredutível, quer dum lado [professores] quer do outro [ministério]. As manifestações, no momento a que se chegou, não levam a nada, já vimos que agita, mas não levam a nada.

Parece-lhe que o conflito entre ministério e professores não tem fim à vista?
Os professores estão cansados, o que também é mau, porque aceitar uma situação só porque já se está cansado não é bom. Tem de haver uma solução, senão o ano lectivo perde-se e o culpado não será só um.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Esta Amália não sei quem é!

Fui ver o filme "Amália". Em meu favor devo dizer que não sabia que a família tinha criticado o filme e que ainda por cima fui "coagido".

Não sendo um crítico de cinema, nem sequer percebendo muito do assunto, abstenho-me de comentários técnicos sobre o filme.

Contudo sobre a história do filme devo dizer que achei inacreditável. Seguindo a tradição moderna de fazer filmes sobre a intimidade psicológica de pessoas famosas o filme podia chamar-se "Amália no divã". Toda a história se vai desenrolado sobres três eixos: Amália tem um desgosto familiar/ Amália vai para a cama com o homem errado/ Amália tenta-se suicidar (no filme há pelo menos três tentativas de suícidio).

Não pondo em causa a veracidade destes factos, parece-me que reduzir a vida e obra da grande senhora que foi Amália Rodrigues a isto é simplesmente mau gosto.

A acrescentar a isto, há uma tentativa de reescrever a ideologia da Amália, transformando-a em alguém que estava simplesmente alheia da politica. Isto não merece comentário, pois sabe-se que é simplesmente mentira.

Outras das coisas que me irritou no filme foi terem obliterado o facto de Amália ser católica. E isto é não compreender Amália, é riscar uma parte essencial da sua vida.

Irritou-me muito o filme. Reduziram Amália a uma "estranha forma de vida" sem perceberem que aquilo que de facto a define é o "Foi Deus".

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Baptismo

Ontem foi a festa do Baptismo do Senhor. Durante a missa o Santo Padre fez uma belíssima homilia sobre o baptismo das crianças.

Vale muito a pena ler a homilia, pois cada vez mais se ouvem pessoas a dizer que os pais não devem impor o baptismo às crianças. Que os filhos devem puder escolher a sua fé quando crescerem.

E o pior de tudo é que quando eu oiço estas conversas respondo sempre na defensiva: "é que a nós parece-nos" "para nós católicos" "é que nós acreditamos". Como se isto fosse assunto de mera opinião ou um discussão de possibilidades. Pois não é.

Nós sabemos, temos a certeza absoluta que através do baptismo o neófito é limpo do pecado original, recebe a graça santificante, torna-se membro da Igreja, irmão de Cristo, herdeiro do Céu. Isto não é um assunto de discussão, é um facto que nos é ensinado pela Santa Igreja Católica, através do seu magistério infalível na qual é guiada pelo Espiríto Santo.

Por isso, como pode um pai católico não baptizar um filho? Por acaso não o ensina a falar? Por acaso não o alimenta? Por acaso não lhe incute boas maneiras?

Poque razão pode um pai impor regras de conduta social para o filho que ainda não tem capacidade para escolher, mas não o pode introduzir na Igreja?

Eu até consigo perceber o problema do mundo em relação ao baptismo das crianças. Não são capazes de perceber que aquilo que nós temos de mais querido é o próprio redentor. Que nada é pior do que não viver na Sua Graça.

Mas como pode um católico, como pode alguém cujos os pais tiveram o bom senso de pedir para ele em pequeno a graça do Baptismo, através do qual ele se tornou filho adoptivo de Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo, negar ao seu filho a mesma graça?

Este é provavelmente o maior problema de ser católico nos nosso dias, é que vivemos num mundo que já não é cristão. E às vezes damos por nós as esquecermo-nos daquelas verdade que as velhas beatas repetem em voz baixa na Igreja, tal como a catequista lhe as ensinou as 70 anos atrás!

