A religião é um dos temas mais influentes e fascinantes da actualidade. O facto em si não é surpreendente, pois afinal a religião é um dos temas mais influentes e fascinantes de sempre. Só se torna notável porque a Europa faz há séculos muitos esforços para negar o lugar da fé. O que prejudica mais a Europa que a fé.
O Iluminismo foi o único movimento cultural mundial que tentou fundar uma seita ateia e anti-religiosa. O fiasco é hoje evidente mas a sua sanha e fanatismo, da guilhotina ao gulag, estiveram entre os piores da História. E deixaram sequelas. Muitos leitores, mesmo crentes, continuam a ficar incomodados com um artigo destes neste local. Todos os temas são aceitáveis numa coluna destas, mas religião fica mal.
Aliás, uma das provas da crescente influência da religião está no facto de o ateísmo também viver um surto de expansão. Surge uma nova geração de obras violentamente anti-religiosas, desde The God Delusion do cientista britânico Richard Dawkins (Bantam Books, Setembro 2006) até ao recentíssimo God Is Not Great: How Religion Poisons Everything, de Christopher Hitchens (Twelve, Maio de 2007). Mais pacatamente por cá, onde acaba de sair a tradução de The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason, de Sam Harris (W.W. Norton, 2004; Tinta da China, 2007), João Carlos Espada, referindo outros sintomas do mesmo fenómeno, criou furor e foi insultado por citar Raymond Aron: "O ateísmo é o ópio dos intelectuais" (Expresso, 21 de Abril).
Tudo isto só confirma o interesse crescente por temas religiosos. Visitar uma livraria é ver a profusão de volumes sobre o tema, dos disparatados aos eruditos (normalmente os mais disparatados). Em particular, após dois mil anos, Jesus é um best-seller. Já lhe arranjaram uma filha (O Código da Vinci, Doubleday 2003) e fizeram cúmplice de Judas (National Geographic Society, Abril 2006). Agora até descobriram um túmulo com os seus ossos por ressuscitar (Discovery Channel, Março 2007).
O mais notável nestas investigações sobre o "Jesus histórico" é a falta de lógica. Ninguém parece notar que, se Cristo não é Deus, então não passa de um carpinteiro meio maluco cujos ossos ou descendentes não interessam. Jesus só importa se for o filho de Deus. E nesse caso, o que merece atenção é, não os pormenores, mas a Sua presença e palavra, que mudam radicalmente a minha vida.
No meio da confusão, um livro marca a época: Jesus de Nazaré (Esfera dos Livros, Maio 2007), do Papa Bento XVI. Um dos maiores teólogos da actualidade, Joseph Ratzinger incorpora todos os avanços de conhecimento da ciência e investigação sobre a pessoa de Jesus. Mas sobretudo, com a sua habitual clareza e frontalidade, coloca a questão decisiva: "Aqui surge a grande pergunta que acompanha todo este livro: mas que coisa nos trouxe verdadeiramente Jesus, se não trouxe a paz do mundo, o bem-estar para todos, um mundo melhor? Que coisa trouxe? A resposta é muito simples: Deus. Trouxe Deus. (...) Ele trouxe Deus: agora nós conhecemos o Seu rosto, agora podemos invocá-lo. Agora conhecemos o caminho que, como homens, devemos seguir neste mundo. Jesus trouxe Deus e com Ele a verdade sobre o nosso destino e proveniência; a fé, a esperança e o amor. Só a nossa dureza de coração nos faz achar que isso seja pouco" (p. 67 da edição italiana). Esta é a única razão por que vale a pena aproximarmo-nos de Jesus Cristo.
O centro do livro surpreende até a teologia contemporânea, porque o Papa olha a religião em termos religiosos, um desafio nos tempos que correm. Nesta época de dinamismo e prosperidade, até os crentes consideram a fé como um instrumento útil e vantajoso. Mas "interpretar o Cristianismo como uma receita para o progresso e reconhecer o bem-estar comum como a verdadeira finalidade de todas as religiões e, por isso, também da cristã, é nova forma da tentação" (p. 66).
