domingo, março 17, 2013

Little Lion Man

Qual é a diferença entre Little Lion Man e todos os outros discursos desesperados que prevalecem na música, sobretudo no Rock contemporâneo?
Encontramo-nos aqui perante palavras que com certeza, mesmo se de forma menos poética, já todos ouvimos: o discurso cínico de alguém mais velho (tornado mais cínico por serem as palavras dirigidas ao próprio filho), a tentar mostrar à geração seguinte que nada vale a pena.
Mas reparemos no refrão: A culpa não foi tua, foi minha, e era o teu coração que estava em jogo. A culpa foi minha, pois com estas palavras que te dirigi, neguei o desejo do teu coração (You’ll never be what is in your heart.)
As palavras que dizemos têm peso. Quantas vezes dizemos coisas sem pensar, ou mais interessados no nosso discurso sobre a realidade que naqueles que temos à nossa frente.
É esta a originalidade de Little Lion Man, não um discurso cínico sobre a vida, mas o reconhecimento do erro desse discurso, que procura abafar o desejo infinito do coração do homem, a única coisa importante que está sempre em jogo.


Little Lion Man/ Pequeno Leão
Chora por ti, meu homem,
Nunca hás-de ser o que tens no coração
Chora, meu pequeno leão
Não és tão corajoso como no principio
Avalia-te, sonda-te
Recolhe toda a coragem que te sobra
Desperdiçada em resolver todos os problemas criados pela tua cabeça

A culpa não foi tua, foi minha
E era o teu coração que estava em jogo
Eu estraguei tudo desta vez,
Não estraguei, meu querido?

Treme por ti, meu homem
Tu sabes que já viste tudo isto
Treme, meu pequeno leão
Nunca vais resolver nenhuma das tuas disputas
A tua graça é desperdiçada na tua cara
A tua bravura está só no meio das ruínas
Agora aprende com a tua mãe, ou então passarás o resto dos teus dias a morder o próprio pescoço

A culpa não foi tua, foi minha
E era o teu coração que estava em jogo
Eu estraguei tudo desta vez,
Não estraguei, meu querido?


segunda-feira, março 11, 2013

Mumford & Sons - Ghosts That We Knew.



O

O Evangelho de hoje foi o do filho pródigo. Todos os anos o Padre João faz a mesma homilia sobre esta Evangelho e todos os ano eu me comovo. Com a leitura e com a homilia.
 
Porque me lembra sempre a misericórdia com que sou olhado.”Não viste nenhuma falha, nenhuma fenda no meu coração (…) tu conheces o meu chamamento”.
 
A graça de ter alguém que me olha e vê, através do meu pecado e da minha desgraça, o meu valor é o que me faz cair na conta de que fui feito para o ser grande. Ou seja, fui feito para ser santo.

 

 

Ghosts That We Knew/ Fantasmas que conhecemos.
 
Tu viste a minha dor, lavada pela chuva,
Vidro partido, viste o sangue correr das minhas veias.
Mas não viste nenhuma falha, nenhuma fenda no meu coração.
E ajoelhaste-te à frente. A minha esperança rasgou-se.
Mas os fantasmas que conhecemos, vão desvanecer-se da vista,
E nós iremos viver uma vida longa.
 
Então dá-me esperança na escuridão e eu vou ver a luz.
Porque eles dão-me um tal susto!
Mas eu vou aguentar enquanto tu quiseres,
Promete-me apenas que nós estaremos bem.
 
Então leva-me de volta,
Vira para sul desse lugar,
E fecha-me os olhos para minha desgraça recente
Porque tu conheces o meu chamamento,
E nós iremos partilhar o meu todo,
E os nossos filhos virão e hão de me ouvir rugir.
 
Mas segura-me, enterra o meu coração no frio.
E segura-me, enterra o meu coração ao lado do teu.

sábado, março 09, 2013

Ter filhos: um dever cívico!