Por isso, em vez de teorias parvas do mundo moderno, aprendamos a repetir como a Igreja nos ensina:"O Baptismo perdoa o pecado original, todos os pecados pessoais e as penas devidas ao pecado; faz participar na vida divina trinitária mediante a graça santificante, a graça da justificação que incorpora em Cristo e na Igreja; faz participar no sacerdócio de Cristo e constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos; confere as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo. O baptizado pertence para sempre a Cristo: com efeito, é assinalado com o selo indelével de Cristo (carácter)."

sábado, janeiro 10, 2009

"A Man for all Seasons" ("Um Homem para a Eternidade")

Pus os dois vídeos abaixo para que dar a conhecer a alguns e relembrar outros deste magnífico filme. Embora possa ser cansativo, vale sempre a pena rever estas duas cenas da história de São Thomas More.

Não diria que este é uma dos meu filmes preferidos. De facto do ponto de vista do mero entretinimento está longe de ser o meu preferido. Contudo é um dos filmes mais importantes da minha vida.

Foi com este filme que eu aprendi a importância do Direito. De facto o Direito, como método para alcançar justiça, é o que trava a injustiça dos tiranos e protege os homens da opressão dos mais fortes e poderosos.

Basta ver como Cromwel para condenar Thomas More têm que recorrer à mentira, pois usando apenas o Direito não é capaz de condenar um homem inocente.

Mas ao mesmo tempo que este filme nos permite entrar nas questões mais profundas do Direito, dá-nos a conhecer a vida de um grande Santo. De um homem que não quis ser mártir, mas que prefere dar a sua vida a perder a sua alma.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

"A Man for all Seasons" 2



My lords, I wish to call Sir Richard Rich!

Richard Rich, come into court.

Richard Rich!

"l do swear the evidence I'll give before the court shall be the truth the whole truth, and nothing but the truth."

"So help me God," sir.

"So help me God."

Now Rich, on May you were at the Tower?

-I was.

-For what purpose?

I was sent to carry away the prisoner's books.

-Did you talk with the prisoner?

-Yes.

Did you talk of the King's supremacy of the Church?

Yes.

What did you say?

I said to him, "Supposing there were an act of parliament to say that l, Richard Rich, were to be king.Would not you, Master More, take me for king?"

"That I would," he said. "For then you would be king."

Yes?

Then he said, "But I will put you a higher case.How, if there were an act of parliament, to say that God should not be God?"

-This is true and then you said--

-Silence!

Continue.

But then I said, "l will put you a middle case.

"Parliament has made our King Head of the Church. Why will you not accept him?"
Well?

And then he said, "Parliament had not the power to do it."

Repeat the prisoner's words.

He said:"Parliament had not the competence." Or words to that effect.

He denied the title!

He did.

In good faith, Rich, I am sorrier for your perjury than my peril.

-Do you deny this?

-Yes!
You know if I were a man who heeded not the taking of an oath I need not be here.
Now, I will take an oath. If what Master Rich has said is true I pray I may never see God in the face. Which I would not say, were it otherwise, for anything on earth!

-That is not evidence.

-ls it probable...Is it probable that after so long a silence on this the very point so urgently sought of me I should open my mind to such a man as that?

Sir Richard, do you wish to modify your testimony?

No, my lord.

Is there anything you wish to take away from it?

No, my lord.

Have you anything to add?

No, my lord.

-Have you, Sir Thomas?

-To what purpose? I am a dead man. You have your will of me.

Then the witness may withdraw.

There is one question I would like to ask the witness.

That's a chain of office you're wearing. May I see it? The Red Dragon. What's this?

Sir Richard is appointed Attorney General for Wales.

For Wales?
Why Richard, it profits a man nothing to give his soul for the whole world. But for Wales.

My lords! I've done.

The jury will retire and consider the evidence.

Considering the evidence, it shouldn't be necessary for them to retire.
Is it necessary? Then is the prisoner guilty or not guilty?