A razão da religião é esta: Deus vale só por Si. "Amo-te, não porque me podes dar o paraíso ou o inferno, mas simplesmente porque és quem és - meu rei e meu Deus" (p. 195).
O Iluminismo foi o único movimento cultural mundial que tentou fundar uma seita ateia e anti-religiosa. O fiasco é hoje evidente mas a sua sanha e fanatismo, da guilhotina ao gulag, estiveram entre os piores da História. E deixaram sequelas. Muitos leitores, mesmo crentes, continuam a ficar incomodados com um artigo destes neste local. Todos os temas são aceitáveis numa coluna destas, mas religião fica mal.
Aliás, uma das provas da crescente influência da religião está no facto de o ateísmo também viver um surto de expansão. Surge uma nova geração de obras violentamente anti-religiosas, desde The God Delusion do cientista britânico Richard Dawkins (Bantam Books, Setembro 2006) até ao recentíssimo God Is Not Great: How Religion Poisons Everything, de Christopher Hitchens (Twelve, Maio de 2007). Mais pacatamente por cá, onde acaba de sair a tradução de The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason, de Sam Harris (W.W. Norton, 2004; Tinta da China, 2007), João Carlos Espada, referindo outros sintomas do mesmo fenómeno, criou furor e foi insultado por citar Raymond Aron: "O ateísmo é o ópio dos intelectuais" (Expresso, 21 de Abril).
Tudo isto só confirma o interesse crescente por temas religiosos. Visitar uma livraria é ver a profusão de volumes sobre o tema, dos disparatados aos eruditos (normalmente os mais disparatados). Em particular, após dois mil anos, Jesus é um best-seller. Já lhe arranjaram uma filha (O Código da Vinci, Doubleday 2003) e fizeram cúmplice de Judas (National Geographic Society, Abril 2006). Agora até descobriram um túmulo com os seus ossos por ressuscitar (Discovery Channel, Março 2007).
O mais notável nestas investigações sobre o "Jesus histórico" é a falta de lógica. Ninguém parece notar que, se Cristo não é Deus, então não passa de um carpinteiro meio maluco cujos ossos ou descendentes não interessam. Jesus só importa se for o filho de Deus. E nesse caso, o que merece atenção é, não os pormenores, mas a Sua presença e palavra, que mudam radicalmente a minha vida.
No meio da confusão, um livro marca a época: Jesus de Nazaré (Esfera dos Livros, Maio 2007), do Papa Bento XVI. Um dos maiores teólogos da actualidade, Joseph Ratzinger incorpora todos os avanços de conhecimento da ciência e investigação sobre a pessoa de Jesus. Mas sobretudo, com a sua habitual clareza e frontalidade, coloca a questão decisiva: "Aqui surge a grande pergunta que acompanha todo este livro: mas que coisa nos trouxe verdadeiramente Jesus, se não trouxe a paz do mundo, o bem-estar para todos, um mundo melhor? Que coisa trouxe? A resposta é muito simples: Deus. Trouxe Deus. (...) Ele trouxe Deus: agora nós conhecemos o Seu rosto, agora podemos invocá-lo. Agora conhecemos o caminho que, como homens, devemos seguir neste mundo. Jesus trouxe Deus e com Ele a verdade sobre o nosso destino e proveniência; a fé, a esperança e o amor. Só a nossa dureza de coração nos faz achar que isso seja pouco" (p. 67 da edição italiana). Esta é a única razão por que vale a pena aproximarmo-nos de Jesus Cristo.
O centro do livro surpreende até a teologia contemporânea, porque o Papa olha a religião em termos religiosos, um desafio nos tempos que correm. Nesta época de dinamismo e prosperidade, até os crentes consideram a fé como um instrumento útil e vantajoso. Mas "interpretar o Cristianismo como uma receita para o progresso e reconhecer o bem-estar comum como a verdadeira finalidade de todas as religiões e, por isso, também da cristã, é nova forma da tentação" (p. 66).
A razão da religião é esta: Deus vale só por Si. "Amo-te, não porque me podes dar o paraíso ou o inferno, mas simplesmente porque és quem és - meu rei e meu Deus" (p. 195).
1 comentário:
muita bem
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