quinta-feira, janeiro 31, 2008

Canção de Embalar - Zeca Afonso



Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer


Como diria o pai de uma amiga minha, o tipo era um "ganda" comunista, mas era mais muito mais bom cantor do que era comunista...

Novo Bispo em Lisboa

"Bento XVI nomeou Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa D. Joaquim Augusto da Silva Mendes, de 59 anos, até agora Director da Escola Salesiana de Manique."
Agência Ecclesia


Rezemos pelo nosso novo pastor a Deus Nosso Senhor, para que Ele lhe conceda forças na sua nova missão e seja para todos nós testemunho real da presença de Cristo.

Semper Fidelis!

O Rei morreu, viva os assasinos!

Diz o DN de hoje que o Ministro da Defesa proibiu a participação das Forças Armadas nas celebrações do centenário do regícidio. Justifica o ministro esta decisão pelo facto de as celebrações revestirem um cariz político particular.

Este é mais um acto de cobardia do governo e de demonstração de falta de maturidae politica do Estado Republicano. Parece que, para se ser republicano, não se pode condenar o regicidio ou o 5 de Outubro.

Mas a verdade é que o regícidio foi um acto de terrorismo político, levado a cabo por organizações secretas (Carbonária e Maçonaria) contra o legítimo Chefe de Estado de Portugal e a sua família. Foi uma acto de cobardia e de vergonha: homem armados, aramados e preparados por organizações terroristas, abateram o Rei Dom Carlos e o seu filho mais velho, equanto eles seguiam com a restante familia numa carruagem descoberta.

A incapacidade do Estado Republicano em condenar esta acontecimento, é a prova de que, mesmo passado cem anos, ainda não conseguem separar diferenças ideológicas dos meios usados para afirmar a républica.

Um assasínio raramente é legitimo. O assasínio de um chefe de estado só é compreensível se ele for um tirano sanguinário que oprime e persegue o povo. Não era o caso. Por isso, mesmo numa républica, o assasinio de um rei legítimo deve ser condenado pelo Estado.

Quem tácitamente aprova actos de terrorismo, especialmente actos de terrorismo apadrinhados por organizações que ainda hoje existem, está a habilitar-se a que lhe aconteça o mesmo...

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Haja saúde!

Li agora num blog que ontem, no Prós e Contras, a professora Fátima Bonifácio terá dito qualquer coisa como "não vale a deixar de comer tripas para viver mais uns dias". Esta frase lembrou-me uma conversa que tive hoje, enquanto passeava por Belém.

Está a criar-se entre nós um mito da "vida saudável", de como para se ser feliz é necessários comer saudavelmente, não fumar e beber chá verde ou qualquer tisana oriental sucedânea. Os ginásios estão cada vez mais cheios e pululam por aí os restaurantes de comida saudável, com saladas cada vez mais exóticas e produtos cada vez mais carregados de coisas que nós nunca ouvimos falar, mas que são essenciais para a nossa saúde. O corpo passou a ser uma obsessão!

Ora eu, obeso, fumador e amante da boa mesa, confesso que não me revejo neste mitos. Parece-me importante que se cuide da saúda, como é evidente, mas tal como a professora Fátima Bonifácio prefiro uma boa feijoada a adiar mais umas horas o encontro com o Senhor.

Temos o dever de cuidar da nossa saúde, mas não de viver para ela. A morte não é nossa inimiga, por isso não vejo necessidade de adiá-la o mais possível, privando-me assim de uma vida agradável.

Numa sociedade sem Deus, é preciso acreditar que somos donos do nosso destino. Ter a aparência de um semi-deus grego parece equivaler ao ideal de realização moderna: sexo, fama e dinheiro. O que é preciso é "saúde", ouvimos nós todos os dias.

Pois eu não quero viver para sempre, nem sequer tenho o arrojo de me considerar dono da minha vida. Por isso tento preservar a saúde que Deus me concedeu, mas prefiro gastar parte dela à semelhança do meu Senhor, em jantaradas com os meu amigos, sinal da Sua presença na minha vida, a preservá-la sozinho no ginásio agarrado ao meu i-pod!

domingo, janeiro 20, 2008

I am a rock - Simon & Garfunkel



A winters day
In a deep and dark december;
I am alone,
Gazing from my window to the streets below
On a freshly fallen silent shroud of snow.
I am a rock,
I am an island.
Ive built walls,
A fortress deep and mighty,
That none may penetrate.
I have no need of friendship; friendship causes pain.
Its laughter and its loving I disdain.
I am a rock,
I am an island.

Dont talk of love,
But Ive heard the words before;
Its sleeping in my memory.
I wont disturb the slumber of feelings that have died.
If I never loved I never would have cried.
I am a rock,
I am an island.

I have my books
And my poetry to protect me;
I am shielded in my armor,
Hiding in my room, safe within my womb.
I touch no one and no one touches me.
I am a rock,
I am an island.

And a rock feels no pain;
And an island never cries.


Só se magoa, que se empenha com a vida. Quem passa a vida como mero espectador, não se magoa, são sofre. Contudo, também não vive!

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Semper Fidelis!

STUDENTI CIELLINI: «IMBAVAGLIATI» - Ma gli studenti dei collettivi che nei giorni scorsi hanno protestato contro l'intervento del Papa non sono i soli a manifestare. I giovani che fanno capo al gruppo di destra Azione universitaria si sono riuniti a piazza della Minerva inneggiando cori contro rettore e ministro dell'Istruzione e elevando striscioni con le scritte «Mussi buffone giù dal seggiolone», «Mussi vergogna, vergogna. Guerini dimissioni, dimissioni», «Il Papa se ne va i baroni restano». Gli studenti di Comunione e Liberazione si sono presentati imbavagliati durante la cerimonia di inaugurazione dell'Anno Accademico. «Il senso della nostra protesta è chiaro, ci hanno imbavagliato e non ci hanno permesso di parlare» ha detto uno degli studenti ciellini. «La rinuncia del Papa è un attacco alla laicità dello Stato, perchè uno Stato laico deve garantire la sicurezza e il diritto di parola ad un rappresentante di uno Stato estero - ha continuato Matteo Fanelli - la protesta è stata costruita su una menzogna, su una frase ad effetto su Galileo che non è vera. Non solo gruppi cattolici ma molti studenti normali sono indignati per questo fatto che è di una gravità inaudita».

