quarta-feira, junho 13, 2007

Das eleições.

Dia 15 de Julho teremos eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa. Regra geral as eleições autárquicas são uma coisa simples: na provincia a malta gosta do senhor presidente que fez a rotunda e o parque infatil e elege-o, acha que o presidente devia ter feito mais pelo clube da terra elege o adversário. No Sul elege-se ou o candidato do PS ou o do PC. No Centro e Norte o do PS ou PSD. Nas zonas mais cristãs do Norte o CDS lá arranca um ou outra Câmara. Já nas grandes autarquias (Lisboa, Sintra e Porto) o voto, regral geral, é contra ou a favor do governo.
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Claro que isto nem sempre é assim. Também depende muito dos candidatos, da conjuntura política e dos escândalos locais. Mas, muito grosso modo, as coisas passam-se neste termos. É raro as eleições autárquicas serem muito complexas. O seu resultado pode ter efeitos políticos grandes, como quando caiu o governo de Guterres, mas não costumam ser resultados complexos ou subtis. Contudo nas eleições em Lisboa ao votar seremos confrontados com problemas políticos complexos e subtis. Isto deve-se a três motivos:
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- às medidas impopulares de um governo com tiques despóticos, com pouco respeito pelo Estado de Direito (veja-se o caso da PMA, do aborto ou, numa escala menos grave, As mentiras do Primeiro Ministro no caso da Independente), sem respeito pela separação de poderes (veja-se a passagem de Rui Pereira de professor universitário para juiz e de juiz para ministro em poucos meses) e que aparentemente exerce pressões sobre a comunicação social,
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- ao aparecimento de candidatos independentes, que demonstram uma clara descretibilização dos partidos, já evidenciada pelo segundo lugar de Manuel Alegre nas presidenciais,
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- a crise de direcção do PSD, onde Marques Mendes não se consegue afirmar como lider da oposição.
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Por estes motivos estas eleições poderão, e provavelmente irão, influenciar a vida política portuguesa dos próximos anos. Por um lado, se António Costa não ganhar será a quarta derrota consecutiva de Sócrates em eleições: autárquicas (menos câmaras do que o PSD e perdeu nas três maiores munícipios, incluindo Lisboa), presidenciais e eleições regionais. Só assim se justifica que o PS faça a avançar o número 2 do Governo para a Câmara.
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Por outro lado, António Costa é o mais provável sucessor de Sócrates na liderança do PS. Por isso joga aqui uma jogada arriscada. Se perder, passará algum tempo no deserto, pelo menos até a próxima renovação governamental, sendo que perderá o comboio da sucessão a Sócrates. Por outro lado, se ganhar a Câmara, António Costa arranja maneira de continuar a ter visibilidade, mas podendo afastar-se de Sócrates, já a pensar numa possivel sucessão e candidura a Primeiro Ministro em 2013.
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No caso do PSD, esta eleições vieram acentuar a falta de capacidade de liderança de Marques Mendes. Dos vários barões que dominam o Partido Social Democrata, nenhum deles arriscou avançar. As duas pessoas que mais hipóteses teriam de ganhar a Câmara dentro do partido demonstraram claramente que nãos estão dispostas a apoiar o lider. Por um lado Manuela Ferreira Leite demonstra pouca vontade de se imiscuir na vida partidária e não está disposta a submeter-se a uma campanha eleitoral e as consequências de uma enventual vitória nas urnas. Por outro lado, Paula Teixeira da Cruz, actual presidente da Assembleia Municipal, demonstra que percebeu claramente que os ventos não sopram para os lados de Marques Mendes e não está disposta a arriscar um final prematura da sua carreira política por uma lider transitório do partido. Também Fernado Seara, um candidato com menos peso político mas com alguma popularidade preferiu manter-se fora desta luta. Por isso sobrou Fernado Negrão, um bom homem, um homem competente, mas um peso político do ponto de vista político. A esmagadora maioria dos lisboetas não suspeita quem seja este homem e a sua carreira pública (como director da PJ, como Presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência e como ministro da Segurança Social) é escassa.
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Dificilmente Fernando Negrão conseguirá melhor que o terceiro lugar, se conseguir o terceiro. Ainda mais dificilmente conseguirá um resultado melhor do que o homem a quem Maruqes Mendes retirou a confiança política, Carmona Rodrigues. Nesse caso dificilmente Marques Mendes conseguirá segurar o poder dentro do PSD.
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Estas eleições têm ainda uma novidade: duas candidaturas independentes, ambas com possibilidades de fazerm bons resultados. Primeiro temos a candidatura de Carmona Rodrigues, que me parece ser o único inimigo sério de António Costa nesta eleições. A vitória deste neste nas eleições seria uma bofetada quer ao Governo, quer a Marques Mendes. Se Carmona Rodrigues ganhar quer dizer que o povo não está minimanente interessado nas opiniões de Marques Mendes e que claramente não está interessado em antigos membros deste Governo.
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Carmona Rodrigues têm a qualidade de não ser um político. Nesta eleições esse factor será uma grande vantagem. O povo cada vez mais desconfia dos políticos. Carmona Rodrigues pouco liga a política. Desde que chegou a Camâra nunca se imiscuiu num problema do partido, tendo-se contedado em ser Presidente da Camâra de Lisboa e não putativo candidado à liderança do PSD. Para além disso apresenta uma imagem descontraída e um discurso simples.
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Já a candidatura de Helena Roseta parece-me mais fraca. Para começar os motivos que a levam a sair do partido e a candidatar-se como independente não são tão claro como no caso de Carmona. Para além disso, embora tenha sem dúvida bastante visibilidade, não goza da popularidade de Carmona Rodrigues. Para além disso conta com uma longa carreira política, que lhe poderá trazer algumas desconfianças.
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Mesmo assim, a sua canditadura apresenta-se como saída para os socialista descontentes com Sócrates e com ditadura que Sócrates impôs no partido, transformando-o num espectáculo de um homem só. Dificilmente um bom resultado de Helena Roseta levará a queda de Sócrates, mas será um sinal de aviso de que o partido não está tão tranquilo como aparenta.
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Por fim temos as candidaturas de Telmo Correia, de Ruben de Carvalho e de José Sá Fernandes. Telmo Correia é um portista declarado e se tiver um resultado inferior ou de Maria José Nogueira Pinto, acontecimento muito provável, será protagonista do primeiro grande revés da segunda liderança de Paulo Portas, mas dificilmente terá consequências de maior.
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Ruben de Carvalho deverá manter o mesmo resultado. Depois de algum tempo a perder votos para o Bloco o PC finalmente estabilizou e voltou a ter um eleitorado muito estanque.
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Já Sá Fernandes parece-me que dificilmente será re-eleito. Para começar, o papel de grande irmão, sempre atento aos bons costumes da Camâra começa a causar-lhe sérias antipatias. Para além disso o factor da sua suposta independência, que pesou nas últimas eleições, será-lhe roubado por Helena Roseta, que se apresenta como real candidata independente da esquerda e que, sabiamente, recusou uma coligação com Sá Fernandes nestas eleições.
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Estas eleições seguramente não farão cair o governo, mas podem influenciar de modo muito profundo os próximos passos dos dois maiores partidos portugueses.

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