O Nicola é uma amigo nosso italiano a quem foi diagnosticado uma leucemia há dez dias. Deixo aqui a carta que ele escreveu ao CLU de Portugal:
"Queridos amigos portugueses,
Quero escrever-vos só algumas linhas, que são a síntese daquilo que estou a viver nestes dias. Sinto-me contente e sereno como uma criança, surpreende-me a atenção com a qual olho até ao fundo o que existe, «Tudo nele consiste», quem mo está a dar, e portanto ao reconhecimento da presença de Cristo aqui no hospital.
Ajudam-me imenso as laudes de manhã: cada dia marco a frase que me surpreende quando recito no meu quarto, é um instrumento que penso que nunca compreendi até ao fundo como nestes dias: tenho mesmo a necessidade de captar pelo menos uma mensagem, e são verdadeiramente um sustentamento no dia que, em si próprio, como circunstancias, é apagado e não há «factos excepcionais» que te relançam e te fazem retomar, é só surpreender-se na vida quotidiana dum hospital. E este era o ponto no qual estava ainda a resistir: surpreender-me no quotidiano era um desafio aberto, e Jesus, como verdadeiro amigo, relançou-me.
Aqui, mas não só aqui, em toda a parte, há duas grandes possibilidades: deixar-se levar pela rotina quotidiana e deixar que o dia se escape, ou então abrir os olhos e deixar-se surpreender: «Nada é impossível a Deus» na realidade. Na realidade! No quotidiano, porque ai está a urgência maior.
Estou a pedir isto, que Jesus se revele, que se faça reconhecer. Sei que isto é um dom, mas sei também que se deve mendigar, esperando, como diz a escola de comunidade, uma nova palavra e um novo gesto que são a expressão do modo como o homem vê, sente, afronta e se empenha com a realidade.
Ao ler «Um café em companhia» nestes dias, surpreendeu-me uma frase de don Gius que diz assim: «nós temos uma tarefa na vida que é ser cada um testemunhas de Cristo usando os utensílios da própria profissão. Até se for doentes de cama», e eu acrescento estar na Católica de Milão. Não muda nada!
Agora estou sozinho no meu quarto, desde hoje estou isolado no meu quarto, e será assim pelo menos durante 10 dias, pode só entrar com máscara e bata e por poucas horas por dia a minha mãe ou os meus irmãos. De vez em quando passa alguma enfermeira, mas é lindíssimo, estou a ouvir música lindíssima (também aquela portuguesa que me fez ouvir o Pe. Luis Miguel, os Madredeus) e estou a escrever o que a vida está a dar-me e eu não posso tirar-me para trás porque temos uma tarefa no mundo.
Que graça! Que lindo abrir os olhos de manhã e ter na mente Cristo, isto é um dom, ter na mente o meu pai. «A nossa vida não está feita para nos tornar alguém, mas de Alguém», como me dizia o Pe. Virgílio, um meu amigo padre missionário no Brasil que já morreu.
Agradeço-vos as vossas orações e lembro-vos sempre, consciente de que não estou sozinho a levar esta cruz, estamos juntos, da maneira mais simples e mais bela que existe, e portanto testemunhando Aquele que tomou a nossa vida e no-la faz gostar, «Cristo me atrai, tão belo».
Até breve. Um abraço a todos e obrigado por estar ao meu lado."
Agradeço a Deus a graça que é ter um testemunho assim na minha vida.
"Queridos amigos portugueses,
Quero escrever-vos só algumas linhas, que são a síntese daquilo que estou a viver nestes dias. Sinto-me contente e sereno como uma criança, surpreende-me a atenção com a qual olho até ao fundo o que existe, «Tudo nele consiste», quem mo está a dar, e portanto ao reconhecimento da presença de Cristo aqui no hospital.
Ajudam-me imenso as laudes de manhã: cada dia marco a frase que me surpreende quando recito no meu quarto, é um instrumento que penso que nunca compreendi até ao fundo como nestes dias: tenho mesmo a necessidade de captar pelo menos uma mensagem, e são verdadeiramente um sustentamento no dia que, em si próprio, como circunstancias, é apagado e não há «factos excepcionais» que te relançam e te fazem retomar, é só surpreender-se na vida quotidiana dum hospital. E este era o ponto no qual estava ainda a resistir: surpreender-me no quotidiano era um desafio aberto, e Jesus, como verdadeiro amigo, relançou-me.
Aqui, mas não só aqui, em toda a parte, há duas grandes possibilidades: deixar-se levar pela rotina quotidiana e deixar que o dia se escape, ou então abrir os olhos e deixar-se surpreender: «Nada é impossível a Deus» na realidade. Na realidade! No quotidiano, porque ai está a urgência maior.
Estou a pedir isto, que Jesus se revele, que se faça reconhecer. Sei que isto é um dom, mas sei também que se deve mendigar, esperando, como diz a escola de comunidade, uma nova palavra e um novo gesto que são a expressão do modo como o homem vê, sente, afronta e se empenha com a realidade.
Ao ler «Um café em companhia» nestes dias, surpreendeu-me uma frase de don Gius que diz assim: «nós temos uma tarefa na vida que é ser cada um testemunhas de Cristo usando os utensílios da própria profissão. Até se for doentes de cama», e eu acrescento estar na Católica de Milão. Não muda nada!
Agora estou sozinho no meu quarto, desde hoje estou isolado no meu quarto, e será assim pelo menos durante 10 dias, pode só entrar com máscara e bata e por poucas horas por dia a minha mãe ou os meus irmãos. De vez em quando passa alguma enfermeira, mas é lindíssimo, estou a ouvir música lindíssima (também aquela portuguesa que me fez ouvir o Pe. Luis Miguel, os Madredeus) e estou a escrever o que a vida está a dar-me e eu não posso tirar-me para trás porque temos uma tarefa no mundo.
Que graça! Que lindo abrir os olhos de manhã e ter na mente Cristo, isto é um dom, ter na mente o meu pai. «A nossa vida não está feita para nos tornar alguém, mas de Alguém», como me dizia o Pe. Virgílio, um meu amigo padre missionário no Brasil que já morreu.
Agradeço-vos as vossas orações e lembro-vos sempre, consciente de que não estou sozinho a levar esta cruz, estamos juntos, da maneira mais simples e mais bela que existe, e portanto testemunhando Aquele que tomou a nossa vida e no-la faz gostar, «Cristo me atrai, tão belo».
Até breve. Um abraço a todos e obrigado por estar ao meu lado."
Agradeço a Deus a graça que é ter um testemunho assim na minha vida.
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