sexta-feira, setembro 27, 2013

Entrevista ao Papa: Alguma Coisa que Vem Antes.

Foi publicada na semana passada uma entrevista que o Papa Francisco concedeu ao director da revista La Civilita Catolica (revista dos jesuítas italianos). A entrevista foi feita em Agosto, mas só agora publicada. Uma das razões para esta demora foi a vontade dos responsáveis jesuítas em publicar a entrevista traduzida em várias línguas de maneira a evitar possíveis más interpretações.
A tentativa foi boa, mas não conseguida. Os media, que tendem sempre a ler naquilo que o Papa diz e faz o que não está lá, trataram de salientar a parte em que o Santo Padre falou sobre o aborto e a homossexualidade. Segunda os nossos jornais o Sumo Pontífice teria dito que a Igreja vivia obcecada com estes temas.
Mas esta má interpretação dos media não me choca nada. Já estamos totalmente habituados. Foi assim com João Paulo II, foi assim (repetidamente) com Bento XVI e tem sido assim com o Papa Francisco.
O que me chocou foi ver tantos católicos a fazerem fé no que os media disseram para, mais ou menos abertamente, criticar o Santo Padre. Sendo que muitos dos que agora crêem piamente no que a imprensa diz sobre o Papa passaram todo o pontificado do Papa Emérito a criticar o facto de que os jornalistas distorciam tudo o que Bento XVI dizia.
Em relação às questões que nós chamamos fracturante disse o Papa: «Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente».
Esta afirmação levantou um coro de “virgens ofendidas”. Muitos ficaram chocados, dizendo que o Papa não apoiava os católicos que combatem pelo casamento e pela vida.
Esta escândalo nasce de uma redução de o cristianismo a um conjunto de doutrinas.  Mas fé da Igreja não nasce de um conjunto de regras, mas do encontro com Cristo presente nesta realidade que é a Sua Igreja. As regras, a doutrina, são uma consequência desse encontro.
“Não matarás” não é um artigo de fé, tal como não o é a santidade do casamento. Estes dois preceitos são consequência da fé. Não é possível afirmar Cristo e não respeitar estas regras, tal como não é possível amar uma mulher e ser-lhe infiel.
Se amas a Cristo então deixas que Ele te mude. Desejas olhar o mundo como Cristo te olha. Para isso é preciso conhecer a Sua doutrina, é preciso respeitar as suas regras. Voltando ao exemplo da mulher amada: se amas uma mulher queres saber quais sãos os filmes que ela gosta, que comida prefere, que livro lê. Tentas fazer o que te é possível para lhe agradar.
Um homem não se deixa mudar por uma mulher que não ame. Ora também é impossível seguir a Doutrina da Igreja sem amar a Cristo.
Falar apenas das consequências é saltar por cima do mais importante. O primeiro passo é encontrar Cristo. Para isso é preciso anuncia-Lo. O resto (a doutrina) é consequência inevitável desta relação.