terça-feira, outubro 07, 2008

Não católico!

Oiço recorrentemente dizer que Portugal é um país católico. É uma frase que se diz sobre variados temas: o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto, os métodos anti-concepcionais, etc.

Infelizmente, só uma pessoa muito pouco atenta poderia dizer tal coisa sem ficar com uma mentira na consciência. Portugal já não é uma país católico de há vários anos a esta parte. Aliás, se tirarmos os 44 anos de Estado Novo, podemos dizer que o nosso país já não é católico de uns séculos a esta parte.

Senão vejamos, em 1750 foram expulsos os jesuítas. Em 1834 dá-se a expulsão das ordens religiosas.

Em 1910, renova-se a proibição das Ordens religiosas e dá-se a proibição do ensino religioso nas escolas públicas e particulares, abolição do juramento religioso, entre outras limitações impostas à acção da Igreja Católica. Nos termos do decreto de Afonso Costa, o Catolicismo deixava de ser religião oficial do Estado; o culto público era fiscalizado, parte dos bens da Igreja era confiscada.

Em 1911, também por decreto de Afonso Costa, é publicada a Lei do Estado das Igrejas. Esta lei proíbe a Côngrua, obriga à constituição de corporações para gerir as Igrejas que não podem ter como membro o prior da mesma, proibia as doações fora das missas, declarava que todas as novas Igrejas revertiam para o Estado ao fim de 99 anos, proibia os actos de culto fora das Igrejas, proibia o uso das vestes talares, entre muitas outra coisas.

Depois seguiram-se 15 anos de perseguições, onde todos os bispos portugueses chegaram a estar desterrados ao mesmo tempo. As perseguições só pararam com o Estado Novo.

Do 25 de Abril para cá, Portugal voltou a ser um país descristianizado. Aumentou o número de divórcios, diminuíram os casamentos, diminuíram os baptizados, há cada vez menos seminaristas, jovens na catequese, o aborto é livre, as crianças nascidas fora do casamento aumentam.

Portugal já nem culturalmente é cristão. Abundam os livros sobre superstições, as bruxas, os hóroscopos. O Papa é uma figura indiferente e o Patriarca de Lisboa o menos desconhecido dos Bispos. É raro o casamento ou o enterro em que as pessoas sabem responder à missa.

Por isso é ridículo dizer que Portugal é católico. Essa é uma desculpa para atacar e perseguir a Igreja, para diminuir cada vez mais a capacidade de intervenção social e de testemunho público. Por isso digamos a verdade: Portugal é um país não Católico!

4 comentários:

Luís Froes disse...

Concordo contigo, excepto quando dizes que «se tirarmos os 44 anos de Estado Novo, podemos dizer que o nosso país já não é católico de uns séculos a esta parte». Nem durante o Estado Novo fomos um país católico!

Abraço

didnsdale disse...

Depois da instauração da república, Lenine diz que é preciso por os olhos em Lisboa para ver a sua "laicidade", que diria hoje?

Anónimo disse...

Gostei bastante do texto, é preciso ter coragem para denunciar o anticristianismo e o liberalismo.
Concordo que durante o Estado Novo se recuperou o espírito cristão.

Bartolomeu disse...

Lamento não poder concordar de todo, apesar de reconhecer os seus bons argumentos bem justificados, o que me faz concordar parcialmente, mas de modo restrito – segundo o que creio ser fundamental e os meus princípios, e não pelos princípios diplomáticos, no conjunto de sequelas e mazelas entre o Estado, a Santa Sé e a própria Igreja Portuguesa. Pois, independentemente de tudo que o Estado é e faz, ainda que com imposições, não é o que representa e é na realidade, a quase totalidade da população portuguesa. Tome como exemplo, as actuais manifestações no sector da Educação. Infelizmente, os barómetros nacionais ainda são cotados pelo que se passa em Lisboa, e isso não é o que se passa no resto do país.

Em concordância consigo, seria mais correcto dizer: Portugal é um país de gente indiferente, e os portugueses são como "um cão que não reconhece seu dono".

Num olhar mais cuidado assistimos a uma acção católica, bastante exposta, de apoio à integridade da vida: As creches, lar de idosos, centros de dia, centros de apoio, etc... que povoam cada vez mais este país. Não estou a falar das grandes urbes, geralmente mais laicas, onde se vive no espírito do glorioso passado que tão bem evocou, mas das pequenas cidades, vilas e aldeias onde a qualidade de vida aumenta a olhos visto pela qualidade da acção que já referi.

O Bispo que me crismou, tendo sido ele um dos grandes mentores da actual catequese portuguesa, dizia nas reuniões preparatórias, tal como pregou na homilia da cerimónia:

"A Igreja de hoje, procura ser como no tempo dos apóstolos na partilha, na oração e no partir do pão"

(Isto a troco de nada, e tal como a justiça sem olhar a quem – classe, cor, raça, credo, etc. … Não como na Ordem 3ª, onde por falta de zelo e negligência dos serviços burocráticos, me ameaçaram com processos em Tribunal).

Se desconhece esta realidade, torna-se importante salientar que o Estado reconhece e apoia estas instituições, sabendo que por si só não iria ter a mesma eficácia. Isto chama-se conciliação. É tudo uma questão de necessidades e princípios, e não de regulamentações. Pois para regulamentações, bem vemos a crise em que andam a Saúde e a Educação, que são os principais bens de vida que o estado se encarrega.

As exigências de vida, mudaram muito o mundo: As profissões, os horários, os ordenados, os transportes, a informática, tudo! Em nada se ganhou tempo. Perdeu-se e muito. Vivemos uma era Mercuriana, que conduz ao conhecimento superficial, à falta de valores e do reconhecimento intelectual, artístico, temporal e secular. A falta de tempo é uma crise dos nossos tempos, ao contrário de ser um benefício, como se pensa – o que permite em choque de cadeia à falta de natalidade, vocações, gente na Igrejas, etc. As pessoas continuam as mesmas, e pensar da mesma forma. Porém como acto isolado, reunindo-se, apesar das suas divergências e diferenças, nas principais ocasiões vivenciando aquilo que quotidianamente não podem, e que o passado permitiu. Tudo por falta de tempo!

Isto resume o que conheço e assisto.