quarta-feira, outubro 23, 2013

Cristãos mortos no Egipto... e na Nigéria, e no Paquistão e um pouco por todo o mundo!

No passado fim-de-semana quatro cristão coptas egípcios foram mortos à saída de um casamento. Aparentemente este acontecimento não foi suficientemente importante para que a nossa imprensa desse por isso.
Mas devo dizer que acho este lapso compreensível. De facto o que são quatro mortos diante das dezenas de cristãos mortos no mês passado na Nigéria? E quem fala da Nigéria podia falar do Quénia ou do Paquistão. Ou dos cristãos condenado a prisão perpétua na Índia por um crime reivindicado por maoistas e que custou a vida a centenas de católicos em Orissa.
E não foi apenas no mês passado, a situação tem anos. Por exemplo, o que são quatro mortos diante dos 2.000 cristãos presos na Eritreia, muitos dos quais submetidos a tortura? Ou dos 200 mil cristãos que se viram forçados a fugir do Egipto desde a queda de Mubarak?  Ou dos 5.000 cristãos vitimas de perseguição na China em 2012? Ou os 791 cristãos mortos na Nigéria nesse ano?
De facto, quatro mortos são coisa pouca diante das perseguições a que os cristãos hoje estão sujeitos pelo mundo fora. Percebemos que os media não falem destes quatro morto, uma vez que há outras centenas de mártires para falar.
O problema é que não falam destes quatro e também não falam dos outros. O problema é que a imprensa continua a ignorar as centenas de mortos, os milhares de prisões e os milhões de refugiados cristãos.
A decisão do parlamento Russo de proibir manifestações de apoio aos movimentos gay dominou durante dias os nossos jornais. A perseguição sistemática a que os cristãos são sujeitos no Egipto, na Nigéria, no Paquistão, na Coreia do Norte, na China, na Eritreia, no Mali, no Sudão, no Vietname, na Bielorrússia, no Laos, no Sri Lanka, na Birmânia, no Irão, no Turquemenistão, no Iémen, no Iraque, na Síria, no Uzbequistão, na Índia e na Indonésia não consegue passar dos pés de página dos jornais quando lá chega.
Mas a não vale a pena fingir que a indiferença é apenas dos jornais porque também é nossa. É de todos nós, cristãos criados em países democráticos e que vivemos como se a nossa fé não tivesse nada que ver com a vida pública. Nossa que vivemos a nossa fé quase em segredo, como se tivéssemos medo de criar ondas ou de incomodar alguém.
Se nós não comovemos e não nos movemos por esta multidão de mártires como podemos ficar chocados pelos media não lhes ligar? Se diante da morte dos nossos irmãos a única coisa que sabemos dizer é “os jornais são indecentes porque não falam disto” ou “alguém devia fazer alguma coisa sobre isto, onde é que anda a ONU e a União Europeia?” então não vale a pena exigir que os outros façam alguma coisa.
Aos cristãos perseguidos pelo mundo fora, ignorados pelo poder do mundo, silenciados pela imprensa e esquecidos por nós resta-lhes contudo o mais importante: a certeza que o Senhor não esquece e que o seu nome está inscrito para sempre no Livro da Vida.

quinta-feira, outubro 17, 2013

Sobre a Inquisição em Portugal.


A Inquisição é provavelmente dos assuntos mais comentados e menos conhecidos em Portugal. Todas as pessoas tem opiniões sobre o assunto, baseadas nessa grande fonte de conhecimento que é o “toda a gentes sabe que... a Inquisição mandou o Galileu para a fogueira/ a Inquisição perseguiu todos os cientistas/ a Inquisição matou milhares de pessoas em Portugal/ durante a Idade Média a Inquisição/ etc...”.

Ao mesmo tempo, sempre que aparece alguém a proporcionar uma pequena informação histórica sobre o Santo Oficio levanta-se logo um coro de acusadores, que explica que estamos a defender a Inquisição e que no fundo, no fundo, somo anti-semitas e contra a ciência.

Ora, uma pessoa explicar que a Inquisição não foi como a cultura popular a pinta não o torna um defensor da mesma. Torna-o simplesmente numa pessoa intelectualmente honesta. Por exemplo, dizer que a Inquisição não matou Galileu, não quer dizer que eu ache que o Galileu foi bem castigado, quer dizer apenas que eu sei o suficiente de história para saber que ele foi condenado a prisão domiciliária até ao fim da vida.

Antes de mais é preciso perceber que quando se fala da Inquisição se fala em 3 tribunais diferentes: o Romano, o Espanhol e o Português. Todos eles tinham grandes diferenças entre si. Neste artigo vamos só falar da Inquisição portuguesa.

A Inquisição em Portugal nasce nos anos trinta do século XVI (já em pleno Renascimento) no reinado de Dom João III. Nasce num tempo complicado na Europa. Por um lado temos a divisão religiosa que apareceu com a Reforma e que acabou com a Republica Cristã.

Por outro nasce também no tempo em que a Europa está sobre forte ameaça do Islão. Os turcos, senhores do que sobrava do império bizantino, ameaçavam a Europa de Leste e começavam a dominar o Mediterrâneo.

Por fim, é também um tempo de grandes convulsões políticas. Um pouco por toda a Europa central e do sul os Habsburgo e os Valois travavam uma guerra sem quartel pelo domínio político.

Nestas lutas o reino de Portugal sempre teve uma posição clara: fidelidade à Igreja, guerra aos infiéis, neutralidade nas guerras entre cristãos. Contudo esta neutralidade não era fácil, dada a situação geográfica do país. Aparentemente só uma politica de empréstimos a Espanha, juntamente com muitos casamentos entre ambas as casas reais assegurava a nossa independência.

A Inquisição nasce por isso, não apenas por um desejo do rei de Portugal de pureza religiosa, mas também como instrumento de unidade política. Disso é prova a relutância com que a Santa Sé permitiu a criação de um tribunal português do Santo Ofício, pedido esse que já tinha sido formulado por Dom Manuel I e negado.

De facto, a Santa Sé tinha medo que o tribunal português seguisse o caminho do espanhol e se tornasse demasiado independente (como se veio a verificar pelas constantes relações conflituosas entre o papado e a Inquisição portuguesa).