Guilty, my lord!

Sir Thomas More, you have been found guilty of high treason.

-The sentence of the court--

-My lords! When I was practising the law, the manner was to ask the prisoner before pronouncing sentence, if he had anything to say.

Have you anything to say?

Yes.
Since the court has determined to condemn me God knoweth how, I will now discharge my mind concerning the indictment and the King's title.
The indictment is grounded in an act of parliament which is directly repugnant to the law of God and His Holy Church.
The supreme government of which no temperable person may by any law presume to take upon him.
This was granted by the mouth of our Saviour, Christ Himself to St. Peter and the bishops of Rome whilst He lived and was personally present here on earth.
It is therefore insufficient in law to charge any Christian to obey it.
And more than this the immunity of the Church is promised
both in Magna Carta and in the King's own coronation oath.

Now, we plainly see you are malicious!

Not so.
I am the King's true subject and I pray for him and all the realm.
I do none harm.
I say none harm.
I think none harm.
And if this be not enough to keep a man alive then in good faith, I long not to live.
Nevertheless it is not for the supremacy that you have sought my blood but because I would not bend to the marriage!

You have been found guilty of high treason.
The sentence of the court is that you be taken to the Tower of London until the day hence to the appointment for your execution!



I am commanded by the King to be brief and since I am the King's obedient subject brief I will be.
I die His Majesty's good servant but God's first.
I forgive you, right readily. Be not afraid of your office. You send me to God.

You're very sure of that, Sir Thomas?

He will not refuse one who is so blithe to go to him.



Thomas More's head was stuck on Traitor's Gate for a month.

Then his daughter, Margaret, removed it and kept it 'til her death.

Cromwell was beheaded for high treason five years after More.

The Archbishop was burned at the stake.

The Duke of Norfolk should have been executed for high treason but the King died of syphilis the night before.

Richard Rich became
Chancellor of England and died in his bed.

"A Man for all Seasons"




"Sir Thomas.

Richard?

I fell.

Lady Alice.

-Lady Margaret.

-Good evening.

Do you know William Roper, the younger?

By reputation, of course.

-Good evening, Master....

-Rich.

You've heard of me?

Yes.

In what connection? I don't know what you can have hear.

I sense that I'm not welcome here.

Why Richard? Have you done something to make you not welcome?

Cromwell is asking questions.

About you. He's always asking questions about you and your opinions.

Of whom?

Of him, for one. That's one of his sources.

Of course. That's one of my servants.

All right, Matthew.

Well, you look at me as though I were an enemy.

Why Richard, you're shaking.

Help me.

How?

Employ me.

No.

-Employ me!

-No.

I would be faithful.

You couldn't answer for yourself even so far as tonight.

Arrest him!

-For what?

-He's dangerous!

-Libel. He's a spy!

-That man's bad!

-There's no law against that.

-God's law!

-Then God can arrest him.

-While you talk, he's gone!

Go he should, if he were the Devil, until he broke the law.

-Now you give the Devil benefit of law!

-Yes, what would you do? Cut a road through the law to get after the Devil?

Yes. I'd cut down every law in England
to do that.

And when the last law was down, and the Devil turned on you where would you hide, Roper,the laws all being flat?

This country is planted with laws
from coast to coast, Man's laws, not God's, and if you cut them downand you're just the man to do it do you really think you could stand upright in the wind that would blow then?


Yes.

I give the Devil benefit of law for my own safety's sake. "

São pecisos pais

Li há poucos dias num blog uma notícia do Correio da Manhão sobre um escandalo com presentes de Natal que uma camara municipal ofereceu aos meninos do seu conselho. Os país das crianças estavam chocados pois os rapazes tinha recebido pistolas de seta com um alvo.

Pelos visto os progenitores dos petizes acham que armas de brincar são má influência para as crianças. Parece que por detrás de um pedaço de plástico que atira setas se esconde um potencial criminoso.

