Em qualquer discussão que se tenha sobre os chamados temas
fracturantes ou sobre religião aparece sempre um argumento que supostamente
acaba com a discussão: “já não estamos na Idade Média, estamos no século XXI”. Segundo
os defensores desta tese o nosso tempo é um tempo verdadeiramente civilizado e
qualquer argumento do “passado” é inaceitável.
Antes de mais gostaria de lembrar que a Idade Média foi um período
de mil anos onde aconteceram muita coisa. Só quem nada sabe de história é que
ainda pode utilizar o velho argumento da Idade das Trevas. Relembro que a esta
suposta fase “negra” da história é o tempo que começa em Santo Agostinho e acaba
com Santo Inácio, Santa Teresa de Ávila e São Pedro de Alcântara. Não nos
podemos esquecer que a Idade Média é também o tempo de Dante, Giotto e Petrarca.
É o tempo da Catedral de Notre Dame, da Catedral de Colónia e da Catedral de
Chartres. É na Idade Média que nasce a Universidade: Bolonha, Oxford, Paris.
Muitos outros milhares de exemplos podiam ser dados a favor da Idade Média (o
tempo do Pobre de Assis e de São Tomás) mas não me parece necessário.
Se por um lado já é disparatado falar da Idade Média como um
tempo bárbaro, também não me parece lógico referir o nosso tempo como o tempo
da verdadeira civilização.
O século XX, que tantos gostam de elogiar, foi o tempo das
maiores barbaridades da história.
Comecemos pela Iª Guerra Mundial. Sem nenhum motivo aparente
que não desentendimentos fronteiriços e uma grande dose de testerona os povos da
Europa lançaram-se uns contra os outros numa guerra que vitimou pelo menos 16
milhões de soldados.
Em 1917, ainda durante a guerra, os Bolcheviques tomaram o
poder na Rússia. A guerra civil que se lhe seguiu matou milhões. Mas não foi só
a guerra, a fome e a miséria que o sistema comunista impôs vitimou quase tanto
como a guerra.
No seguimento do tratado de Versalhes milhares de pessoas
foram desalojadas para satisfazer as potências vencedoras. A Alemanha foi
saqueada a uma escala nunca vista até então, mesmo pelos países democráticos
como a França.
Em Itália e na Alemanha foram criados regimente totalitários
que ainda antes da Segunda Grande Guerra foram responsável por prisões e mortes
por motivos meramente políticos.
Os anos 30 foram marcados pela República Espanhola, que
perseguiu activamente a Igreja Católica queimando Igrejas e Conventos e matando
milhares de Católicos. Nada de novo aliás, se pensarmos nas perseguições que a
Igreja era alvo na altura no México. Mas a República Espanhola teve um fim
violenta com a Guerra Civil, que acabou com mais uns milhões de mortos e com
novo regime ditatorial, que se entreteve a perseguir os vencidos.
Mas o fim da Guerra Civil não trouxe a paz à Europa (ao
mundo não seguramente, pois a guerra civil da China entre comunistas e nacionalista
continuava a vitimar milhões de pessoas). De facto foi o prelúdio do maior
conflito que o mundo já viu.
A IIª Guerra Mundial
foi responsável por milhões de mortos em todo o mundo. E, ao contrário da
anterior guerra mundial, as principias vítimas não usavam uniforme. Os tão
gabados avanços tecnológicos permitiram arrasar cidades inteiras. Esta guerra
foi provavelmente a primeira guerra desde a antiguidade em que o número de
civis mortos foi muitíssimo maior do que o de soldados.
E não é possível esquecer a perseguição de que os Judeus
foram alvo durante o regime Nazi e que se intensificou com a guerra. De facto
Hitler utilizou os métodos mais modernos e as mais recentes tecnologias para
exterminar todos os que considerava inimigos da raça ariana.
Mas, ao contrário dos mitos, a violência não acabou com fim
da Guerra. Nos últimos 50 anos do século XX as guerras foram tantas que é impossível
lembrar todas. Para além das mais famosas, como a Guerra da Coreia ou a do
Vietname, tivemos milhares de “pequenas” guerras civis. Um pouco por todo a
Ásia e África velhos conflitos étnicos foram vestidos com a roupagem do marxismo
para parecem modernas.
Ainda no século XX não nos fiquemos por acontecimento com
40 ou 50 anos. Lembremo-nos que depois da queda do Muro, assistimos aos
massacres na Jugoslávia, ao genocídio no Ruanda ou à Guerra do Kosovo (para não
falar na primeira guerra do Iraque).
O Século XXI abriu com o 11 de Setembro e os atentados
terroristas que se lhe seguiram. A resposta do Ocidente foi clara: Guerra no
Afeganistão e no Iraque.
Contudo isto são conflitos menores se pensarmos no genocídio
do Darfur, da constante violência na Somália ou no número de assassinatos do
narcotráfico no México.
Nos nossos dias os cristãos são perseguidos em boa parte da
África, na Arábia Saudita, na Índia, na China, só para dar alguns exemplos. O
tráfico de pessoas atinge número nunca vistos.
Mas não é só no mundo que o Ocidente considera pouco
civilizado e indigno deste século que reina a barbárie. Nunca é de mais lembrar
que quase todos os países que se acham civilizado permitem o aborto livre, a
experimentação em embriões e começam a permitir a eutanásia. Na Holanda já
existe um partido a favor da Pedofilia!
Por todo o Ocidente o número de nascimentos diminui, os
velhos vivem sozinho e milhões de pessoas vivem na rua e na pobreza.
Por tudo isto gostava que me explicassem porque razão é que o nosso tempo reclama uma superioridade moral em relação aos
séculos anteriores? A próxima vez que alguém argumentar que certas questões não
se colocam no século XXI não poderei deixar de responder que longe de isso
ser uma resposta, é exactamente o problema.
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