quarta-feira, setembro 12, 2012

O anúncio de Passos Coelho, a austeridade e o Papa.

 
 
Desde que Pedro Passos Coelho anunciou as últimas medidas de austeridade temos sido inundados por um coro de críticas. Umas mais justas que outras, umas mais demagógicas outras mais sérias. Até simples desabafos foram transformados em notícia.
 
Não sei dizer se as medidas que o governo tomou são ou não as mais correctas. E acho justo que aqueles que percebem do assunto dêem a sua opinião. É claro que o caminho para sair da crise não é simples e mesmo pessoas bem-intencionadas, trabalhadoras e sérias podem errar. Por isso é natural que as opiniões sobre a eficácia destas medidas sejam divergentes.
 
Contudo não me deixa de espantar o facto que ninguém parece apresentar uma alternativa. É evidente que todos estão contra a austeridade, penso que até o governo está. Mas a verdade é que gastámos o que não tínhamos e agora temos que o pagar.
 
Seja com mais receita, seja com menos despesa, com mais trabalho a solução para esta crise nunca poderá ser fácil. Por isso gritar “basta de austeridade” sem apresentar uma solução não me parece que seja de ajuda.
 
Penso que neste momento precisamos de líderes que não finjam que a situação não é dramática. É preciso quem diga: amigos temos uma dívida grande, não temos maneira fácil de a pagar por isso é hora de arregaçar as mangas e lançarmo-nos ao trabalho.
 
A crise não foi provocado por este governo, nem sequer é culpa exclusiva do anterior. Nem sequer dos bancos ou das “grandes” empresas. Todos nós, eu incluído, contribuímos para ela: gastando mais do que tínhamos, trabalhando menos do que devíamos, votando em políticos que prometiam dar o que não tínhamos.
 
Preferíamos não viver nestes tempos, mas como diria Gandalf, não nos é dado escolher viver o tempo em que vivemos, só o que fazemos com o tempo que nos é dado.
 
A hora é dura e as perspectivas dramáticas: mas este é o tempo que nos é dado viver. O que podemos fazer? Ouvir a resposta do Papa Bento XVI no Encontro Mundial das Famílias a esta pergunta: Queridos amigos, obrigado por este testemunho que tocou o meu coração e o coração de todos nós. Que podemos responder? Não bastam as palavras; temos de fazer algo de concreto e todos nós sofremos pelo facto de sermos incapazes de fazer algo de concreto. Comecemos pela política: parece-me que deveria crescer o sentido da responsabilidade em todos os partidos. Não prometam coisas que não podem realizar; não se limitem a procurar votos para si, mas sintam-se responsáveis pelo bem de todos. Que se perceba que política é sempre também responsabilidade humana, moral diante de Deus e dos homens. Depois, naturalmente, temos os indivíduos que sofrem e – muitas vezes sem possibilidade de se defenderem – vêem-se obrigados a aceitar a situação como ela é. Mas aqui podemos também dizer: cada um procure fazer tudo o que lhe é possível, pense em si, na família, nos outros, com um grande sentido de responsabilidade, sabendo que os sacrifícios são necessários para avançar. Terceiro ponto: Que podemos fazer nós? Esta é a minha questão, neste momento. Creio que talvez pudessem ajudar as geminações entre cidades, entre famílias, entre paróquias… Agora, na Europa, temos uma rede de geminações, mas trata-se de intercâmbios culturais – sem dúvida, muito bons e muito úteis –, quando talvez haja necessidade de geminações noutro sentido: que realmente uma família do Ocidente, da Itália, da Alemanha, da França... assuma a responsabilidade de ajudar outra família. E o mesmo se diga das paróquias, das cidades: que assumam responsabilidades reais, ajudem concretamente. E podeis estar certos! Eu e muitos outros rezamos por vós, e esta oração não é só dizer palavras, mas abre o coração a Deus e assim gera também criatividade na busca de soluções. Esperamos que o Senhor vos ajude, que o Senhor vos ajude sempre! Obrigado!

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