Ainda sobre La Sapienza.

Ainda sobre a não-visita do Papa à Universidade La Sapienza vale a pena ler:

- O discurso que o Papa ia fazer, disponível na Radio Vaticano.

- O juizo dos universitários de Comunhão e Libertação da Universidade de La Sapienze, disponível no site internacional de Comunhão e Libertação, que anteontem acolheram o Papa na audiência geral com gritos de "Liberdade, liberdade".

- Esta notícia e esta do Zenit.

- O artigo de José Manuel Fernandes sobre o assunto disponível nos Incontinentes Verbais.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Comunicado de Imprensa de Comunhão e Libertação

Foi possível aos Papas falarem em todos os lugares do mundo (Cuba, Nicarágua, Turquia, etc.). O único lugar lugar onde o Papa não pode fala é La Sapienza, a Universidade fundada, no fim de contas, por um Papa.
Isto trouxe ao de cima dois factos extremamente graves:

1)A incapacidade do Governo Italiano de garantir o direito de expressão em território Italiano de Chefe de Estado estrangeiro, Bispo de Roma, e guia espiritual de um bilião de pessoas. Por outro lado, pequenos grupos encontram apoio inclusivamente institucional para impedir a vasta maioria espera e deseja.

2)A ruína cultural da universidade italiana que torna possível para um ateneu como La Sapienza transformar-se num esgoto ideológico.

Como cidadãos e como Católicos estamos indignados com o que aconteceu e muito tristes por Bento XVI, ao qual nos sentimos ainda mais unidos, sabendo-o defensor – em virtude da sua fé – da razão e da liberdade.

Gabinete de Imprensa de Comunhão e Libertação, 15 de Janeiro de 2008

La sapienza?

Sobre os incidentes que impediram o Papa de visitar a Universidade La Sapienza foram já escritas coisas muitos boas e importantes, que iremos tentar publicar. Contudo houve uma coisa que a mim me tocou especialmente nesta "vergonha" para todos os universitários: é que uma quantidade de universitários, de gente que estuda, que investiga, que lê se tenha deixado levar por uma citação descontextualizada.

Somos cada vez a geração do "Toda a gente sabe" e do que "Está mais que cientificamente provado". Uma geração cujo o conhecimento começa no Google e acaba nos blog's. Nenhum daqueles que se manifestou contra a ida de Sua Santidade a uma universidade fundada por um seu predecessor se deu ao trabalho de ir ler o discurso citado, limitou-se a aceitar como dada definitivo um panfleto distribuído na Universidade.

E assim a Universidade se vai tornando num lugar de alienação e não de conhecimento. Este é resultado de décadas de ensino laico, baseado em ideologias, mais ocupado em provar pontos de vista do que em descobrir a Verdade.

A Universidade deixou de ser o local onde os mestres ensinam os alunos e passou um viveiro técnicos opinativos, que nunca leram nada mais do que as páginas estritamente necessárias para passar o ano!

Dia da Família Cristã

No passado dia 30 de Dezembro, na Plaza Colón, em Madrid, centenas de milhares de pessoas (um milhão e meio de pessoas segundo os organizadores) participaram no encontro "Por la familia cristiana" presidido pelo cardeal de Madrid, Rouco Varela e que contou com uma mensagem especial de Bento XVI no decorrer do Angelus ao meio dia a partir da praça de S. Pedro.

A estranheza da enorme adesão é comentada neste artigo pelo padre Julián Carrón, presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação, publicado no jornal El Mundo de sábado passado.





«O estranho facto de uma celebração pela família

Julián Carrón

Estamos perante um facto estranho. Indiscutível. A convocatória para a celebração deste domingo na Plaza Colón de Madrid suscitou um movimento de adesão em muitíssimas pessoas que quiseram reunir-se gozosas para expressar publicamente o bem que significa para eles a família. Não deveríamos menosprezar esta resposta.

Desde há décadas que continuamente recebemos mensagens que vão na direcção oposta: muitas séries de televisão, filmes e muita literatura convidam ao contrário. Ante esse impressionante emprego de meios, o normal seria que a família tivesse deixado de interessar. Porém, há algo que temos que reconhecer quase surpreendidos: essa impressionante maquinaria não mostrou ser mais potente que a experiência elementar que cada um de nós viveu na sua família, a experiência de um bem. Um bem de que estamos agradecidos e que queremos transmitir a nossos filhos e partilhar.

De onde nasceu este bem do qual estamos tão agradecidos? Da experiência cristão. Nem sempre foi assim, como testemunha a reacção dos discípulos a primeira vez que ouviram Jesus falar do matrimónio. " E aproximaram-se d'Ele alguns fariseus para o porem à prova, dizendo: "É lícito a um homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?". E, respondendo, Ele disse: "Não lestes que, no princípio, aquele que os criou os fez homem e mulher?". E acrescentou: "Por esta razão o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne. Por conseguinte, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu nenhum homem pode separar". Os discípulos disseram: " Se é assim a relação do homem com a mulher, não convém casar-se (Mt 19, 3-6,10).

Não temos, pois, que nos surpreender.

O mesmo que a tantos de nossos contemporâneos e muitas vezes mesmo a nós próprios, aos discípulos também lhes parecia impossível. Só a graça de Jesus Cristo tornou possível viver a natureza original da relação entre homem e mulher.

É importante olhar para esta origem para poder responder aos desafios que temos que enfrentar. Os católicos não são diferentes dos outros; muitos de nós temos problemas na vida familiar.

Constatamos com dor como entre nós há numerosos amigos que não perseveram perante as numerosas dificuldades externas e internas que atravessam. Mesmo entre nós não nos basta saber a verdadeira doutrina sobre o matrimónio para poder resistir a todas as tentações da vida. Recorda-nos o Papa: "As boas estruturas ajudas, mas por si sós não bastam. O homem nunca pode ser redimido somente a partir do exterior (Spe Salvi, 25).