:
Em 2012 nasceram em Portugal noventa mil crianças. Menos sete mil do que em 2011. No ano em que eu nasci (1985) nasceram cento e trinta mil crianças. Na década em que o meu pai nasceu a média de nascimentos por ano era superior a duzentos mil. A esperança média de vida em Portugal hoje é de 80 anos. Quando eu nasci era de 72 anos. Quando o meu pai nasceu era de 60 anos.

Percebo que estes dados não tenham a mesma relevância para a discussão política actual que o desemprego ou o défice. Percebo que possa parecer ridículo vir falar de demografia enquanto o Estado Social parece desabar. Aliás, falar em filhos durante uma crise económica como a que estamos a atravessar parece quase irresponsabilidade.

Contudo confesso que o facto de cada vez haver menos crianças me parece uma ameaça maior ao Estado Social do que qualquer crise económica. É que mesmo que consigamos vencer o défice, o desemprego, repor a balança comercial, voltar aos mercados e tudo o resto a minha geração parece condenada. Não pela precariedade ou pelos salários de 1.000€ brutos (para os mais sortudos, que arranjam emprego). Mas porque neste momento existem sensivelmente tantas pessoas na minha faixa etária como na do meu pai e o Estado Social parece estar a implodir. Não quero pensar como será daqui a 30 anos quando eu tiver a idade do meu pai e houver (segundo os dados do INE) cerca de mais 130 mil pessoas da minha faixa etária do que da dos meus eventuais filhos.

Por isso uma politica de investimento na família não é uma mera questão social, é uma urgência económica. É evidente que o Estado não pode resolver este problema. Ter filhos é uma questão que só diz respeito às pessoas e na qual nem o Estado nem a Sociedade se deve meter.

Mas se o Estado não pode ter filhos pode adoptar medidas que facilitem a vida a quem os quer ter. É possível diminuir a carga fiscal das famílias numerosas através de maiores deduções no IRS, diminuindo a contribuição para a Segurança Social dos pais que tenham mais do que dois filhos, descendo o IMI das casas onde habitem famílias com muitas crianças. É possível criar legislação laboral que proteja mais as grávidas, garantido que não vão perder o seu emprego ou que não verão a sua progressão na carreira afectada por serem mães. É possível melhorar a rede de Creches e Jardins de Infância ou mesmo dar aos pais que optarem por ficar em casa com os seus filhos o mesmo valor que o Estado iria gastar se estes tivessem num estabelecimento público.

Uma política que favoreça a família não é uma opção ideológica ou moral. Não se trata de uma exaltação das antigas virtudes do Pater Familias que sustenta os filhos enquanto a mulher fica em casa a tomar conta da prole. Não é um ataque à mulher emancipada que escolhe a carreira em vez da maternidade. Não é a defesa da família dita tradicional contra os novos “modelos de família” da sociedade actual. É uma questão de pragmatismo que deve unir desde a direita mais conservadora à esquerda mais progressista.

Porque podemos encolher ou aumentar o Estado, podemos tornar maior ou diminuir a protecção laboral, podemos fazer milhares de coisas para defender o Estado Social ou simplesmente deixá-lo cair. Mas qualquer que seja a opção ideológica se não começarmos a ter mais filhos nem a Troika nem a indignação nos vale, ficamos mesmo sem reforma!

quinta-feira, março 07, 2013

Mumford & Sons - For Those Below.


 
“As circunstâncias que Deus nos concede são factor principal, e não secundário, da nossa vocação”.
 O desafio de amar alguém é ama-la por inteiro, com toda a sua circunstância. A tentação é amar apenas a imagem que temos de uma pessoa: daquilo que foi ou daquilo que poderá vir a ser.
 Se apenas ama-mos o passado ou o futuro de alguém estamos destinados à desilusão. Porque o tempo não volta para trás e o futuro com que sonhamos pode nunca chegar. É na circunstância actual que somos chamados a amar e a sermos felizes.

 

For Those Below/ Para os que estão em baixo.

 Ela está caída indefesa nas escadas,
Assombrando os teus dia, consumindo as tuas orações.
Haverá cura, mas não forces esta rapariga a levantar-se.
Enquanto ela conta os tectos com voz pálida e mão trémulas.

