Acabei à pouco tempo de ler o livro “Estaline – A Corte doCzar Vermelho” (Aletheia, 666 pgs., 26,25€) de Simon Sebag Montefiore. O autor,
um inglês de origem judia, é professor de história na Universidade de Cambridge
e especialista na história da Rússia.
O livro narra a vida de Estaline, da sua família e dos seus
amigos mais chegados após a sua chegada ao poder. Não se trata de um retrato
intimista ou psicológico de Estaline, cheio de revelações bombásticas. O autor
limita-se a narrar a vida social e familiar do ditador soviético tendo como
pano de fundo os dramáticos acontecimentos do consulado do homem que governou a
Rússia durante 30 anos.
O ponto de partida do autor é simples. Hoje em dia existe a
tentação de atirar toda a culpa das monstruosidades dos crimes dos regimes totalitários
para cima de um monstro, de um louco, de um psicopata.
Em vez do retrato de um ser desumano, Montefiore apresenta-nos
o retrato de um homem normal. Um homem com família e amigos. Um homem que
gostava de festejar os anos beber e comer com os que lhe eram mais próximos. Um
homem que se comovia com a música. Um homem com sentido de humor e capaz de se
comover com pequenas recordações (por exemplo, perdoou um homem que tinha o
mesmo nome do padre que o ensinou a ler).
Para além disso, demonstra também que Estaline não era um
monstro a actuar sozinho. Todos aqueles que o rodeavam eram apoiantes claros
das suas políticas. Na obra o autor demonstra que nas purgas de 1937 todos os
governantes das províncias pediram para aumentar a quota de dissidentes a
prender ou matar ditadas pelo Politburo.
Esta biografia não desculpabiliza em nenhum momento as
atrocidades de Estaline. Muito pelo contrário, torna-as ainda mais monstruosas.
Porque demonstra que não foram fruto de um louco, mas de um homem normal que
acreditava que a sua ideologia valia mais do que a vida.
Em última instância este é o facto mais assustador deste
livro: é que todos nós podemos ser como Estaline. Todos nós podemos preferir a
ideologia à verdade. Todos nós podemos preferir o mal ao bem. A diferença, em
última instância, é de escala.
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