Necessitamos fazer nosso o que recebemos para poder vivê-lo na nova situação que se nos depara, como nos convida Goethe: "O que herdaste dos teus antepassados/deves reconquistá-lo de novo/para verdadeiramente o possuir".

Para reconquistar de novo a experiência da família necessitamos aprender que "a questão da justa relação entre o homem e a mulher funde as suas raízes na essência mais profunda do ser humano e só pode encontrar a sua resposta a partir desta", como disse Bento XVI. Com efeito, a pessoa amada revela-nos o "mistério eterno do nosso ser".

Nada nos desperta tanto e nos faz tão conscientes do desejo de felicidade que nos constitui como o ser querido. A sua presença é um bem tão grande que nos faz cair na conta da profundidade e verdadeira dimensão deste desejo: um desejo infinito. As palavras de Cesare Pavese sobre o prazer podem aplicar-se à relação amorosa: "O que um homem busca no prazer é um infinito, e ninguém jamais renunciaria à esperança de conseguir esta infinitude". Um eu e um tu limitados suscitam-se reciprocamente um desejo infinito e descobrem-se lançados pelo seu amor a um destino infinito. Nesta experiência desvela-se a ambos a sua vocação.

Por isso os poetas viram na formosura da mulher um "raio divino", quer dizer, um sinal que remete mais além, para outra coisa maior, divina, incomensurável em realação à sua natureza limitada. A sua beleza grita ante nós: "Não sou eu. Eu sou só um sinal. Olha! Olha! Quem te recordo?". Com estas palavras o génio de C. S. Lewis sintetizou a dinâmica do sinal da qual a relação entre o homem e a mulher constitui um exemplo comovedor. Se não compreende tla dinâmica, o homem sucumbe ao erro de deter-se na realidade que suscitou o desejo. Então a relação acaba por tornar-se insuportável.

Como dizia Rilke, "este é o paradoxo do amor entre o homem e a mulher: dois infinitos encontram-se com dois limites. Dois infinitamente necessitados de ser amados, encontram-se com duas frágeis e limitadas capacidades de amar. E é só no horizonte de um amor maior que não se devoram em pretensão, nem se resignam, antes caminham juntos até uma plenitude da qual o outro é sinal".

Nesta situação pode-se compreender a proposta inaudita de Jesus para que a mais bela experiência da vida, enamorar-se, não decaia até se converter numa pretensão sufocante. "Quem ama a seu pai e sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; o que ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á; aquele que a perder por minha causa, reencontrá-la-á" (Mt 10, 34-37, 39-40). Com estas palavras Jesus desvela o alcance da esperança que a sua pessoa constitui para quem o deixa entrar na sua vida. Não se trata de uma ingerência nas relações mais íntimas, mas da maior promessa que o homem alguma vez pôde receber: sem amar a Cristo – a Beleza feita carne – mais do que à pessoa amada essa relação murchará. Ele é a verdade dessa relação, a plenitude a que os dois mutuamente se remetem na qual a sua relação se cumpre. Só permitindo-Lhe entrar nela é possível que a mais bela relação da vida não decaia e, com o tempo, morra. Nós sabemos bem que todo o ímpeo com que nos enamoramos não basta para impedir que o amor se oxide com o tempo. Tal é a audácia da sua pretensão.

Aparece então em toda a sua importância a tarefa da comunidade cristã: favorecer uma experiência de cristianismo para a plenitude da vida de cada um. Só no âmbito desta relação maior é possível não ser devorado, porque cada um encontra nela o seu cumprimento humano, surpreendendo em si uma capacidade de abraçar o outro na sua diferença, de gratuidade sem limites, de perdão sempre novo. Sem comunidades cristãs capazes de acompanhar e sustentar os esposos na sua aventura será difícil, se não impossível que a culminem com êxito. Eles, por sua vez, não se podem eximir do trabalho de uma educação da qual são os protagonistas principais, pensando que pertencer à comunidade eclesial os livra das dificuldades. Deste modo desvela-se plenamente a vocação matrimonial: caminhar juntos até ao único que pode responder à sede de felicidade que o outro desperta constantemente em mim, até Cristo.

Assim se evitará ir, como a Samaritana, de marido em marido (Jo 4, 18), sem conseguir apagar a sua sede. A consciência da sua incapacidade para resolver por si mesma aquele drama, nem sequer mudando cinco vezes de marido, fê-la perceber a Jesus como um bem tão desejável que não pode evitar gritar: "Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede (Jo 4,15).

Sem a experiência de plenitude humana que faz possível Cristo, o ideal cristão do matrimónio reduz-se a algo impossível de realizar. A indissolubilidade do matrimónio e a eternidade do amor aparecem como quimeras inalcançáveis. Estas, na realidade, são os frutos de uma intensidade da experiência de Cristo, tão gratuitos que aparecem aos mesmos esposos como uma surpresa, como o testemunho de que "para Deus nada é impossível". Só uma experiência assim pode mostrar a racionalidade da fé cristã, como uma realidade totalmente correspondente ao desejo e à exigência do homem, também no matrimónio e na família.

Uma relação vivida assim constitui a melhor proposta educativa para os filhos. Através da beleza da relação de seus pais são introduzidos, quase por osmose, no significado da existência. Na estabilidade dessa relação a sua razão e a sua liberdade são constantemente solicitadas a não perder semelhante beleza. É a mesma beleza, resplandecente no testemunho dos esposos cristãos, que os homens e mulheres do nosso tempo necessitam de encontrar»


via Povo

2008 mais puro!

Desde o primeiro dia deste ano que se instalou em Portugal uma guerra total ao tabaco. Ao olhar para a nova lei que entrou em vigor dia 1 pergunta-se como foi possível sobreviver até agora com a total permissão do Estado para os fumadores espalharem por esse país fora os malefícios do tabaco...

Finalmente o Estado decidiu acabar com a impunidade das tabaqueiras, que tinham o desplante de, inclusivamente, fazer publicidade aos seus produtos. Graças a Deus que agora a lei proíbe qualquer publicidade ao tabaco, assim como revistas sobre o tema (a não ser que sejam para profissionais do ramo). Já para não falar desse perigo para a saúde pública que eram os cigarros de chocolate (também proibidos por esta lei).