Por isso a Inquisição no nosso país sempre teve esta composição mista, de um tribunal que dependia tanto do Papa como do Rei e que muitas vezes entrava em conflito com um dos dois (regra geral nunca com os dois ao mesmo tempo, porque quando estava em conflito com o rei recorria ao Papa e vice-versa).

Dito isto, o que era concretamente a Inquisição? Era um órgão judiciário responsável por combater as heresias. Claro que a noção de heresia era bastante vasta. Por exemplo a bigamia era do foro da Inquisição porque o acusado descria do sacramento do matrimónio.

O Tribunal do Santo Oficio não era contudo um tribunal igual aos outros tribunais do reino. Não o era porque não dependia totalmente do poder real. Por outro lado, também não dependia da hierarquia da Igreja portuguesa, mas sim directamente de Roma. Isto permitiu à Inquisição alcançar um grande poder e autonomia, que só seria diminuído no consulado do Marquês de Pombal.

A Inquisição, dentro da sua missão de combate à heresia, tinha duas grandes áreas de acção. Por um lado tentava corrigir os hereges. E aqui podemos ver uma grande diferença entre a Inquisição e os outros tribunais. Nos tribunais o normal é procurar saber se há ou não culpa do acusado para depois lhe aplicar a pena devida. A Inquisição procurava sobretudo o arrependimento dos acusados. Por isso para este tribunal a morte de um dos acusados era uma derrota. O que Inquisição procurava era o seu arrependimento público.

Para se ser considerado herege era preciso ser-se católico, ou seja baptizado. O tribunal só tinha jurisdição para julgar os baptizados. Para além destes só podia julgar não católicos que impedissem o trabalho do Santo Oficio.

O grande problema foi que, no tempo do Dom Manuel, os judeus que não tinham sido expulsos foram baptizados à força. A justificação para este acto é que os judeus não tinham suficiente discernimento e que por isso o rei teria legitimidade para forçar a sua conversão.

Este acto deu origem a milhares de cristãos-novos. Regra geral judeus que só formalmente eram católicos e que, embora cumprissem exteriormente as obrigações de um católico (para não serem julgado hereges), em segredo continuavam as suas práticas judaicas.

Por diversas vezes Roma condenou o baptismo forçado dos judeus, sendo que muitos dos que foram julgado pela Inquisição portuguesas apelaram para Roma e viram os seus baptismos declarados inválidos.

A outra área de acção da Inquisição era a censura sobre as ideias herética. Havia o Índex, com livros proibidos. Era necessária autorização do Santo Oficio para a impressão de livros novos. Os livros proibidos (e aqui não se tratava só de livros religiosos, mas também de livros que faziam mal ao espírito, tal como os livros eróticos) eram confiscados. Alguém que fosse discutir a sua tese na Universidade tinha que submete-la primeiro ao Santo Oficio.

Em Portugal a Inquisição tinha três mesas: Lisboa, Évora e Coimbra. Em todas elas havia Inquisidores e promotores (para além de outros funcionários menores, como meirinhos e guardas). Havia um Conselho Geral, que tinha poderes de supervisão sobre as três mesas do reino. À cabeça do tribunal estava o Inquisidor Geral.

Na Inquisição em Portugal tiveram papel importantíssimo os familiares do Santo Oficio. Pessoas que pertenciam a este tribunal, mas que não era funcionários, que tinham poderes para denunciar, revistar e até mandar prender suspeitos de heresia. Embora não fossem assalariados o estatuto de familiar do Santo Oficio dava direito a vários privilégios para além de ser uma honra social.

Do ponto de vista processual havia três grandes diferenças entre este tribunal e os outros. A primeira era de que bastava um testemunho para fazer prova. A segunda era de o processo era secreto, não tendo sequer o acusado direito a informação sobre ele. O último era de que bastava a acusação para o confisco dos bens. Estes três pontos sempre foram muito contestados, inclusivamente pela Santa Sé.

Ainda na questão dos procedimentos havia outras diferenças entre o Santo Oficio e os restantes tribunais. Só se podia aplicar a tortura a quem fosse declarado fisicamente apto para tal pelos médicos. A tortura não podia deixar sequelas físicas permanentes. Durante a tortura havia sempre um médico presente que podia mandar interromper a tortura. Os presos pobres eram alimentados e mantidos a expensas do tribunal, ao contrário do que acontecia nos outros tribunais onde dependiam da Misericórdia.

Por fim alguns dados: a Inquisição portuguesa condenou a morte cerca de 1.000 pessos nos seus 285 anos de existência. Só em 11% dos casos foi utilizada a tortura. Os processos da Inquisição demoravam em média um ano. O último condenado à morte pela Inquisição em Portugal foi o padre Gabriel Malagrida, cuja principal razão para a condenação foi a sua oposição ao Marquês de Pombal. A Inquisição em Portugal foi extinta em 1821, por decisão das Cortes.

A Inquisição cometeu muitos erros e muitos abusos. Mas é uma instituição filha do seu tempo. Nasce e vive num tempo onde a tortura era um meio de obtenção de prova considerado normal e onde os crimes que tinham pena de morte eram muitos. Falamos também de um tempo onde os delitos de opinião eram muitas vezes crime.

A Inquisição é por isso fruto da sua época. Do centralismo do poder régio, da divisão religiosa, de uma maneira de olhar e praticar a justiça que hoje nos é estranha. Podemos sempre questionarmo-nos se a Igreja não devia fazer melhor que os outros. Não podemos é continuar a fingir que este tribunal foi um objecto estranho caído do céu.

 

BIBLIOGRAFIA

História de Portugal; Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Gonçalves Monteiro; Esfera dos Livros, 2010.

História de Portugal Vol. - I; Fortunato de Almeida; Bertrand 2003.

História da Inquisição Portuguesa; Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva; Esfera dos Livros, 2013.

Dom João III; Ana Isabel Buesco; Círculo de Leitores 2005.

quinta-feira, outubro 10, 2013

Portugal, o Eterno Adolescente.


