Ainda hoje me lembro bem da primeira vez que ouvi falar em
aborto. Estávamos em Fevereiro de 1997, tinha eu 11 anos, e discutia-se então
no Parlamento a liberalização do aborto até às 12 semanas.
Nessa altura ouvi a minha mãe a falar indignada sobre o assunto
e quis saber do que se tratava.
A minha mãe lá me explicou que aborto era quando uma mulher que estava à espera de bebé não queria ter a criança e acaba com a gravidez. Lembro-me de perguntar se isso não era matar. A resposta foi clara e eu fiquei se perceber como era possível uma lei que permitia eliminar uma vida.
A minha mãe lá me explicou que aborto era quando uma mulher que estava à espera de bebé não queria ter a criança e acaba com a gravidez. Lembro-me de perguntar se isso não era matar. A resposta foi clara e eu fiquei se perceber como era possível uma lei que permitia eliminar uma vida.
No dia seguinte ia haver uma Caminhada, da Basílica da
Estrela até ao Parlamento, para pedir que os deputados chumbassem a lei do aborto que ia
ser discutida nesse dia. Pedi à minha mãe para ir, mas ela proibiu-me, porque
eu tinha aulas e porque tinha medo que houvesse violência.
Pese a proibição materna acabou por se tornar irresistível
participar: quando estava a sair da escola encontrei a Caminhada a descer a
Calçada da Estrela. Não sabia muito bem o que fazia, mas sabia que não podia
haver uma lei que permitisse matar e por isso juntei-me à caminhada.
Dessa vez a lei não passou. Mas em Janeiro de 1998 houve
nova tentativa, com duas propostas, uma do PCP que permitia o aborto até às 12
semanas e outra da JS que permitia o aborto até às 10 semanas. Mais uma vez
participei na Caminhada feita pelo Juntos Pela Vida, desta vez já com
autorização da minha mãe. Infelizmente a lei da JS acabou por ser aprovado por
3 votos.
Foi então que o Engenheiro Guterres, com o apoio do PSD do
Professor Marcelo, forçou o Referendo.
Foram os meus primeiros meses de activismo político:
mailings, panfletagem, distribuir pins e bonecos de bebés com 10 semanas de
gestação. E contra todas as expectativas em Junho de 1998 o Não ganhou o
referendo.
Contudo o trabalho não estava terminado, ainda havia muitas
mulheres que recorriam ao aborto por não terem quem as ajudasse. Foi então que
começaram a nascer tantas associações que ainda hoje ajudam as mulheres
grávidas em dificuldade.
Uma delas foi o Ponto de Apoio à Vida, fundado pela minha
mãe. Ao princípio consistia apenas num número de telefone, que funcionava 24
horas por dias, para o qual as mulheres que estivessem abortar podiam ligar a
pedir ajuda.
Foi assim que aprendi que o aborto é um flagelo, não apenas
por causa das vidas que elimina, mas também pela dor que causa às mulheres que
abortam. Muitas delas vítimas da pressão dos pais, dos companheiros ou dos patrões.
Depois, ao fim de quase dez anos, num total desrespeito pela
democracia, o PS convocou novo referendo sobre o aborto (inaugurando uma
filosofia que ainda hoje a esquerda mantém de que os referendos só servem para
alcançar os resultados políticos que lhes convêm).
Aí, já mais consciente do que estava em causa, participei
mais uma vez na campanha. Fizemos nova Caminhada e sobretudo uma campanha heroica,
sem recursos, com o desagrado dos media, mas certos de que toda a Vida é um
Bem.
Infelizmente perdemos. Infelizmente não apenas para nós, mas
para todo o país. A lei saída do referendo de 2007 não só permitiu já a morte
de milhares de crianças, como tem sido usado como arma de pressão por parte de
pais, companheiros, patrões e até pelos serviços sociais sobres as mulheres com
menos recursos.
Sobretudo, criou um sentimento de impotência. Como é possível que seja legal eliminar uma vida inocente? Como é que o Estado não protege
os mais frágeis, aqueles que não têm voz? Mais, que podemos nós fazer?
Mas se houve uma coisa que aprendi nestes anos é que o
aborto não é para nós uma bandeira política. Para nós cada vida tem valor. E
vejo isso à minha volta. Tantas crianças supostamente indesejadas, com
deficiências, pobres, crianças que quem defendeu o Sim ao aborto declarou nunca
virem a poder ser felizes, que crescem, rodeadas por famílias e pessoas que as
amam.
Por isso, cada aborto que não se realiza é uma vitória! É
uma vida que nasce! Se é verdade que neste momento não há possibilidade de
acabar com o aborto legal no nosso país, também é verdade que podemos fazer
alguma coisa. Podemos testemunhar publicamente que toda a Vida é um Bem. Que o
aborto não é uma solução, mas sim um drama.
Por isso gostava de desafiar cada um dos que lê este texto a
participar na Caminhada pela Vida no próximo dia 4 de Outubro, às 15h em Lisboa.
Encontramo-nos no Largo Camões e juntos percorremos o caminho até São Bento
para defender o Direito a Nascer! É verdade que não podemos fazer muito, mas
isto podemos fazer: Caminhar juntos por todos os bebés que não têm voz; Caminhar
juntos por todas as mulheres que são empurradas para o aborto; Caminhar juntos
por todas as famílias; Caminhar juntos para que todos tenham Direito a Nascer!
Eu vou. E tu?
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