Agora já se pode finalmente entrar em cafés livres de cães, bactérias e fumadores! Mas mesmo aqui o Estado fraquejou, porque em vez de dar aos fumadores o destino das bactérias, denegriu os cães ao obrigá-los a ficar ao lado dos fumadores na rua!

Mas sobretudo, agora já podemos entrar nos apertados Centros Comerciais, Aeroportos ou gares ferróviarias e respirar o ar puro, em vez do fumo dos cigarros. Para além disso os velhinhos nos lares, agarrados às cadeiras de rodas, já não podem fumar, aumentado assim exponencialmente a sua esperança de vida!

Mas os verdadeiros beneficiados com esta lei são os presos. É que antes desta lei, não lhes bastava estarem confinados à cela ainda tinham que aturar com o cheiro a tabaco. A partir do primeiro dia de 2008, já podem ficar sossegados, nas suas grandes celas arejadas e livres de mau cheiros (a não ser que um companheiro de cela por acaso tenha decidido preparar lá a sua "dose").

Resumindo, 2008 é um ano cheio de esperança: finalmente os fumadores, esses infames, foram postos no seu lugar, que é a rua e os bons cidadão vão poder respirar agora o ar puro dos Centros Comerciais, das estações rodoviárias e de todas as tascas deste país!

COMO A IGREJA CRIOU A EUROPA


João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Como os debates da Constituição Europeia e Tratado de Lisboa mostram, a Europa vive uma grave crise de identidade. A origem profunda está num antigo mito que o volume A Vitória da Razão (Random House, 2006; Tribuna da História, 2007) do grande sociológico da religião Rodney Stark se esforça por destroçar. O subtítulo indica-o claramente: "Como o Cristianismo gerou a liberdade, os direitos do homem, o capitalismo e o milagre económico no Ocidente."
Esta ideia não surpreende. Dado que a Europa criou os valores da sociedade moderna e é uma zona cristã, seria muito estranho não existir uma relação estreita entre esta origem e aqueles efeitos. Apesar disso é preciso afirmá--lo, porque segundo a tese comum, a Igreja manteve o continente na obscuridade e miséria durante séculos até que a emancipação, com o Humanismo e Iluminismo, permitiu a ciência, liberdade e prosperidade actuais. Esta visão, divulgada por discursos, livros de escola e tratados de História, é simplesmente falsa.
Pelo contrário, a Igreja Católica, vencendo o paganismo obscurantista e civilizando os bárbaros, foi uma poderosa força dinâmica, estabelecendo os valores de tolerância, caridade e progresso que criaram a sociedade contemporânea. A Idade Média, conhecida como "Idade das Trevas", foi uma das épocas de maior de-senvolvimento e criatividade técnica, artística e institucional da História.
Os filósofos humanistas e iluministas posteriores repetiram, em boa medida, ideias medievais. Esta tese está longe de ser original (ver, por exemplo R. Pernoud, 1979, Pour en Finir avec le Moyen Age, Ed. du Seuil; S. Jaki, 2000, The Savior of Science, William B Eerdmans Pub. Co; T. Woods, 2005, How the Catholic Church Built Western Civilization, Regnery Pub.), mas continua oculta debaixo do persistente mito.As razões desse engano são muito curiosas. Como explica Stark, todas as ditaduras exploram o povo para criar obras grandiosas à magnificência dos tiranos. Foi assim Roma e os reinos orientais. Destroçado o despotismo com a queda do império, a Cristandade gerou um surto de criatividade prática, pois as populações não temiam a pilhagem dos ditadores. Assim as realizações da Idade Média resultaram em melhorias da vida das aldeias, não em monumentos que os renascentistas poderiam admirar. Por isso esses intelectuais posteriores, nos seus gabinetes, desprezaram uma época sem mausoléus, enquanto louvavam as tiranias de que só conheciam a arquitectura e erudição.
Os avanços conseguidos na chamada Idade das Trevas são impressionantes, todos dirigidos a melhorar a vida concreta (op. cit. c. II): ferraduras, arado, óculos, aquacultura, afolhamento trienal, chaminé, relógio, carrinho de mão, etc. A notação musical, arquitectura gótica, tintas a óleo, soneto, universidade, além das bases da ciência, a separação Igreja-Estado e a liberdade dos escravos (c. III) são também criações medievais. Em todos estes avanços, e muitos outros, têm papel decisivo mosteiros, conventos e escolas da catedral, bem como a confiança da teologia cristã no progresso, contrária à de outras culturas.
Mais influente, nos séculos XI e XII em Itália nasceu o capitalismo (c. IV), sistema que suporta o desenvolvimento, e que tantos ainda julgam ter origem oitocentista e protestante. A prosperidade mercantil e bancária então conseguida gerou verdadeiras multinacionais que promoviam a manufactura e comércio na Europa saída do feudalismo. Depois a peste negra, a guerra e os déspotas iluminados, retornando à pilhagem clássica, destruíram esse florescimento e levaram os filósofos tardios a pensar ter descoberto o que os antepassados praticavam.
Nessa reconstrução perderam-se alguns elementos centrais da versão católica inicial. Por exemplo, no século XII, "cada vez que faziam ou reviam um orçamento era criado, com algum capital da empresa, um fundo para os pobres. Estes fundos aparecem registados em nome 'do nosso bom Senhor Deus' (...) quando uma empresa era liquidada, os pobres eram sempre incluídos entre os credores" (p.167).
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in Diário de Notícias, 14.01.2007
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Obrigado pela clareza do juizo, Senhor Professor.

sábado, janeiro 05, 2008

"Lions for Lambs"




Passei boa parte da noite de hoje a comentar com os meus amigos o filme "Lions for Lambs". Eu tenho um grande problema em relações aos filmes, problema esse bastante habitual, que é a tentação de cair numa divisão entre "bons" e "maus".

Esta tentação não é de todo injustificada. Há de facto filmes que são realmente bons (como por exemplo "Ordret" ou "Apocalypto") e filmes que são maus (como a série American Pie ou "O lado bom da fúria"). Mas existem tambem um grande número de filmes que não encaixam nestas duas classes. Filmes que têm boas estórias, mas maus fins ("Clube dos Poetas Mortos"); filmes que tem más estórias mas momentos de Verdade e de Beleza ("O Libertino") ou mesmo filmes grandes, que levam a sério o drama humano, mas que se mostram incapazes de irem até ao fundo das questões ("Moulin Rouge").