Em Portugal o poder político em geral, e a esquerda em particular, desconfiam imensamente das pessoas. Para a maior parte dos nossos governantes em caso dúvida o Estado governa melhor a vida de cada cidadão do que eles próprios.
1. Caso exemplar disso é a reacção ao anúncio do Ministro da Educação de que o ministério passaria a apoiar directamente os alunos (mesmo que os seus pais escolhessem coloca-los no ensino particular) em vez de apoiar as escolas. Parece-me evidente que esta medida é totalmente razoável. O Estado apoia os pais na sua tarefa de educar os filhos, mas dá-lhes a liberdade de escolher.
Mas logo se ouviram um coro de objecções: o fim da escola pública; os privados não são melhores que o público; isto vai favorecer os mais ricos.
Todas estas objecções têm algum fundo de verdade, mas passam ao lado do ponto principal da questão: que não cabe ao Estado educar as crianças, mas aos pais. Os pais não são irresponsáveis, vão tentar que os filhos tenham a melhor escola possível. Logo uma medida que lhe dá mais opções é uma boa medida.
Mas no campo da educação esta questão é apenas a ponta do iceberg do estatismo português. Basta pensar por exemplo que é o ministério que contrata as empresas de catering de todas as escolas. Ainda este Verão ouvi a história de uma escola no Alto Alentejo onde a empresa que fornecia comida servia arroz trinca às crianças e a direcção não podia fazer nada a não ser esperar pela decisão do ministério.
Outro exemplo é a eleição da direcção das escolas onde os pais tem muito pouco a dizer. Ou a absurda colocação de professores por concurso nacional.
Toda a educação das nossas crianças é decidida entre a 5 de Outubro e a 24 de Julho e os pais não são tidos nem achados nesta conversa.
2. Mas a desconfiança do poder em relação às pessoas não se limita à educação. Todo o nosso sistema político está montado na base de que não se pode confiar nas decisões do povo. A começar pela Constituição que consagra os círculos plurinominais e o método de Hondt. Assim garante que as pessoas só podem eleger para o Parlamento quem os partidos decidirem.
Outro exemplo claríssimo é a Lei da Limitação dos Mandatos, que tanta polémica tem levantado. Como é possível que em democracia se restrinja os direitos políticos de um cidadão pelos simples facto de já ter exercido um cargo? Para isso serve o voto, não a lei.
E esta desconfiança não é só nestas coisas grandes e importantes, mas chega aos pormenores mais absurdos. Veja-se por exemplo a obrigação de um adulto usar cinto de segurança. O único afectado pelo não uso do cinto é o próprio. Porque razão tem o Estado que decidir se eu prefiro viajar de maneira mais ou menos segura?
                3. Mesmo passado quase quarenta anos de democracia ainda não conseguimos ultrapassar a mentalidade que os dezasseis anos de Iª República (que considerava o povo demasiado inculto para decidir) e quarenta e oito anos de Estado Novo (que achava o povo demasiado inocente para enfrentar os perigos do mundo moderno) inculcaram na mentalidade portuguesa.
Vivemos reféns deste complexo de que Estado (essa entidade abstracta) é um pai que vela por nós. E pelos visto preferimos continuar a viver esta adolescência tardia. Sem deveres, sem responsabilidade, mas também sem direito a decidirmos da nossa vida.

sexta-feira, setembro 27, 2013

Entrevista ao Papa: Alguma Coisa que Vem Antes.

Foi publicada na semana passada uma entrevista que o Papa Francisco concedeu ao director da revista La Civilita Catolica (revista dos jesuítas italianos). A entrevista foi feita em Agosto, mas só agora publicada. Uma das razões para esta demora foi a vontade dos responsáveis jesuítas em publicar a entrevista traduzida em várias línguas de maneira a evitar possíveis más interpretações.
A tentativa foi boa, mas não conseguida. Os media, que tendem sempre a ler naquilo que o Papa diz e faz o que não está lá, trataram de salientar a parte em que o Santo Padre falou sobre o aborto e a homossexualidade. Segunda os nossos jornais o Sumo Pontífice teria dito que a Igreja vivia obcecada com estes temas.
Mas esta má interpretação dos media não me choca nada. Já estamos totalmente habituados. Foi assim com João Paulo II, foi assim (repetidamente) com Bento XVI e tem sido assim com o Papa Francisco.
O que me chocou foi ver tantos católicos a fazerem fé no que os media disseram para, mais ou menos abertamente, criticar o Santo Padre. Sendo que muitos dos que agora crêem piamente no que a imprensa diz sobre o Papa passaram todo o pontificado do Papa Emérito a criticar o facto de que os jornalistas distorciam tudo o que Bento XVI dizia.
Em relação às questões que nós chamamos fracturante disse o Papa: «Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente».
Esta afirmação levantou um coro de “virgens ofendidas”. Muitos ficaram chocados, dizendo que o Papa não apoiava os católicos que combatem pelo casamento e pela vida.
Esta escândalo nasce de uma redução de o cristianismo a um conjunto de doutrinas.  Mas fé da Igreja não nasce de um conjunto de regras, mas do encontro com Cristo presente nesta realidade que é a Sua Igreja. As regras, a doutrina, são uma consequência desse encontro.
“Não matarás” não é um artigo de fé, tal como não o é a santidade do casamento. Estes dois preceitos são consequência da fé. Não é possível afirmar Cristo e não respeitar estas regras, tal como não é possível amar uma mulher e ser-lhe infiel.
Se amas a Cristo então deixas que Ele te mude. Desejas olhar o mundo como Cristo te olha. Para isso é preciso conhecer a Sua doutrina, é preciso respeitar as suas regras. Voltando ao exemplo da mulher amada: se amas uma mulher queres saber quais sãos os filmes que ela gosta, que comida prefere, que livro lê. Tentas fazer o que te é possível para lhe agradar.
Um homem não se deixa mudar por uma mulher que não ame. Ora também é impossível seguir a Doutrina da Igreja sem amar a Cristo.
Falar apenas das consequências é saltar por cima do mais importante. O primeiro passo é encontrar Cristo. Para isso é preciso anuncia-Lo. O resto (a doutrina) é consequência inevitável desta relação.

sábado, julho 06, 2013

Os contos de Fadas

Há uns dias, uma amiga, sabendo-me devorador inato e defensor acérrimo dos contos de fadas, pediu-me para lhe escrever umas linhas a explicar a importância deste género literário.
Mais não fiz que uma pequena síntese do que foi escrito pelos grandes mestres dos contos de fadas: G. K. Chesterton, C. S. Lewis, e, claro, J. R. R. Tolkien.

