Mas o problema do convite feito pela Universidade ao Obama, que espécie de desacordo provoca em nós? Tenho-me dado conta que cada vez mais corremos o risco de ser ideológicos na modalidade como "reagimos" às circunstâncias. Por isso proponho o manifesto que a comunidade de CL da Universidade de Notre Dame escreveu (a tradução é minha e peço desculpa pelas imprecisões e erros); o que mais me impressionou foi a novidade humana que este juízo trazia sobre a questão em que parece que ou se é a favor do aborto e portanto do convite ao Obama, ou se é contra o aborto e portanto o Obama não é benvindo...
Saudades,
Kate
Um novo início
O convite feito pela Universidade de Notre Dame ao Presidente Obama para pronunciar o discurso na cerimónia de entrega dos diplomas e receber uma laurea ad honorem desencadeou uma ampla controvérsia. Provocou igualmente reacções firmemente contrárias entre aqueles que consideram esta universidade um símbolo do ideal de instrução superior católico. A comunidade encontra-se dividida e confusa; a integridade da missão educativa da Universidade foi posta em causa. Numa circunstância deste tipo sentimos, com grande urgência, a necessidade e compreender as razões da existência de tal instituição.
Qual é o sentido da educação cristã e – questão ainda mais fundamental – o que é, actualmente, a vida cristã? Como vivemos hoje a fé fecunda que conduziu uma fileira de missionários franceses, há cento e cinquenta anos atrás, com a convicção inabalável que aquela escola «seria um dos instrumentos mais potentes para fazer o Bem neste País?». Em que medida está presente aquela relação entre fé e vida quotidiana, no ímpeto do nosso trabalho na universidade e na sociedade?
Para nós a fé não é um código ético, nem sequer uma ideologia; é uma experiência: um encontro com Cristo, presente aqui e agora, na comunidade cristã. A fé cristã dá-nos uma liberdade e uma paixão pela vida que se exprimem sobretudo na forma de perguntas diante da realidade, bem como uma inexaurível abertura à humanidade. Nós não somos definidos por categorias políticas e éticas; a nossa vida surge dentro da pertença a um facto, a uma história já começada e continuada por uma Presença excepcional na história humana. Durante dois milénios, essa mesma Presença inspirou inúmeras iniciativas que educaram homens e mulheres, incluída a Universidade de Notre Dame. Não podemos limitar a nossa sede de verdade e o nosso desejo de entrar numa relação autência com a realidade; queremos a certeza do seu significado total. Necessitamos de um lugar onde fé e razão não sejam inimigas, onde a sua unidade nos projecte num caminho corgajoso de conhecimento, aberto e livre.
O convite de uma Universidade católica – qualquer convite, especialmente o que foi dirigido ao Presidente dos EUA – deveria ser um convite ao encontro com aquela história, aquele método de relacionamento com a realidade e com aquela experiência de vida e de liberdade.
Então, qual é a questão em causa nesta cerimónia? É muito mais de uma simples defesa de valores – mesmo os mais sagrados valores – ou de uma manifestação de “abertura” de uma instituição católica ao mundo. Coloca-se em jogo a nossa esperança no futuro da Universidade e no futuro da sociedade.
Para nós a esperança começa com o reconhecimento que com Cristo descobrimos uma modalidade nova de viver a vida, de estudar, de investigar, de nos envolvermos na política e na economia, de agir no mundo. Partindo desta Presença, vivemos a esperança não como um mero sentimento, um sonho ou um projecto de poder, mas sim como uma certeza no futuro que nasce de uma experiência que acontece agora.
Com a certeza da fé que o Padre Sorin possuía depois do incêndio que arrasou Notre Dame em 1879, pedimos que seja possível reconhecer todos os dias que «construimo-la pequena demais... assim, amanhã, assim que as pedras arrefecerem, construi-la-emos ainda maior e melhor».
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