Este filme é um desse filmes: tem momentos que demonstram uma grande humanidade, mas ao mesmo a estória contada de maneira ideológica.

De bom temos o professor Stephen Malley (Roberto Redford) que desafia os seus alunos a olhar o ideal, a não se ficarem pela mediania, a levar até ao fim as suas convicções. Esta é sem dúvida a grande personagem do filme, pois é a imagem do verdadeiro educador: aquele que nos introduz à realidade total, que nos diz "olha está ali o ideal, corre para ele".

Ainda do lado das personagens interessantes temos Ernest Rodriguez (Michael Peña) e Arian Finch (Derek Luke), dois antigos alunos de Redford que, depois de fazerem um trabalho para a aula de Malley, percebem que para salvar o mundo é preciso que cada um se empenhe na circunstância em que se encontra. Por isso voluntariam-se para servir no Afeganistão.

Por outro lado, ao mesmo tempo que o Professor Stephen Malley desafia Todd Hayes (Adrew Garfield), um outro aluno seu, a seguir o empenho dos seus dois ex-pupilos, em vez de se limitar a fazer o suficiente para passar, de maneira a mudar o sistema, o congressista republicano Jesper Irving (Tom Cruise) concede uma entrevista a jornalista Janine Roth (Meryl Streep).

E esta é a parte do filme que eu não gosto. Toda a trama do filme é feita para atacar a politica americana no Afeganistão e no Iraque, ao mesmo tempo que mostra os republicanos como um bando de nacionalista bacocos, que quer mandar os soldados para a morte enquanto ficam na segurança dos seus escritórios, apenas para salvarem a situação politica. Mesmo o professor Malley (que percebemos que é claramente deomocrata) serve de contraponto ao congressista que é, segundo a jornalista Janine Roth, o futuro do partido republicano. O próprio título do filme demonstra esta ideia.

Não querendo desvalorizar a personagem belissima de Redford, não me parece que o professor Malley seja suficiente para salvar o filme da sua ideologia. É um filme bom, engraçado, mas não é um grande filme, porque é feito como um ataque claro aos republicanos. Por isso aquilo que há de grande no filme é amesquinhado num ataque moralista à administração Bush.

É um filme pelo qual vale pena gastar 5€, mas que não merece ser visto mais do que uma vez.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Discurso de Sarkozy

Posto finalmente o discurso de Sarkozy em São João de Latrão. É grande, mas vale muito a pena ser lido.

Senhores Cardeais,
Senhoras e Senhores,
E, se me permitem, Caros Amigos,

Permitam-me dirigir as minhas primeiras palavras ao Cardeal Ruini, para Lhe agradecer muito calorosamente a cerimónia que acaba de presidir. Fiquei muito sensibilizado com as preces que ofereceu pela França e pela felicidade do seu povo. Quero agradecer-lhe igualmente pelo acolhimento que me reservou nesta Catedral de Roma, no seio da sua assembleia.

Ficar-lhe-ei igualmente agradecido, Eminência, por transmitir a Sua Santidade o Papa Bento XVI os meus sinceros agradecimentos pela abertura de seu palácio pontifical, o que nos permite a reunião desta noite. A audiência que o Santo Padre me concedeu de manhã foi para mim um momento de emoção e de grande interesse. Reitero ao Santo Padre o apreço que tenho pelo seu projecto de visita à França no segundo semestre do ano de 2008. Na qualidade de presidente de todos os franceses, contabilizo as esperanças que essa perspectiva suscita nos meus concidadãos católicos e em numerosas dioceses. Sejam quais forem as etapas de sua estada, Bento XVI será bem-vindo em França.

***

Dirigindo-me esta noite a São João de Latrão, ao aceitar o título de cónego de honra desta basílica, que foi conferido pela primeira vez a Henrique IV e que se transmitiu desde então a quase todos os chefes de Estado franceses, assumo plenamente o passado da França e esse vínculo tão particular que uniu durante tanto tempo nossa nação à Igreja.

Foi por meio do baptismo de Clóvis que a França se tornou a filha mais velha da Igreja. Os factos são estes. Ao fazer de Clóvis o primeiro soberano cristão, esse evento teve importantes consequências para o destino de França e da cristianização da Europa. Em seguida, por múltiplas vezes ao longo da sua história, os soberanos franceses tiveram a oportunidade de manifestar a profundidade da sua ligação à Igreja e aos sucessores de Pedro. Um exemplo disso foi a conquista por Pepino o Breve dos primeiros Estados Pontifícios, ou a criação junto ao Papa da nossa mais antiga representação diplomática.

Além desses factos históricos, é sobretudo por a fé cristã estar profundamente penetrada na sociedade francesa, na sua cultura, nas suas paisagens, na sua maneira de viver, na sua arquitectura e na sua literatura que França mantém com a Sé Apostólica uma relação tão particular. As raízes de França são essencialmente cristãs. E França forneceu à irradiação do cristianismo uma contribuição excepcional. Contribuição espiritual, contribuição moral, com a profusão de santos e santas de alcance universal: São Bernardo de Clairvaux, São Luís, São Vicente de Paulo, Santa Bernadette de Lourdes, Santa Teresa de Lisieux, São João-Maria Vianney, Frederico Ozanam, Charles de Foucauld, etc. Contribuição literária e contribuição artística: de Couperin a Péguy, de Claudel a Bernanos, Vierne, Poulenc, Duruflé, Mauriac ou Messiaen. Contribuição intelectual, tão cara a Bento XVI, Blaise Pascal, Bossuet, Maritain, Emmanuel Mounier, Henri de Lubac, Yves Congar, René Girard, etc. Permitam-me mencionar igualmente a contribuição determinante da França para a arqueologia bíblica e eclesiástica, aqui em Roma, mas também na Terra Santa, bem como à exegese bíblica, em particular com a Escola Bíblica e a arqueologia francesa de Jerusalém.