 Tu disseste-me que a vida era longa, mas agora isso foi-se.
Encontras-te no topo, como líder da manada,
Chamado a ser uma rocha para aqueles que estão em baixo.

 Notas sussurradas do piano no canto da sala.
Aguenta a tua garganta, é cura que tu ouves na sua melodia?
Desejando mudança, mas amando-a mesmo enquanto ela está caída,
É o fardo de um homem que construiu a sua vida sobre o amor.

 Eu vou ser fechado e armazenado,
Num hospício [ala de lavanda]
Porque a minha a mente é igual a dela
Tão quebrada, tão aleijada, tão queimada.

 E então eu encontro-me no topo, como líder da manada,
Chamado a ser uma rocha para aquele que estão em baixo.

terça-feira, março 05, 2013

À espera do novo Papa com Bento XVI: Oração e Silêncio.



Nas últimas vezes que nos falou, o nosso amado Papa Emérito Bento XVI pediu a nossa oração. Depois da sua última aparição em Castel Gandolfo deixa-nos o testemunho do seu silêncio.

Olhando para a fé desde homem, que não cede à tentação de achar que é ele que constrói a Igreja, não posso deixar de desejar uma fé assim para mim.

Por isso durante este tempo de Sede Vacante tenho tentado não ligar aos inúmeros artigos sobre quem deve ser o novo Papa e sobretudo, tenho tentado não pensar nem dizer nada sobre esse assunto. Desejo estar diante do Conclave com a mesma confiança em Nosso Senhor que tem o Pontífice Emérito.

Não que dizer que este ou aquele cardeal é bom ou daria um bom Papa faça mal. Ou que faça bem. A minha opinião para este assunto é totalmente irrelevante. Se o Espírito Santo a quisesse tinha feito de mim Cardeal.

Mas é colocar a questão em termos pequeninos. É reduzir o Papa à medida humana, encaixa-lo na nossa agenda. É verdade que o próximo Papa será humano. É verdade que será votado por homens. Mas este é o paradoxo da Igreja: uma realidade que, embora totalmente constituída por seres finitos, é totalmente transcendente.

Por isso não quero contribuir para o burburinho, nem quero ouvi-lo. Neste tempo de espera olhemos mais uma vez para Bento XVI e vivamos segundo o seu testemunho: em oração e silêncio.

Mumford & Sons - Sigh no More

 
 
Eu sou um pecador e um cobarde, mas desejo ardentemente ser como Deus me pensou. O amor, o amor verdadeiro, não a expressão do meu egoísmo ou dos meus caprichos, é a possibilidade de eu ser realmente homem.

Porque o amor como foi feito para ser é o da cruz: "ninguém tem maior amor do aquele que dá a vida pelos seus amigos".
 
O amor não é um sentimento. Quem vive de acordo com o sentimento é de facto escravo: escravo da mensagem que não chega, do olhar que não se cruzou, da data esquecida. Escravo da sua própria medida. Mas quem vive a sua vida como doação é verdadeiramente livre e verdadeiramente homem. Disso é supremo testemunho Cristo pregado na cruz:"Eu venci o mundo"!


Sigh No More/ Não Suspires Mais.

Serve Deus, ama-me e emenda
Isto não é o fim
Vive sem mancha, nós somos amigos
E eu estou arrependido
Estou arrependido.
Não suspires mais,
Um pé no mar e outro na costa
O meu coração nunca foi puro
Tu conheces-me

E o homem é uma coisa indecisa,
Oh o homem é uma coisa indecisa.
 
O amor não te vai trair,
Desanimar-te ou escravizar-te
Vai libertar-te.
Sê mais como o homem
Que foste feito para ser.
 