Por incentivo do Zé, publico-o aqui:


domingo, junho 30, 2013

O Senhor dos Anéis: um testemunho de fé.



O Senhor dos Anéis é sem dúvida o meu livro preferido. Desde a primeira vez que o li, há 16 anos, todos os anos o volto a ler. E de cada vez descubro uma coisa nova. Um pormenor ou uma situação de que ainda não tinha dado conta.
O que me fascina em O Senhor dos Anéis é o seu profundo cristianismo. É verdade que não há nenhuma referência a Deus no livro. De facto Tolkien fez questão de suprimir qualquer menção religiosa da obra. E contudo, ainda não encontrei nenhum romance tão cristão como este.
Tolkien considerava que os mitos eram reflexos da Verdade. Eram aquilo que o homem era capaz de compreender da realidade sem a revelação. De facto, para Tolkien, a história da Revelação era um mito como os outros, com a diferença substancial de que era Verdade.
Por isso O Senhor dos Anéis é um mito. Mas um mito escrito por um cristão. Um mito escrito por homem que ia a missa diariamente, que fazia adoração ao Santíssimo diariamente, que se confessava semanalmente. Um homem para quem a sua vida, e a sua obra, eram inseparáveis da sua fé.
E por isso ler O Senhor dos Anéis é ler um livro de aventuras, mas que parte de um juízo cristão sobre a realidade. Tolkien não procura reescrever a história da Revelação, nem tão pouco fazer uma analogia como Lewis nas Crónicas de Narnia.
Tolkien quer apenas contar uma história. Mas uma história que parte da sua humanidade. Por isso nos fala da luta entre o bem e o mal. Mas não a luta entre o bem e o mal abstracto, mas a luta que se trava dentro no coração de cada homem. Por isso nos fala do pecado, mas também da misericórdia e do arrependimento. Por isso nos fala da heroicidade, mas também de como só o Desígnio daquele que é ainda mais poderoso do que Sauron pode salvar a Terra.
Nada disto é propositado (como o próprio afirma). A obra não é católica porque Tolkien a pensou de forma católica. Não é uma obra de apologia cristã. O Senhor dos Anéis é católico porque Tolkien o é. E por isso para ele é evidente a tentação, é evidente o limite do homem e é evidente que só Deus pode salvar a humanidade ferida.
E isto para ele é tão verdade na sua vida, como no mundo que ele imaginou. Por isso vale a pena ler O Senhor dos Anéis. Não procurando significados ocultos ou comparações fantasiosas. Nem Frodo nem Gandalf são Jesus e Galadriel não é Nossa Senhora. A grandeza deste livro é ser possível reconhecer nele um homem que vive a toda a sua vida, incluindo a sua escrita, diante do Mistério de Deus.

quinta-feira, junho 06, 2013

Homem e Mulher.

Ao telefone no outro dia uma amiga dizia-me que a questão da adopção e do casamento por pessoas do mesmo sexo era uma questão de direito e não de moral. Acrescentava que os homossexuais eram iguais aos heterossexuais diante da lei e que por isso era favorável ao casamento e à adopção por pessoas do mesmo sexo.
Eu, tenho que dizer, concordo com quase tudo o que ela dizia. Acho sem dúvida que estas questões são questão de direito e não de moral. Acho também que todos devemos ser iguais diante da lei. O problema é que não acho que a consequência seja estas recentes alterações às leis da família.
Comecemos pelo que me parece ser a primeira questão. A última alteração ao artigo 13º da Constituição (ninguém pode ser descriminado) introduziu no nosso ordenamento jurídico a expressão “Orientação Sexual”.
O problema é que a orientação sexual é um facto totalmente vago. Porque uma pessoa não se define pela sua sexualidade. De facto nós muitas vezes, para facilitar o debate, falamos em heterossexuais e em homossexuais. Mas estes termos são vazios. O que é um homossexual? É alguém que sente atracção por pessoas do mesmo sexo? E se for celibatário? E se uma pessoa que se sente atraída por pessoas do sexo oposto for celibatário, qual é a sua orientação sexual?
Uma pessoa não é homossexual ou heterossexual. Uma pessoa pratica actos homossexuais ou heterossexuais e tem relações homossexuais ou heterossexuais. Sentir-se atraído por A ou por B não é uma escolha, mas as praticas sexuais são.
Claro que ninguém deve ser descriminado pelo que faz com outro adulto, desde que respeite a sua liberdade. Todos os cidadãos são livres para usarem o seu corpo e o Estado deve garantir que essa liberdade é respeitada.
Isto é importante porque ajuda-nos a perceber que o que está em causa, quer no casamento entre pessoas do mesmo sexo, quer na adopção, não é uma descriminação. Um homem negro que queira casar com uma mulher branca é a mesma coisa que um homem branco que quer casar com uma mulher branca. A única diferença é a cor da pele! Um homem que quer casar com outro homem é algo de substancialmente diferente de um homem que casa com uma mulher.
Descriminação é tratar dois homens de maneira diferente por serem de cor ou religião diferente. Descriminação é tratar uma mulher de forma diferente só por ser mulher. Não é descriminação dar o mesmo tratamento a todos os homens.
Muito pelo contrário, o que é discriminatório é tratar dois homens de maneira diferente só porque um tem relações com outro homem e o outro não. Dois irmãos homens não podem ser os dois pais de uma criança, mas dois homens casados podem. Duas irmãs que vivam junta não podem apresentar uma declaração de IRS conjunta, mas duas mulheres unidas de facto podem!
Esta introdução ajuda a perceber a questão do casamento. O casamento não foi criado pelo Estado. Desde sempre que existe. O homem sempre se juntou à mulher para ter família.
O Estado, reconhecendo a utilidade social deste facto, decidiu protegê-lo e regulá-lo. Garantiu que havia uma idade mínima para o consentimento matrimonial, que os cônjuges possuíam um conjunto de direitos que não os deixava à mercê um do outro, quais os deveres que advêm do casamento.
O Estado não pode alterar a realidade. Não pode, só porque os deputados o decidem, que o casamento afinal não é a união entre pessoas de sexo oposto com o fim de constituir família, mas sim a união de duas pessoas por um contrato a que o legislador chama casamento. É o mesmo que dizer que atacar sem razão uma pessoa na rua é Legitima Defesa.
Isto não impede que duas pessoas tenham uma relação. O Estado não tem nada a ver com isso. O Estado não regula afectos. O conservador civil não pergunta a ninguém se eles se amam ou deixam de amar. O Estado só está interessado em saber se os noivos se comprometem a cumprir os deveres legais que constituem o casamento.
A lei que previa que o casamento era só entre homem e mulher não proibia ninguém de se casar. Dentro daquilo que é o casamento. Uma pessoa com tendências homossexuais sempre se pode casar, com os mesmos direitos com uma pessoa que não tenha essas tendências. Dentro daquilo que é o casamento.
Mas a questão da adopção é ainda mais grave. Porque de facto existe um direito a casar-se e a constituir família. Mas não existe nenhum direito a ser pai ou mãe. A paternidade é um facto. Um facto que gera deveres. Mesmo os direitos que se geram com a paternidade (de educar os filhos, de gerir o seu património) são direitos-deveres. São direitos que a) têm que ser exercidos; b) têm que ser exercidos tendo em vista o bem da criança.
O instituto da adopção não foi criado para satisfazer a necessidade das pessoas que querem ter filhos e não conseguem ou que querem ter ainda mais filhos dos que aqueles que já têm. As crianças não são um objecto para que os adultos tenham direito a elas. Devo confessar que sempre que oiço alguém a dizer que tem o direito de ser pais me apetece dizer que é melhor comprar um gato para lhe fazer companhia, porque claramente está a confundir uma criança com um animal de estimação.
A adopção existe para aquelas crianças que não têm família ou que por qualquer razão foram definitivamente retiradas à família. Existe para recriar aquela que deveria ser a situação natural (que é viver numa casa, com um pai e uma mãe) e que por alguma razão (morte, abandono, violência) não existe.
Ora na adopção o que conta é um superior interesse da criança, não os eventuais direitos dos adultos. Por isso aqui a questão não é de direitos, mas simplesmente de perceber o que é melhor para a criança.
Ora uma criança precisa de um pai e de uma mãe. Porque Homem e Mulher são diferentes e complementares. E perceber isto é uma coisa importante para uma criança. Mesmo nas situações em que um dos pais não está presente, a criança sabe que há alguma coisa que falta.
A adopção por pessoas do mesmo sexo não se limita a negar a criança o pai ou a mãe. Afirma que ter pai e mãe é indiferente. Que ser homem ou mulher é a mesma coisa. E isso é uma violência sobre a criança, viola a sua natureza. Porque aquilo que é próprio do seu sexo é reprimida por esta ideologia que dita uma rapaz ou uma rapariga tem que ser andróginos.
Porque o amor é importante mas não é a única coisa que uma criança precisa. Se assim não fosse não haveria qualquer problema com as crianças que crescem em instituições onde são muitíssimo amadas por quem lá trabalha. Lembro-me por exemplo da Casa do Gaiato ou das Irmãs da Caridade: dificilmente se encontrará maior amor do que aquele que é dados as crianças nessas casas.
Porém a criança precisa de uma família, de pai e de mãe. Ou pelo menos de saber que há pai e que há mãe. Permitir a adopção por pessoas do mesmo sexo é impor por decreto uma igualdade que a natureza nega.
O casamento entre homem e mulher, a família com pai e mãe não são uma questão moral ou religiosa. São realidades naturais que o Estado reconhece e tem o dever de proteger. Defender que dois homens se podem casar ou que duas mulheres podem ser ambas mãe lembra-me sempre uma cena da Vida de Brian onde um grupo de rebeldes judeus culpa os Romanos pelo facto dos homens não poderem ser mães.

quinta-feira, maio 30, 2013

Pai e Mãe, uma Questão Evidente.

Existem factos que são evidentes, ditados pelo senso comum. Por exemplo, que o melhor para uma criança é ter um pai e uma mãe.
Isto não é fruto de uma teoria, mas da experiência. Basta olhar para ver que uma criança necessita de pai e de mãe, não apenas para ter dois adultos que o amem, mas porque homem e mulher são diferentes e complementam-se. Se falta algum deles, isso não é bom.
Por isso é que a ausência de um dos pais é sempre considerada um problema. Mas, mesmo nas situações em que um dos pais está ausente é normal haver uma figura que de alguma maneira preenche a ausência deste: um avô, um tio ou o companheiro da mãe (digo isto, porque na maior parte das famílias monoparentais falta o pai)
Quando não há ninguém que faça esse papel, é sempre um menos para a criança. Claro que isto não impede nenhuma criança de ser feliz, mas é menos bom do que haver um homem e uma mulher que eduquem a criança.
Ora, os defensores da adopção por pessoas do mesmo sexo tem exigido estudos que comprovem estas afirmações.  A frase preferida do lobby LGBT é “não há estudos que provem…”. Para começar isso é mentira, há estudos que demonstram estas afirmações.
Mas sobretudo, não é preciso nenhum estudo para demonstrar uma evidência. Eu não preciso de nenhum estudo para provar que a minha mãe não me envenena a comida, todas as evidências apontam para esse facto.
Por isso, se alguém quiser acusar a minha mãe de envenenar a minha comida, eu não tenho que apresentar nenhum estudo a dizer que isso é mentira. Podia fazê-lo, mas seria absolutamente ridículo. Aliás, se eu chegasse ao pé de alguém e dissesse “a minha mãe não me envenena a comida, porque eu mandei analisar num laboratório dez refeições aleatórias que ela preparou e em nenhuma havia um indício de veneno” essa pessoa diria que eu era louco.
Dizer que não há nenhuma prova de que o melhor para uma criança é ter pai e mãe é tão ridículo como isto. Por isso, quem acha que é indiferente ter pai e mãe, ou ter dois pais, ou ter duas mães é que tem que provar esse facto. E tem que o provar de maneira incontestável. Porque está a negar uma evidência que foi verificada ao longo de milhares de anos.
Para o nosso tempo o bom senso não tem valor. Por isso tentam esconder através da “aura” dessa nova religião que são os “estudos científicos” aquilo que todos nós sabemos: que uma criança nasce sempre da união entre homem e mulher (mesmo que o homem seja um dador anónimo de esperma) e que sem essa complementaridade, imposta pela natureza, não há crianças
Por isso, eu não apresento nenhum estudo que defenda o óbvio (mesmo sabendo que eles existem). Quem quer negar a realidade é que tem que apresentar provas. Se não qualquer dia estou eu a mandar analisar a comida da minha mãe num laboratório…

quarta-feira, maio 29, 2013

O Nosso Tempo: O Tempo da Barbárie!