Quero evocar entre os Senhores, esta noite, a figura do Cardeal Jean-Marie Lustiger, que nos deixou no último Verão. Quero dizer que a sua irradiação e a sua influência também atravessaram amplamente as fronteiras da França. Fiz questão de participar das cerimónias do seu funeral, pois nenhum francês, afirmo, ficou indiferente ao testemunho de sua vida, à força dos seus escritos e, permitam-me dizer, ao mistério de sua conversão. Para mim e para todos os católicos, o seu desaparecimento representou uma grande dor. Em pé ao lado do seu caixão, vi desfilarem os seus irmãos de episcopado e os numerosos padres de sua diocese e fiquei muito comovido com a emoção que via no rosto de cada um.

* * *

Essa profundidade da inscrição do cristianismo na nossa história e na nossa cultura manifesta-se aqui em Roma com a presença jamais interrompida de franceses no seio da Cúria e nas mais eminentes responsabilidades. Quero saudar esta noite o Cardeal Etchegaray, o Cardeal Poupard, o Cardeal Tauran, Monsenhor Mamberti, cuja acção, não hesito em dizê-lo, honra a França. As raízes cristãs da França são tão visíveis nos seus símbolos, quanto nos estabelecimentos religiosos, na missa anual de Santa Lúcia e na da capela Santa Petronilla. Além disso, há a tradição que faz do Presidente da República o cónego de honra de São João de Latrão. São João de Latrão não é, sem dúvida, pouca coisa. Trata-se da catedral do Papa, da “Cabeça e Mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo”, uma Igreja cara ao coração dos romanos. França estar ligada à Igreja Católica através desse título simbólico é o traço dessa história comum, onde o cristianismo teve um grande peso para a França e a França teve um grande peso para o cristianismo. Portanto, foi muito natural que, assim como o general de Gaulle, como Valéry Giscard d’Estaing, como Jacques Chirac, eu viesse inscrever-me com felicidade nessa tradição.

* * *

Tanto quanto o baptismo de Clóvis, a laicidade também é um facto incontornável no nosso país. Conheço os sofrimentos que a sua implementação provocou em França junto dos católicos, junto dos padres, nas congregações, antes e depois de 1905. Sei que a interpretação da lei de 1905 como um texto de liberdade, tolerância, neutralidade é, em parte – devemos reconhecê-lo, Max Gallo – uma reconstrução retrospectiva do passado. Foi sobretudo com o seu sacrifício nas trincheiras da Grande Guerra, com a partilha dos seus sofrimentos, que os padres e religiosos da França desarmaram o anticlericalismo; e foi a sua inteligência comum que permitiu a França e à Santa Sé superar as suas querelas e restabelecer as suas relações.

Portanto, já ninguém contesta que o regime francês de laicidade seja uma liberdade: a liberdade de acreditar ou de não acreditar, a liberdade de praticar uma religião e a liberdade de mudar de religião, a liberdade de não mais ser confrontado na sua consciência com práticas ostentatórias, a liberdade para os pais de transmitir aos seus filhos uma educação em conformidade com suas convicções, a liberdade de não ser discriminado pela administração pública em função de sua crença. A França mudou muito. Os cidadãos franceses possuem convicções mais diversificadas do que antigamente. Desde então, a laicidade é afirmada como uma necessidade e, eu ousaria mesmo dizer, uma oportunidade. Ela tornou-se uma condição para a paz civil. E foi por isso que o povo francês foi tão clamoroso em defender a liberdade escolar quanto para desejar a proibição dos símbolos ostentatórios na escola.

Assim, a laicidade não poderia ser a negação do passado. A laicidade não tem o poder de cortar França das suas raízes cristãs. Ela tentou fazê-lo. E não deveria tê-lo feito. Assim como Bento XVI, eu acho que uma nação que ignore a herança ética, espiritual e religiosa da sua história comete um crime contra sua cultura, contra esse misto de história, património, arte e tradições populares que impregna tão profundamente nossa maneira de viver e pensar. Arrancar a raiz é perder o significado, é enfraquecer o cimento da identidade nacional, é tornar ainda mais ásperas as relações sociais, que tanta necessidade têm de símbolos de memória.
É por essa razão que devemos manter juntas as duas pontas da cadeia: assumir as raízes cristãs da França e até mesmo valorizá-las, defendendo ao mesmo tempo a laicidade, que finalmente chegou à maturidade. Este é o sentido da iniciativa que eu quis tomar esta noite em São João de Latrão.

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Chegou agora o momento de, com um mesmo espírito, as religiões, em particular a religião católica, que é nossa religião maioritária, e todas as forças vivas da nação olharem juntos para os desafios do futuro e não apenas para as feridas do passado.

Sou da mesma opinião que o Papa quando considera, na sua última Encíclica, que a esperança é uma das questões mais importantes de nosso tempo. Desde o século das Luzes, a Europa experimentou muitas ideologias. Ela depositou sucessivamente as suas esperanças na emancipação dos indivíduos, na democracia, no progresso técnico, na melhoria das condições económicas e sociais, na moral laica. Ela foi gravemente pervertida no comunismo e no nazismo. Nenhuma dessas diferentes perspectivas – que, evidentemente, não coloco ao mesmo nível –, foi capaz de corresponder à necessidade profunda dos homens e das mulheres de encontrar um sentido para a existência.

É claro que fundar uma família, contribuir para a pesquisa científica, ensinar, lutar pelas suas ideias, em particular se estas forem a respeito da dignidade humana, dirigir um país, tudo isso pode dar sentido a uma vida. São essas pequenas e grandes esperanças que, “no dia a dia, nos mantêm no caminho”, retomando os próprios termos da Encíclica do Santo Padre. Porém, não respondem às perguntas fundamentais do ser humano a respeito do sentido da vida e do mistério após a morte. Essas questões são as mesmas em todas as civilizações e épocas e essas questões essenciais em nada perderam de sua pertinência, eu diria até que bem pelo contrário. As facilidades materiais cada vez maiores nos países desenvolvidos, o frenesim de consumo, o acumular de bens, salientam cada vez mais a profunda aspiração dos homens e das mulheres a uma dimensão que os ultrapassa, pois, menos do que nunca, elas os satisfazem.

