domingo, setembro 16, 2012

António José Égalité!

 
 


Conta-nos a história que Luís Filipe II de Orleães, primo de Luís XVI, foi um dos principais financiadores dos movimentos que deram origem à revolução francesa. A família real acusava-o de ter inspirado (e patrocinado) a tomada da Bastilha. Aparentemente o seu grande objectivo era pôr-se à frente do movimento de contestação popular ao governo do Rei seu primo e fazer-se coroar monarca constitucional de França.

Contudo a excitação revolucionária rapidamente o ultrapassou. Em 1792, com a proclamação da I Republica, abdicou do seu nome de família e passou a ser o Citoyen Égalité. Conseguiu ainda ser eleito para a Convenção Nacional como vigésimo e último deputado por Paris. Da sua actividade parlamentar nada há para realçar a não ser ter votado favoravelmente a morte do seu primo e Rei, Luís XVI.

Durante o terror de Rosbepierre foi preso, julgado e guilhotinado. Nem o facto de ter financiado os movimentos revolucionários, nem o ter lutado contra o seu próprio povo no norte de França para impor a revolução, nem o ter votado a morte do Rei lhe serviu para livrar das garras do “povo” que tanto defendera.

Lembrei-me desta pequena história depois desta semana onde tantas e tantas personalidades incitaram o povo a revoltar-se contra as medidas de austeridade do governo. Apelos esses que culminaram nas manifestações de ontem.

Se António José Seguro, Mário Soares, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, entre outros, não conhecem a história e o destino do Citoyen Égalité alguém lhes devia contar. É que ainda há poucos dias um dos blogues responsável pela manifestação de ontem em Lisboa se congratulava pelo facto de todos os deputados (esquerda incluída) e membros do governo da Grécia não puderem sair do parlamento sem serem atacados pelo “povo”.

2 comentários:

tomas disse...

Prezado laranjinha:

A estória que nos é contada neste post é de facto interessante e dá para tirar algumas conclusões, mas não estabelece uma relação semelhante com a situação actual do nosso país.

Ao contrário de Luís Filipe II de Orleães, António José Seguro nunca se inseriu, nem "abraçou" a família política na qual Passos Coelho está inserido, entenda-se o PSD.

Avançando para o cerne da questão, neste post é nítida uma posição crítica e hostil à manifestação do povo na rua contra esta ofensiva governamental que "atropela" os trabalhadores em prol das grandes empresas e do Estado. Ofensiva esta que sobrepõe a economia ao homem, esquecendo-se que a primeira depende da segunda.

Fica pois sabendo que na história da nossa democracia nunca existiu uma oposição tão consensual desde a direita à esquerda contra a política seguida por um chefe de Governo. Mais, até aqueles que se manifestaram convictos nas medidas da troika, regenadoras da economia de Portugal,(entre os quais me incluo, e também personalidades como Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix) muitos estão contra este novo e absurdo pacote de austeridade que, parafraseando e bem António José Seguro roça a imoralidade.

Este absurdo pacote, resumidamente retira dinheiro aos trabalhadores através da TSU (Taxa Social Única) para dar de mão beijada às empresas. Esta linha política dentro de um exacerbado liberalismo desumano esquece-se que a economia depende da procura interna, que sofrerá uma grande crise com os corte brutais que os trabalhadores sofrerão. Torna-se pois contraproducente e perigosa. E, como diria o Prof.Marcelo Rebelo de Sousa, estamos perante um experimentalismo social visto que estas medidas jamais foram postas em prática em nenhum outro país.

Ainda mais estapafúrdio é que estas medidas tratam-se de uma opção do Governo e não da troika, que, como Abebe Selassie, chefe da Comissão da Troika afirmou: "Se houver apenas austeridade,a economia não vai sobreviver".

Também no meio de tudo isto é injusto não referir que na verdade o Seguro não apresenta nenhuma alternativas e só se queixa, para além de que foi o partido dele que em Maio de 2011 pediu ajuda financeira ao FMI.

Em suma, será que devemos todos ficar calados enquanto este governo mais troikista que a troika, numa tirania suicida dá cabo da nossa já frágil economia? Ou será que o povo se deve revoltar ao ver que o seu país está a ser arrassado por medidas inconstitucionais (segundo o TC)e iníquas que estão a levar à destruição empobrecimento da classe média e ao brutal decréscimo do consumo interno?

Zé Maria Duque disse...

Tomás,

antes de mais, não sou do PSD.

Depois, António José Seguro nunca foi do PSD, tal como Luis XVI nunca foi liberal. Eram ambos monárquicos, um queria ser rei o outro era rei.

Por fim, penso que o povo pode e deve manifestar-se quando acha que os seus direitos estão em causa. O que digo é que os organizadores deste evento (não os participantes) não estão própriamente na mesma onda que António José Seguro. Basta uma pequena investigação pelos blogues de algum deles para perceber isso.

As cabeças deste movimento de contestação (que são diferentes dos milhares de pessoas que se manifestaram no sábado) não querem uma democracia parlamentar, mas algo parecia a uma democracia da rua. Algo, pela sua natureza, muito pouco democrática.

Por isso os senhores do PS deviam ter cuidado com o que apoiam, porque assim como agora pedem a cabeça de PPC um dia podem (e se eles chegarem ao poder, irão) pedir a cabeça deles.