Em qualquer discussão que se tenha sobre os chamados temas fracturantes ou sobre religião aparece sempre um argumento que supostamente acaba com a discussão: “já não estamos na Idade Média, estamos no século XXI”. Segundo os defensores desta tese o nosso tempo é um tempo verdadeiramente civilizado e qualquer argumento do “passado” é inaceitável.
Antes de mais gostaria de lembrar que a Idade Média foi um período de mil anos onde aconteceram muita coisa. Só quem nada sabe de história é que ainda pode utilizar o velho argumento da Idade das Trevas. Relembro que a esta suposta fase “negra” da história é o tempo que começa em Santo Agostinho e acaba com Santo Inácio, Santa Teresa de Ávila e São Pedro de Alcântara. Não nos podemos esquecer que a Idade Média é também o tempo de Dante, Giotto e Petrarca. É o tempo da Catedral de Notre Dame, da Catedral de Colónia e da Catedral de Chartres. É na Idade Média que nasce a Universidade: Bolonha, Oxford, Paris. Muitos outros milhares de exemplos podiam ser dados a favor da Idade Média (o tempo do Pobre de Assis e de São Tomás) mas não me parece necessário.
Se por um lado já é disparatado falar da Idade Média como um tempo bárbaro, também não me parece lógico referir o nosso tempo como o tempo da verdadeira civilização.
O século XX, que tantos gostam de elogiar, foi o tempo das maiores barbaridades da história.
Comecemos pela Iª Guerra Mundial. Sem nenhum motivo aparente que não desentendimentos fronteiriços e uma grande dose de testerona os povos da Europa lançaram-se uns contra os outros numa guerra que vitimou pelo menos 16 milhões de soldados.
Em 1917, ainda durante a guerra, os Bolcheviques tomaram o poder na Rússia. A guerra civil que se lhe seguiu matou milhões. Mas não foi só a guerra, a fome e a miséria que o sistema comunista impôs vitimou quase tanto como a guerra.
No seguimento do tratado de Versalhes milhares de pessoas foram desalojadas para satisfazer as potências vencedoras. A Alemanha foi saqueada a uma escala nunca vista até então, mesmo pelos países democráticos como a França.
Em Itália e na Alemanha foram criados regimente totalitários que ainda antes da Segunda Grande Guerra foram responsável por prisões e mortes por motivos meramente políticos.
Os anos 30 foram marcados pela República Espanhola, que perseguiu activamente a Igreja Católica queimando Igrejas e Conventos e matando milhares de Católicos. Nada de novo aliás, se pensarmos nas perseguições que a Igreja era alvo na altura no México. Mas a República Espanhola teve um fim violenta com a Guerra Civil, que acabou com mais uns milhões de mortos e com novo regime ditatorial, que se entreteve a perseguir os vencidos.
Mas o fim da Guerra Civil não trouxe a paz à Europa (ao mundo não seguramente, pois a guerra civil da China entre comunistas e nacionalista continuava a vitimar milhões de pessoas). De facto foi o prelúdio do maior conflito que o mundo já viu.
 A IIª Guerra Mundial foi responsável por milhões de mortos em todo o mundo. E, ao contrário da anterior guerra mundial, as principias vítimas não usavam uniforme. Os tão gabados avanços tecnológicos permitiram arrasar cidades inteiras. Esta guerra foi provavelmente a primeira guerra desde a antiguidade em que o número de civis mortos foi muitíssimo maior do que o de soldados.
E não é possível esquecer a perseguição de que os Judeus foram alvo durante o regime Nazi e que se intensificou com a guerra. De facto Hitler utilizou os métodos mais modernos e as mais recentes tecnologias para exterminar todos os que considerava inimigos da raça ariana.
Mas, ao contrário dos mitos, a violência não acabou com fim da Guerra. Nos últimos 50 anos do século XX as guerras foram tantas que é impossível lembrar todas. Para além das mais famosas, como a Guerra da Coreia ou a do Vietname, tivemos milhares de “pequenas” guerras civis. Um pouco por todo a Ásia e África velhos conflitos étnicos foram vestidos com a roupagem do marxismo para parecem modernas.
Ainda no século XX não nos fiquemos por acontecimento com 40 ou 50 anos. Lembremo-nos que depois da queda do Muro, assistimos aos massacres na Jugoslávia, ao genocídio no Ruanda ou à Guerra do Kosovo (para não falar na primeira guerra do Iraque).
O Século XXI abriu com o 11 de Setembro e os atentados terroristas que se lhe seguiram. A resposta do Ocidente foi clara: Guerra no Afeganistão e no Iraque.
Contudo isto são conflitos menores se pensarmos no genocídio do Darfur, da constante violência na Somália ou no número de assassinatos do narcotráfico no México.
Nos nossos dias os cristãos são perseguidos em boa parte da África, na Arábia Saudita, na Índia, na China, só para dar alguns exemplos. O tráfico de pessoas atinge número nunca vistos.
Mas não é só no mundo que o Ocidente considera pouco civilizado e indigno deste século que reina a barbárie. Nunca é de mais lembrar que quase todos os países que se acham civilizado permitem o aborto livre, a experimentação em embriões e começam a permitir a eutanásia. Na Holanda já existe um partido a favor da Pedofilia!
Por todo o Ocidente o número de nascimentos diminui, os velhos vivem sozinho e milhões de pessoas vivem na rua e na pobreza.
Por tudo isto gostava que me explicassem porque razão é que o nosso tempo reclama uma superioridade moral em relação aos séculos anteriores? A próxima vez que alguém argumentar que certas questões não se colocam no século XXI não poderei deixar de responder que longe de isso ser uma resposta, é exactamente o problema.

sexta-feira, maio 24, 2013

O Papa que veio do fim do mundo.