“Quando as esperanças se realizam”, prossegue Bento XVI, “vê-se claramente que, na realidade, nem tudo se realiza. Torna-se evidente que o homem precisa de uma esperança que vá mais além. Torna-se evidente que só algo de infinito lhe pode bastar, algo que seja sempre o que nunca poderá alcançar. Se não pudermos esperar mais do que o que for acessível, ou mais do que se possa esperar das autoridades políticas e económicas, a nossa vida reduz-se a ficar privada de esperança”. Ou ainda, como escreveu Heráclito, “Se não esperarmos o inesperado, não o reconheceremos”.

Tenho a profunda convicção – o que falei especialmente nesse livro de entrevistas que publiquei sobre a República, as religiões e a esperança –, de que a fronteira entre a fé e a descrença não está e nunca estará entre os que acreditam e os que não acreditam, porque, na verdade, ela atravessa cada um de nós. Mesmo aquele que afirma não acreditar não pode garantir, ao mesmo tempo, que não se questione a respeito do essencial. O facto espiritual é uma tendência natural em todos os homens de procurar uma transcendência. O facto religioso é a resposta dos religiosos a essa aspiração fundamental que existe desde que o homem tem consciência de seu destino.

Ora, durante muito tempo a República laica subestimou a importância da aspiração espiritual. Mesmo depois do restabelecimento das relações diplomáticas entre a França e a Santa Sé, ela mostrou-se mais desconfiada do que benevolente para com os cultos. Cada vez que deu um passo em direcção às religiões, seja tratando-se do reconhecimento das associações diocesanas, da questão escolar, ou das congregações, deu a impressão de que agia porque não podia proceder de outro modo. Foi só em 2002 que a República laica aceitou o princípio de um diálogo institucional regular com a Igreja Católica. Permitam-me lembrar igualmente as críticas virulentas e injustas de que fui objecto no momento da criação do Conselho Francês do Culto Muçulmano. Ainda hoje, a República mantém as congregações sob uma forma de tutela, recusando-se a reconhecer um carácter cultual à acção caritativa, recusando-se a reconhecer o valor dos diplomas expedidos pelos estabelecimentos de ensino superior católicos, não dando o menor valor aos diplomas de teologia, achando que ela não deve se interessar pela formação dos ministros do culto.

Acho essa situação prejudicial ao nosso país. É claro que os que não crêem devem ser protegidos de toda e qualquer intolerância e proselitismo. Mas, um homem que crê é um homem que tem esperança. E o interesse da República é que haja muitos homens e mulheres que tenham esperança. A falta de afeição progressiva nas paróquias rurais, o deserto espiritual nos subúrbios, o desaparecimento da benevolência, a penúria de padres não tornaram os franceses mais felizes. Isto é uma evidência.

Além disso, quero dizer também que, se existe incontestavelmente uma moral humana independente da moral religiosa, a República tem o interesse em que exista também uma reflexão moral inspirada em convicções religiosas. Em primeiro lugar, porque a moral laica corre sempre o risco de se esgotar quando não estiver apoiada numa esperança que satisfaça a aspiração ao infinito. Em seguida e sobretudo, porque uma moral desprovida de ligações com a transcendência está mais exposta às contingências históricas e finalmente à facilidade. Como escreveu Joseph Ratzinger, na sua obra sobre a Europa, “o princípio corrente agora é que a capacidade do homem seja a medida da sua acção. O que se sabe fazer, pode-se igualmente fazer”. A longo prazo, o perigo é que o critério da ética já não seja o de se tentar fazer o que se sabe, mas de fazer o que se pode fazer. Mas esta é uma grande questão.

Na República laica, o homem político que sou não tem que decidir em função de considerações religiosas. Mas é importante que a sua reflexão e a sua consciência sejam esclarecidas especialmente por opiniões que façam referência a normas e convicções livres das contingências imediatas. Todas as inteligências, todas as espiritualidades existentes no nosso país devem participar disso. Seremos mais sábios se conjugarmos a riqueza de nossas diferentes tradições. É por isso que desejo o advento de uma laicidade positiva, ou seja, uma laicidade que, preservando a liberdade de pensamento, a de crer ou não crer, não veja as religiões como um perigo mas, pelo contrário, como um trunfo. Não se trata de modificar os grandes equilíbrios da lei de 1905. Os franceses não desejam isso e as religiões não o pedem. Trata-se, ao contrário, de procurar o diálogo com as grandes religiões de França e ter por princípio facilitar a vida quotidiana das grandes correntes espirituais, ao invés de procurar complicá-las.

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Senhores Cardeais, Senhoras e Senhores,
No final do meu discurso e a alguns dias dessa festa de Natal que é sempre um momento em que nos voltamos para o que há de mais querido na nossa vida, eu gostaria de me dirigir àqueles dentre os Senhores que estão implicados nas congregações, junto da Cúria, no sacerdócio ou no episcopado, ou que seguem actualmente uma formação de seminarista. Eu gostaria de lhes dizer simplesmente os sentimentos que me inspiram as suas escolhas de vida.

Tenho ideia do que representa uma vida inteira dedicada a servir a Deus e aos outros. Sei que o vosso quotidiano é ou será algumas vezes atravessado pelo desencorajamento, pela solidão, pela dúvida. Sei também que a qualidade da vossa formação, o apoio das vossas comunidades, a fidelidade aos sacramentos, a leitura da Bíblia e a prece lhes permitem superar as provações.