Antes demais isto representa o auge do politicamente correcto. Eu sempre brinquei com pistolas de brincar, pistolas de fulminantes, action-mans e nunca me envolvi numa cena de violência. Ainda hoje gosto de conquistar o mundo no Age of Empire (sobretudo de exterminar os espanhóis) mas nunca disparei uma arma, nem tiro aos pratos.

Mas isto é o menos. Sobre as armas de brincar só posso dar o meu testemunho e o dos meus amigos. Não fiz ou li nenhum estudo sobre o assunto e suponho que exista gente bem informada para falar sobre o assunto.

A mim o que me choca nesta notícia é como os país se isentam de responsabilidades em relação aos filhos, ao mesmo tempo que responsabilizam o Estado.

Se os pais não gostam que os filhos tenham pistolas de brincar têm boa solução: deitem-nas fora. Mas é preciso que se perceba que se os pais não educam os filhos, se não escolhem o melhor para eles e por eles quando eles são pequenos e se não lhes indicam o caminho certo quando já são maiorzinhos, então eles serão criminosos, independentemente dos brinquedos. Quem diz criminosos, diz mães adolescentes, diz cábulas, diz drogados.

É aos pais que cabe educar. Dizer o que está certo e o que está errado. Proibir as coisas más e incentivar, ou até mesmo obrigar, as coisas boas.

Quanto ao Estado. É preciso perceber que o Estado só tem que fazer com que as pessoas possam viver felizes em sociedade. Não cabe ao Estado educar, nem governar a vida das pessoas. O Estado não pode obrigar ninguém a ser bom cidadão, pode é prender os criminosos.

São preciso, cada vez mais, pais sem medo de educar.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Terra Santa

A guerra voltou mais uma vez à Terra Santa. Na terra onde Deus se fez homem, raids aéreos voltaram a assombrar as noites e os rockets começaram a cair com mais intensidade.

Diante destes facto é fácil extremar uma posição. É fácil apoiar Israel, com as suas aldeias a sul a serem constantemente alvo dos explosivos do Hamas. Centenas de pessoas normais, não soldados, mortos em atentados suicidas em autocarros, restaurantes, casamentos.

Por outro lado as repostas dos judeus não poupam ninguém. Ao mesmo tempo que matam um terrorista, não se importam em matar quem está à sua volta. Bombardeiam uma sede do Hamas, sem ligar à escola que está ao lado. Controlam completamente as entradas e saídas dos territórios palestinianos, de tal maneira que estão a condenar os palestinianos à miséria.

Mas por outro lado, o Hamas mistura-se com as escolas e hospitais exactamente para servirem de escudos. Mas por outro lado, nem todos os palestinianos (longe disso) são terroristas. Por outro lado há crianças de cinco anos em Israel que viveram sempre ao som dos alarmes anti-rockets. Por outro lado há crianças em Gaza que morreram com os misseis israelitas. E podíamos continuar a puxar razões dos dois lados.

Mas diante deste drama que solução tem o mundo a oferecer. As pessoas dividem-se entre os que apoiam Israel e os que apoiam a Palestina, mas a verdade é que os dois lados têm razões. Por isso como resolver este problema?

"Quem não tem pecado que atire a primeira pedra". Só Cristo pode de facto ser resposta a este problema. Porque Ele introduz uma nova perspectiva. Já não falamos de quem tem razão, mas de misericórdia. E a Paz só é possível com a misericórdia, ou seja, se banirmos todos os cálculos de justiçazinha e medições de razões. "Pai, perda-lhes pois não sabem o que fazem" só este amor pode salvar a Terra Santa e todo o mundo.

Por isso rezemos para que a misericórdia de Cristo ilumine os corações de todos aqueles que agora combatem na Sua terra.

sábado, janeiro 03, 2009

Uma grande alegria.

Amanhã celebra-se a Epifania. Está portanto a acabar o tempo do Natal.

Todos os anos por esta altura ouve-se por todo o lado opiniões de pessoas pesarosas de que já não se dá importância ao Natal, que tudo agora é consumismo. Os Cristão relembram sempre que já não se fala do Menino Jesus neste altura do ano.

A mim esta preocupação parece-me justa. Mas também me parece que perdemos demasiado tempo com ela. Parece-me que, salvo alguma excepções, a maior parte de nós perde mais tempo a criticar o modo como se vive o Natal hoje em dia do que a vivê-lo.

Mas a Igreja, que é mãe e mestra, concede-nos todos os anos a Missa do Galo, que com a sua liturgia construída ao longo de 2000 anos nos ajuda a focar o essencial. "O menino nasceu para nós, um filho nos foi dado".

Por isso eu aquilo que gosto mesmo do Natal, mais do que do presépio, mais do que das luzes, mais do que da festa em família (mesmo numa família cristã) é da Missa do Galo.

Desde o momento em que a imagem do Deus Encarnado entra pela Igreja até ao momento em que Deus se torna presente em corpo e espiríto, toda a liturgia nos faz tornar presente esta novidade: "Hoje em Belém de Judá nasceu para vós um Salvado, que é Cristo Senhor".

sexta-feira, janeiro 02, 2009

"In questa notte splendida" - Claudio Chieffo



In questa notte splendida di luce e di chiaror
il nostro cuore trepida: è nato il Salvator!

Un bimbo piccolissimo le porte ci aprirà
del cielo dell’Altissimo nella Sua Verità

Svegliatevi dal sonno, correte coi pastor:
è notte di miracoli di grazia e di stupor!

Asciuga le tue lacrime, non piangere perchè
Gesù nostro carissimo è nato anche per te.

In questa notte limpida di gloria e di splendor
il nostro cuore trepida: è nato il Salvator!

Gesù nostro carissimo le porte ci aprirà,
il Figlio dell’Altissimo con noi sempre sarà!

"O Natal e a Esperança" - Julián Carrón, la Repubblica, 23/12/08

Caro Director,

As leituras que a Liturgia ambrosiana propõe para a segunda-feira da terceira semana do Advento impressionaram-me. Como se devem ter desconcertado os membros do antigo povo de Israel diante destas palavras do profeta Jeremias: «Devorará as tuas searas e o teu pão; os teus filhos e as tuas filhas; os teus rebanhos e o teu gado; destruirá as tuas cidades fortificadas, nas quais depositas a tua confiança» (Jer 5,17). Estava a anunciar-lhes que uma outra nação estava para derrotar o reino em que tinham posto a sua confiança.» Então, perguntar-se-ão "Porque é que o Senhor Nosso Deus nos tratou desta maneira?" e tu responderás: "Assim como Me abandonastes e servistes os deuses estrangeiros, na vossa própria terra, assim também servireis os estrangeiros numa terra que não é vossa» (Jer 5,19).

É como se isto fosse dito para nós. Hoje vemos sinais que preocupam todos, como se aquilo que sustentou a nossa história não pudesse resistir ao safanão dos tempos. Um dia é a economia, as finanças e o trabalho, no outro a política e a justiça, no outro ainda é a família, o início da vida e o seu fim natural. E assim, tal como o antigo povo de Israel diante de uma situação preocupante, também nós nos perguntamos: «Porque é que acontece tudo isto?». Porque também nós fomos de tal modo presunçosos que pensamos que nos conseguiríamos desembaraçar depois de termos cortado a raiz que sustentava o edifício da nossa civilização. Na verdade, nos últimos séculos, a nossa cultura pensou que podia construir o futuro por si só, abandonando Deus. Agora vemos aonde é que nos está a levar esta pretensão.

Diante de tudo isto que aprontámos, o que é que o Senhor faz? Indica-o o profeta Zacarias, falando ao seu povo Israel: «Eis que mandarei», atenção ao nome, «o Meu servo Rebento» (Zc 3,8). É como se diante da crise de um mundo, o nosso – os profetas usassem para a descrever uma imagem que lhes era muito querida a do tronco seco – despontasse um sinal de esperança. Toda a enormidade do tronco seco não pode evitar que no meio do povo, humilde e frágil, desponte um rebento, no qual está posta a esperança do futuro.