A falta de tempo e sobretudo, devo confessar, a falta de inspiração tem-me impedido de escrever sobre a eleição do Papa Francisco.
Este dois meses tem sido um espectáculo da Graça. De facto Nosso Senhor tem nos habituado mal. Depois do Beato João Paulo II todos pensámos que era impossível suceder-lhe um Papa tão bom como ele. Mas o Bom Deus enviou-nos Bento XVI: o paladino da Igreja, o defensor da fé! Um mestre, um santo, um pai! O pontificado do nosso querido Papa Emérito foi de facto extraordinário. Só o que fez e disse entre o anúncio da sua renúncia e o começo da Sede Vacante já teria justificado a sua eleição para a Cadeira de Pedro.
E para suceder a estes dois santos o Espirito Santo foi à argentina buscar Giorgio Mario Bergoglio. Um total desconhecido! E que bom tem sido descobrir o Papa Francisco.
Não o Papa Francisco dos media, mas o Papa Francisco que se revela nos seus gestos e nas suas homilias, cheios de amor a Cristo e a Sua Mãe.
De todas as coisas extraordinárias que já aconteceram neste pontificado, desde a Sua primeira homilia (“quem não professa Cristo Crucificado, professa o demónio”) até ao passear-se no meio do povo durante uma hora, houve duas que me tocaram especialmente.
A primeira foi na visita do Papa reinante ao Papa emérito, quando Francisco ofereceu a Bento um ícone com Nossa Senhora da Humildade, dizendo “lembrei-me logo do Seu Pontificado”. Comoveu-me porque durante semanas os media tinham sempre falado da humildade do Papa Francisco como se os seus antecessores, e especialmente Bento XVI, não o fossem. E o Papa Francisco quis demonstrar claramente que para ele a verdadeira humildade era a do Seu antecessor.
A segunda coisa que me impressiona é a sua maneira de falar. Sempre sorridente, sempre simples, mas nunca morno. Fala com clareza da sã doutrina: seguir Cristo, amar Sua Mãe, ser fiel à Igreja, não ceder ao demónio. De maneira inteligente tem usado a Sua lua-de-mel com os media para dizer coisas que eram impossíveis aos seus antecessores. E com simplicidade vai reafirmando muitas das coisas pelas quais Bento XVI, desde que era Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tinha sido atacado: Só Cristo salva o homem, só há salvação na Igreja, a necessidade de mais evangelização e menos activismo social.
Eu amo o Papa porque é Pedro. A pedra sobre a qual Cristo constrói a Igreja. Mas também amo Francisco pelo Seu claro amor a Cristo e à Igreja, nossa Mãe e nossa Mestra.
VIVA O PAPA!
Semper fidelis!

sábado, maio 18, 2013

Mãe há só uma!


Ontem foi aprovado na Assembleia da República, no meio da indiferença dos Deputados e do silêncio dos media, a co-adopção de crianças por pessoas do mesmo sexo que vivam legalmente “casadas” ou em união de facto.

Sobre este facto ocorrem-me quatro coisas:

1.       É impressionante o secretismo com que esta lei foi aprovada. Para todos os efeitos ontem o parlamento decidiu alterar, por “decreto”, a noção de família. Os senhores deputados decidiram que legalmente uma criança pode ter dois pais e duas mães. E sobre este assunto não houve debate público, não houve discussão, nada. Ontem à noite milhares de portugueses ligaram a televisão para ver o telejornal e descobriram que, ao contrário do que pensavam, agora as crianças deixaram de ter direito a uma mãe e um pai para passarem a ser um simples objecto a que os adultos têm direito.

 

2.       A displicência dos deputados é tenebrosa. Como é que é possível que 3 deputados do CDS se tenham abstido? Como é que possível ter havido votos favoráveis do PSD? Mas quem é que votou nestes senhores? Os eleitores votaram nos partidos, não nos deputados. Os deputados não possuem legitimidade para contrariar a ideologia dos seus partidos. Ao não impor disciplina de voto o PSD e o CDS violaram a confiança que os portugueses neles depositaram.

 

Se os senhores deputados querem independência então primeiro criem círculos uninominais, acabem com o sistema de Hondt e depois podem fazer o que quiserem. Porque aí sim, forem eleitos, não pelo partido, mas pelos seus constituintes. No actual sistema, onde são os partidos que escolhem os deputados estes não possuem legitimidade para, numa matéria como esta, votaram como lhes apetece. E se no caso do PSD ainda é discutível a disciplina de voto nesta matéria ainda, no CDS é simplesmente um imperativo moral.

      

3.       Na prática esta lei não altera nada de substancial. A única diferença é que nos casos em que duas pessoas do mesmo sexo criavam crianças como se fossem seus filhos, sendo que só um dos adultos é que era pai legalmente, agora os dois vão poder ser “pais”.  Esta lei é um Cavalo de Tróia. Porque se duas pessoas do mesmo sexo se podem casar, se podem adoptar (em algumas circunstâncias) uma criança, então a proibição da adopção plena deixa de ser sustentável.

 

Por isso num ou dois anos será aprovada a adopção plena. O argumento será simples, a discussão será simples. Aliás o objectivo da Deputada Isabel Moreira é claro. Todos nós sabemos que ela é defensora ardente dos “direitos dos gays”.

 

O espectáculo montado ontem foi muito bem feito. O BE e o PEV ameaçaram com a adopção plena e a deputada socialista aparece com a solução sensata da co-adopção. Assim chumba-se a primeira (que causaria muito escândalo) e aprova-se a segunda pela porta do cavalo, apresentado como um meio-termo razoável.

 

 

4.       Ter filhos não é um direito, é um facto. Um facto que gera deveres. O instituto da adopção não foi criado para assegurar um direito da pessoas que não podem ter filhos. As instituições que acolhem crianças não são canis, onde se vai buscar um animal de estimação para ocupar o vazio de uma casa

 

A adopção existe para proporcionar às crianças, que pelas circunstâncias da vida não tem uma família, a possibilidade de terem uma. É um direito das crianças ter uma família, não um direito dos adultos terem um filho. E uma família não é só “afecto”, essa distorção moderna do amor.

