Hoje o Dr. Mário Soares disse finalmente o que todos os
media queriam que alguém dissesse: que o Presidente devia demitir o governo e
convidar à formação de um governo de salvação nacional. Ontem os jornalistas já
tinham tentado estender esta armadilha a António José Seguro que teve a
inteligência (ou a decência) de não cair na esparrela.
A sugestão do pai do Partido Socialista é o culminar desta
campanha sobre a falta de legitimidade do governo para se manter em funções
depois das manifestações de sábado. Segundo vários senadores da política
nacional a contestação popular ao governo era sinal de que o governo devia
cair.
Eu não penso que o governo deva simplesmente ignorar a rua,
contudo uma democracia parlamentar não se baseia em manifestações e opiniões de
pessoas que se acham donas do povo. Mário Soares, Arménio Carlos, João Proença,
Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã , Vasco Lourenço não foram mandatos por
ninguém para interpretar a vontade popular.
A legitimidade do governo advém do voto popular, que deu ao
actual governo uma maioria de 132 deputados (em 230) fruto dos 50,35% de votos
que recebeu nas últimas eleições. O Dr. Soares pode não gostar do resultado das
eleições, mas em democracia não governa quem tem maior tempo de antena ou reúne
mais povo na rua, mas quem ganha as eleições.
A maioria clara de que o governo dispõe na Assembleia da
República não é um cheque em branco para fazer o que quiser. Quase metade do
país votou nos outros partidos que estão representados no Parlamento. Contudo,
depois do debate cabe decidir a quem foi eleito para governar.
Nomear um governo de salvação nacional um ano e três meses
depois das eleições legislativas é uma ofensa à democracia. É declarar que a
vontade popular (a legítima, expressa pelo voto nas urnas) deve ceder perante a
sapiência de alguns iluminados.
O Dr. Mário Soares não deveria esquecer que depois do 25 de Abril a
“rua” pertencia aos comunistas e à extrema-esquerda. O MFA condicionou todo o
processo democrático com o “povo”. Contudo, foi Mário Soares e não Cunhal que
foi primeiro-ministro do I Governo Consitucional. Porquê? Porque o PS teve
46,4% dos votos e o PC 12% nas eleições de 75. Assim é a democracia: em 1976
governou Mário Soares sem a rua mas com a legitimidade do voto, assim governa Pedro Passos
Coelho em 2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário