quinta-feira, novembro 15, 2007

Miguelista.




Fez ontem 141 anos que morreu Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga Evaristo de Bragança e Bourbon mais conhecido como D. Miguel I, rei de Portugal.

Há uma certa tendência hoje em dia (tendência essa nada ingénua) de dividir a guerra entre os filhos de D. João VI em Liberais e Absolutistas, dando a entender que os que tomaram o partido de D. Miguel eram aqueles que eram contra um sistema que salvaguardasse o povo contra os poderes do rei. Convém acrescentar que são este mesmo senhores que apontam o Marquês de Pombal, um déspota sanguinário, como um grande homem.

Há que esclarecer que esta divisão é claramente mentira. A questão era bastante mais profunda do que uma mera escolha entre um sistema liberal e um sistema absolutista. O sistema liberal, advogado por Dom Pedro IV (que entretanto tinha declarado a independência do Brasil à revelia do seu próprio pai) era um sistema inspirado nas ideias nascidas da revolução francesa, que punham o Estado claramente acima do individuo e que primavam por uma brutal perseguição à Igreja e a todos aqueles que com eles discordavam.

Por outro lado, Dom Miguel representava 800 anos de história. Dom Miguel era o herdeiro natural daqueles que tinham, contra todas as expectativas, combatido os mouros e os castelhanos e fundado Portugal. Era herdeiro daqueles que, por amor à Cruz, se tinham lançado ao mar e descoberto o mundo. Dom Miguel não era um representante do absolutismo em si, mas sim um opositor de uma ideologia anti-cristã, que claramente violava a essência de Portugal.

O que a vitória de Dom Pedro nos trouxe foi um regime dominado por anti-clericais extremistas, por aduladores profissionais, por politicos caciqueiros que conduziram Portugal até ao pantano que permitiu a instauração da Républica.

Desde de D. Pedro IV que Portugal se contenta (exceptuando o tempo da ditadura salazarista, mas ai o preço foi demasiado alto) em fazer parte da cauda da Europa, desde que possa ser moderno e europeu. Passamos de descobridores do mundo a proxentas da Europa (basta ver o chamado "Tratado de Lisboa").

Relembra a morte de Dom Miguel é relembra um país que dificilmente voltará.

P.S.: Aproveito e deixo aqui um link, onde se explica o direito de Dom Miguel ao trono.

3 comentários:

Luís Froes disse...

Caro Zé Maria,

Relembro as palavras de Carlos da Maia à baronesa de Alvim, numa «soirée» em casa dos condes de Gouvarinho, que dizem alguma coisa do que tem sido Portugal nos últimos 190 anos:

" - Creio que não há nada de novo em Lisboa, minha senhora, desde a morte do Sr. D. João VI."

Um abraço

Zé Maria Duque disse...

Obrigado pelo comentário.

Um abraço

António Bastos disse...

É gratificante ler algo de tão visceralmente anti-revolucionário. Quando vejo "monárquicos" a venerar a democracia, será que não compreendem que foi essa "monarquia" espúria à nossa Nação e que, tal como a república foi imposta à bala, que permitiu o descalabro das nossas ancestrais tradições e intituições? Como pode um parlamento no qual os representantes são previamente escolhidos pelos directórios da partidocracia representar toda a diversidade social? A democracia liberal é um imenso retrocesso civilizacional (que está na génese do fenómeno totalitário) ao atomizar uma sociedade e colocando os cidadãos (como é o nosso caso actualmente) reféns da classe política. Isto já para não falar da perda da Fé, das tradições e do hábito de participar na gestão da res-pública, como era o caso na sã tradição municipalista, tornando as massas propensas ao consumismo.