 

Uma criança precisa de um pai e de uma mãe. Este facto, assegurado por milhares de anos de experiência, não pode ser negado por teorias ou estudos mal amanhados. Homem e mulher são diferentes e uma criança precisa do exemplo de ambos. Defender a adopção por pessoas do mesmo sexo parte de uma posição ideológica negada pela realidade: que o homem e a mulher são iguais.

 

Por isso permitir que dois homens ou duas mulheres adoptem uma criança, porque tem esse “direito”, é violar os direitos dessa criança. É dizer-lhe: “Tu não tens direito a um pai, a uma mãe, mas a duas mães e a dois pais”. Esta lei cria crianças de primeira e de segunda: as que tem direito a uma família e as que são um objecto para saciar o desejo de igualdade do lobby gay.

 

A lei que ontem foi aprovada no parlamento é uma vergonha e uma ameaça. Vergonha porque demonstra como os nossos deputados se servem a si mesmos e aos seus lobbys e não o povo. Uma ameaça porque é mais um passo na destruição da família.

 

A crise acabará, mais tarde ou mais cedo, com mais ou menos sofrimentos. A questão é saber que país teremos quando a crise tiver passado.

segunda-feira, abril 22, 2013

Teotónio, um Santo da Amizade


Fui, na semana passada, em trabalho a Coimbra. Como o que me levou às margens do Mondego demorou menos tempo do que o previsto aproveitei, até à hora marcada para o regresso de comboio a Lisboa, para conhecer um pouco melhor aquela bonita cidade.

Entrei no Mosteiro de Santa Cruz que apenas conhecia, e mal, dos livros de História. Depois de dar a volta à Igreja entrei na sacristia onde fui convidado a ver o relicário de São Teotónio, a sala do Capitulo e o Claustro. Na bela sala do Capitulo, onde se encontram os restos mortais de São Teotónio, li uma breve biografia do primeiro Santo português.

Tenho alguns livros, por sinal muito bons, sobre os Santos de Portugal que começam, na parte referente à fundação, pela vida de Teotónio mas - talvez pelo nome ser antigo ou por nos separarem 900 anos  - sempre avancei umas boas páginas para ler primeiro as vidas de António, Isabel ou Nuno que conheço melhor e já os considero como amigos. Desta vez li a biografia de São Teotónio e fiquei com vontade de voltar a reler os livros que estão lá em casa desde as páginas iniciais.

O texto descreve brevemente as principais virtudes do Santo e conta alguns episódios da sua vida. Relata a sua relação com D. Afonso Henriques, mais ou menos, nos seguintes termos: Teotónio aconselhava Afonso a ser um Rei Bom, Justo e Piedoso. Teotónio  rezou e abençoou os cristãos, chefiados por Afonso, antes da conquista de Santarém. Afonso contribuiu com o dinheiro necessário para a construção do Mosteiro de Santa Cruz do qual Teotónio foi eleito o primeiro Prior. Ao saber da morte do seu amigo, o Rei dirigiu-se a Coimbra onde terá dito que a alma de Teotónio tinha chegado ao céu antes que o seu corpo tivesse sido sepultado. Concluindo, o primeiro Santo português foi um grande amigo do primeiro Rei de Portugal, aconselhou-o e rezou por ele antes das batalhas - que não foram poucas - que este teve de travar.

Outro amigo de São Teotónio, Bernardo de Claraval, não se esqueceu dele na velhice e enviou-lhe, de presente, um bordão para o ajudar a caminhar, no qual o português se apoiou até morrer.

Assim, fui conquistado pelo primeiro Santo português que é também um Santo da Amizade. Agradeci ao Senhor por todos os "teotónios" que colocou na minha vida, que me aconselham e rezam por mim antes das batalhas que tenho de travar, e pedi a São Teotónio - apesar do seu nome antigo e dos 900 anos que nos separam - que me ajude a ser verdadeiramente amigo dos ["afonsos"] que me foram dados.

São Teotónio, rogai por nós.

domingo, março 17, 2013

Little Lion Man

Qual é a diferença entre Little Lion Man e todos os outros discursos desesperados que prevalecem na música, sobretudo no Rock contemporâneo?
Encontramo-nos aqui perante palavras que com certeza, mesmo se de forma menos poética, já todos ouvimos: o discurso cínico de alguém mais velho (tornado mais cínico por serem as palavras dirigidas ao próprio filho), a tentar mostrar à geração seguinte que nada vale a pena.
Mas reparemos no refrão: A culpa não foi tua, foi minha, e era o teu coração que estava em jogo. A culpa foi minha, pois com estas palavras que te dirigi, neguei o desejo do teu coração (You’ll never be what is in your heart.)
As palavras que dizemos têm peso. Quantas vezes dizemos coisas sem pensar, ou mais interessados no nosso discurso sobre a realidade que naqueles que temos à nossa frente.
É esta a originalidade de Little Lion Man, não um discurso cínico sobre a vida, mas o reconhecimento do erro desse discurso, que procura abafar o desejo infinito do coração do homem, a única coisa importante que está sempre em jogo.


Little Lion Man/ Pequeno Leão
Chora por ti, meu homem,
Nunca hás-de ser o que tens no coração
Chora, meu pequeno leão
Não és tão corajoso como no principio
Avalia-te, sonda-te
Recolhe toda a coragem que te sobra
Desperdiçada em resolver todos os problemas criados pela tua cabeça

A culpa não foi tua, foi minha
E era o teu coração que estava em jogo
Eu estraguei tudo desta vez,
Não estraguei, meu querido?

Treme por ti, meu homem
Tu sabes que já viste tudo isto
Treme, meu pequeno leão
Nunca vais resolver nenhuma das tuas disputas
A tua graça é desperdiçada na tua cara
A tua bravura está só no meio das ruínas
Agora aprende com a tua mãe, ou então passarás o resto dos teus dias a morder o próprio pescoço

A culpa não foi tua, foi minha
E era o teu coração que estava em jogo
Eu estraguei tudo desta vez,
Não estraguei, meu querido?