Saibam que temos pelo menos uma coisa em comum: a vocação. Não se pode ser padre pela metade, mas em todas as dimensões da vida. Creiam que não se é também presidente da República pela metade. Compreendo que se tenham sentido atraídos por uma força incontrolável vinda do interior, porque eu mesmo nunca me sentei para me perguntar se faria o que fiz, eu fi-lo. Compreendo os sacrifícios por que passam para responder a sua vocação, porque eu mesmo sei os que fiz para realizar a minha.
O que quero dizer esta noite, na qualidade de presidente da República, é a importância que atribuo ao que os Senhores fazem e, permitam-me dizer, ao que os Senhores são. A vossa contribuição para a acção caritativa, para a defesa dos direitos humanos e para a dignidade humana, para o diálogo inter-religioso, para a formação das inteligências e dos corações, para a reflexão ética e filosófica, é fundamental. Ela está enraizada na profundeza da sociedade francesa, numa diversidade muitas vezes insuspeita, assim como ela se espalha pelo mundo. Quero saudar especialmente as nossas congregações, os Padres do Espírito Santo, os Padres Brancos e as Irmãs Brancas, os filhos e filhas da caridade, os franciscanos missionários, os jesuítas, os dominicanos, a Comunidade de Santo Egídio, que possui um ramo em França, todas essas comunidades que, no mundo inteiro, sustentam, cuidam, fomentam, acompanham, consolam o próximo na aflição moral e material. Ao dar, em França e no mundo, o testemunho de uma vida dedicada aos outros e preenchida pela experiência de Deus, os Senhores criam esperança e fazem crescer sentimentos nobres. Isto é uma sorte para nosso país, e o presidente que sou considera-o com muita atenção. Na transmissão dos valores e na aprendizagem da diferença entre o bem e o mal, o professor jamais poderá substituir o padre ou o pastor, embora seja importante que se aproxime dele, porque sempre lhe faltará a radicalidade do sacrifício de sua vida e o carisma de um empenho levado pela esperança.

Quero evocar a memória dos monges de Tibhérine e do Monsenhor Pierre Claverie, cujo sacrifício um dia dará frutos de paz, estou convencido disso. A Europa voltou demais as costas para o Mediterrâneo, enquanto uma parte de suas raízes nela se encontram mergulhadas e uma parte dos países que estão nas margens desse mar se situam no cruzamento de um grande número de desafios do mundo contemporâneo. Eu quis que França tomasse a iniciativa de criação de uma União Mediterrânea. A situação geográfica, assim como o passado e a cultura francesas exacerbam muitas vezes as paixões, onde o choque entre civilizações pode permanecer no estado de fantasma ou oscilar para a realidade mais trágica. Devemos conjugar os nossos esforços para alcançar uma coexistência pacífica, que respeite todos sem renegar nossas convicções profundas, numa zona de paz e prosperidade. Essa perspectiva vai ao encontro, ao que me parece, do interesse da Santa Sé.

Mas o que desejo ainda mais dizer é que, neste mundo paradoxal, obcecado pelo conforto material ao mesmo tempo em que se procura cada vez mais sentido e identidade, França precisa de católicos convictos, que não temam afirmar o que são e em que acreditam. A campanha eleitoral de 2007 mostrou que os franceses tinham vontade de política, por pouco que lhes fossem propostas ideias, projectos, ambições. A minha convicção é a de que eles também esperam por espiritualidade, valores e esperança.

Henri de Lubac, esse grande amigo de Bento XVI, escreveu “A Vida Atrai, Assim como a Alegria”. É por isso que França precisa de católicos felizes que dêem mostras de sua esperança.

França resplandece, desde sempre, pelo mundo pelas suas generosidade e inteligência. É por isso que tem necessidade de católicos plenamente cristãos e de cristãos plenamente actuantes. A França precisa acreditar novamente que não tem que se submeter ao futuro, porque tem que construí-lo. É por isso que precisa do testemunho daqueles que, levados por uma esperança que vá para além deles, se façam novamente todos os dias à estrada para construir um mundo mais justo e mais generoso.
Ofereci esta manhã ao Santo Padre duas edições originais de Bernanos. Quero concluir com ele: “O futuro é algo que se supera. Não nos submetemos a ele, nós o fazemos. O optimismo é uma falsa esperança para uso dos covardes. A esperança é uma virtude, uma determinação heróica da alma. A mais elevada forma de esperança é o desespero superado”. Como compreendo o apreço do Papa por esse grande escritor que é Bernanos.

Em todo lugar onde os Senhores agirem, nos subúrbios, nas instituições, junto aos jovens, no diálogo entre religiões, nas universidades, eu vos apoiarei. França precisa da vossa generosidade, da vossa coragem, da vossa esperança.
Muito obrigado.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Nova Escola

Segundo esta noticia do Correio da Manhã, as escolas vão deixar de poder ter nomes de santos. Embora o decreto-lei não contenha nenhuma especificação sobre este assunto, mas o jornal afirma que o ministério da educação terá dado indicações para que não exista referência à religião nos nomes das escolas.

Mais uma vez o governo socialista se atira à Igreja. De mansinho, discretamente, subtilmente, na esperança que ninguém repare. Depois de atacar as rádios e os jornais católicos, depois de cortar subsídios as escolas católicas (que mais uma vez aparecem entre as melhores do país), este governo tenta mais uma vez apagar a presença cristão na nossa sociedade.

Prefere o governo que as escolas tenham nomes dos heróis do regime, que nada fizeram a não ser contribuir para a medicriocidade do país. Não descansára o governo enquanto uma só escola pública de Portugal conservar a memória de 800 anos de história de um povo cristão. Esta é a versão moderna do "enforcar o último rei nas tripas do último padre".

"A única alegria da vida é começar. Viver é belo porque viver é começar sempre. A cada instante!" Pavese

O ano de 2007 foi um grande ano! Foi o ano em que o Papa nos chamou a Roma e renovou o desafio do Servo de Deus João Paulo II de espalhar por todo o mundo a alegria, a beleza e a paz que se encontram em Cristo Jesus. Foi o ano em que don Júlian Carron veio até nós relembrar-nos que nenhum poder do mundo pode impedir o Coração do homem de se apaixonar.

Foi tambem um ano em que vimos crescer e amadurecer a comunidade portuguesa dos Universitários de Comunhão e Libertação. As férias fora um grande momento de conversão e comoção que nos impeliu a todos para um recomeço de um novo ano, onde foram crescendo o número daqueles que se juntaram a nós para seguir o carisma de Giussani.

Mas o cristão não vive no passado, pois esse já passou, nem vive a espera do futuro que poderá não vir, mas sim no presente, que é a circunstância que Deus nos concede para sermos felizes. Por isso este novo ano que começa é uma nova oportunidade de crescermos nesta companhia a que fomos confiados.

Grazie don Giuss!