Há um desígnio
Um alinhamento, para gritar
Do meu coração para ver
A beleza do amor
Como foi feito para ser.

segunda-feira, março 04, 2013

Not with Haste



 

O fundamento da nossa Esperança não está nas nossas forças, mas na graça de um encontro com alguém que nos ensine, que nos sustente, nos mantenha a chama acessa. Sobretudo alguém que olhe para nós com amor, que olhe e ame quem de facto somos, mesmo com as nossas limitações: Do not let my fickle flesh go to waste/ As it keeps my heart and soul in its place.
Só com um encontro assim podemos também aprender a amar, com urgência, mas sem pressas. Como nos ensinava Don Giussani: “Não tenham pressa porque há o tempo, não tenham medo porque há a companhia”



Not with haste/ Sem pressa

Os teus olhos prendem-me com muita força
Nunca hei-de aprender a levantar as minhas defesas
Por isso, meu amor, mantém acesa a minha vela
Ensina-me com dureza, ensina-me bem.

Não é uma farsa
Sou o que sou

Mesmo que fale línguas antigas
Ou despeje palavras sagradas
Não tenho forças para falar
Quando me fazes sentar e vês que sou fraco.

Iremos correr e gritar, hás-de dançar comigo
Os nossos sonhos vão-se realizar e iremos ser livres
Seremos quem somos
Hão-de nos curar as nossas cicatrizes
A tristeza estará longe

E  enquanto passeávamos por campos verdes
O sol era o mais belo que alguma vez vira
E eu, quebrado, estava de joelhos, 
E disseste sim quando disse por favor

Não é uma fraude
Sou o que sou
Não deixarei tempo para uma mente cínica

Iremos correr e gritar, hás-de dançar comigo
Os nossos sonhos vão-se realizar e iremos ser livres
Seremos quem somos
Hão-de nos curar as nossas cicatrizes
A tristeza estará longe

Não deixes esta mente frágil desperdiçar-se,
Pois mantém o meu coração e a minha alma no seu lugar
Hei-de amar com urgência, mas sem pressa.

domingo, março 03, 2013

Mumford and Sons: Acorda a minha alma!

 
Tudo começou quando uma amiga me disse que eu tinha que ouvir uma música chamada Awake my Soul de uma banda chamada Mumford and Sons. Eu nunca tinha ouvido falar de tal música e ainda menos daquela banda. Mas perante a insistência da minha amiga decidi ir ouvir.

Na altura fiquei totalmente estupefacto. A letra era das coisas mais comovente que eu tinha ouvido nos últimos tempos. Falava do amor de uma maneira realista e directa, mas bela: “empresta-me a tua mão e iremos conquistá-los todos, empresta-me o teu coração e apenas o vou deixar cair; empresta-me os teus olhos, posso mudar o que vês, mas a tua alma tens que a manter totalmente livre (…) acorda a minha alma, foste feita para conhecer o teu criador”.

Fiquei tão espantado com aquela música que não ouvi mais nenhuma deles, achando que seguramente me iria desiludir. Até que li na revista Passos um artigo do John Waters onde diziam que só os U2, os Coldplay e os Mumford and Sons cantavam o humano.

Decidi então começar a investigar melhor as músicas deles. E foi uma descoberta extraordinária. Não porque concordasse com tudo o que eles cantavam, mas porque falavam sobre o homem. As letras reproduziam a experiência humana: a esperança, a dor, o amor, o limite, o perdão e a graça.

Todas as música contam uma história. História de amores desesperados, de projectos falhados, de sofrimento e de pecado mas sobretudo uma história de esperança e de confiança na graça: “Parece que todas a minhas pontes foram queimadas, mas tu dizes que é exactamente assim que esta coisa da graça funciona. Não é longo caminho para casa que irá mudar o meu coração, mas o acolhimento que eu recebo com o recomeço”

No dia 23 de Março eles vão dar um concerto em Lisboa (esgotado há vários meses). Daqui até lado tenciono ir pondo aqui várias músicas deles. Vale a pena o trabalho de descobrir Mumford and Sons. Sem qualquer pretensão poética eles limitam-se a cantar sobre a sua vida. Nesse canto é muitas vezes possível reconhecer a nossa própria experiência.