Mas há um inconveniente: também nós, quando vemos aparecer este rebento – como aqueles que estavam diante daquela criança em Nazaré –, podemos dizer escandalizados: «Como é possível que uma coisa assim tão efémera possa ser a resposta à nossa espera de libertação?». De uma realidade assim pequenina como a fé em Jesus pode vir a salvação? Parece-nos impossível que toda a nossa esperança se possa apoiar na pertença a este frágil sinal, e a promessa que só a partir dele se possa reconstruir tudo é motivo de escândalo. No entanto, homens como S. Bento e S. Francisco fizeram exactamente assim: começaram a viver pertencendo àquele rebento que tinha entrado no tempo e no espaço, na Igreja. E tornaram-se protagonistas do povo e da história. Bento não enfrentou zangado o fim do império, não protestou porque o mundo não era cristão, nem se lamentou porque tudo ruía, acusando a imoralidade dos seus contemporâneos. Em vez disso testemunhou à gente do seu tempo uma realização na vida, uma satisfação e uma plenitude que se tornou atraente para muita gente. E foi a aurora de um mundo novo, por mais pequeno que seja – quase nada comparando com o todo, um todo que no entanto desabava por todos os lados –, mas real. Aquele novo início foi de tal modo concreto que a obra de Bento e de Francisco durou nos séculos e transformou a Europa, humanizando-a.

«Ele mostrou-se. Ele pessoalmente», disse Bento XVI falando do Deus connosco. E don Giussani: «Aquele homem de há dois mil anos, esconde-se, torna-se presente, sob a capa, sob o aspecto duma humanidade diferente», num sinal real que desperta o pressentimento daquela vida que todos esperamos para não sucumbir ao nosso mal e aos sinais do nada que avança. É a esperança que nos anuncia o Natal, pela qual gritamos:
«Vinde, Senhor Jesus!».

Obrigado

"Francisco de Borja - Os enigmas do duque jesuíta"




Li antes do Natal o livro "Francisco de Borja - Os enigmas do duque jesuíta" (Tenacitas), um romance histórico que completa a trilogia de Pedro Miguel Lamet sobre os primeiros tempos da Companhia de Jesus (ele é tambem autor de "O Cavaleiro das duas Bandeiras" sobre Santo Inácio e de "Francisco Xavier o aventureiro de Deus").

O livro conta a vida de São Francisco, através das investigações de seu filho João a pedido do Papa. Durante todo o livro ele procura descobrir quem foi realmente o pai: um Duque? Um eremita? Um jesuíta? Um grande de Espanha? Qual destas coisas realmente definia o terceiro Superior a Companhia de Jesus.

Mas ao mesmo tempo que conta a vida do seu pai, vai contando a história da Europa no século XVI. As relações entre as cortes, a vida em Espanha, as lutas contra os turcos. E conta-a de uma forma verdadeiramente cristã: compreendendo e expond as fraqueza da carne, mas exaltando a grandeza do espiríto.

E assim se tornam humanos os Papas Borja (ou Borgia na versão italiana), assim se compreende Carlos V, assim se explica de maneira justa a inquisição. Neste livro não há aquela superioridade moralista da maior parte dos autores de romances históricos, que parecem incapazes de compreender que os grande homens também pecam.

E assim vamos conhecendo São Francisco. E percebemos o que ele era. Mais que um Duque, mais que um nobre, mais que um padre, mais que um jesuíta: um Santo. Um homem que diante dos grandes e poderosos ou dos pobres e pequeninos, era sempre definido pela sua pertença a Cristo.

É uma livro que vale a pena ler, não só para conhecer este grande santo da Igreja, mas para compreender uma altura da história que os escritores contemporâneos gostam imolar no altar do politicamente correcto.