domingo, março 20, 2011

A Manifestação Perdida




Na semana passada o país assistiu aquela que foi provavelmente a manifestação mais impressionante desde 1974. Centenas de milhares de pessoas desceram a Avenida da Liberdade para protestar sem suporte ou apoio de qualquer sindicato ou partido.

E não foi apenas o protesto de uma geração, mas de portugueses de todas as idade e orientações: novos, velhos, de extrema-esquerda, de extrema-direita. Tornou-se claro que não apenas os jovens que estão fartos.

E parece-me que é justo que estejamos fartos. De facto as coisas estão difíceis: cada vez mais desemprego, cada vez mais impostos, um Governo que só poupa nos ordenados, uma educação da vez mais medíocre, políticos cada vez mais fracos. O total silêncio dos políticos sobre a manifestação de dia 12 comprova aliás que a política vive hoje das ficções partidárias e longe da realidade do país.

Mas mesmo assim a manifestação deixou-me incomodado. Não porque não haja razões suficientes para nos manifestarmos, mas pela total ausência de uma proposta. Não foi um povo que desceu a Avenida, mas sim uma massa. Uma massa que não parece saber o que quer, só o que não quer.

E isto talvez seja maior drama do país. Todos sabemos o que não queremos, mas não estamos dispostos a fazer nada para que isso não aconteça. Em última instância estamos fartos dos políticos que temos, mas não queremos ser nós a substitui-los.

Uma massa que não sabe para onde vai está destinada a caminhar perdida até o tempo a dissolver.

2 comentários:

Pyny disse...

Concordo totalmente com o que dizes Zé Maria! É impressionante o facto de ninguém saber o que quer, apenas o que não se quer. Ninguém está sequer disposto a fazer algo para mudar!
No entanto, é impressionante o descontentamento popular transversal a todas as idades e classes sociais.

Alma peregrina disse...

"Uma massa que não sabe para onde vai está destinada a caminhar perdida até o tempo a dissolver..."

... ou até vir um tirano que a manipule!