quinta-feira, junho 10, 2010

Dia do São Camões.

No dia 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a República. O golpe de estado que haveria de levar à sua implementação começou na madrugada de 3 para 4 de Outubro.


Logo no dia 3, no seguimento da morte de Miguel Bombarda atribuída aos jesuítas (quando de facto fora morto por um paciente), começou a perseguição popular ao clero. No dia 4 foram mortos dois padres lazaristas. No dia 5 o patriarca resignatário foi preso por populares e levado à presença de Afonso Costa. Nesse mesmo dia o bispo de Beja teve que fugir do país para salvar a vida.

No dia 8 de Outubro o governo manda parar com as perseguições populares. Para evitar abusos são dadas ordens À polícia para prender todos os padres que andem na rua. Começa então a perseguição legislativa.

Dos vários documentos legais que dizem respeito à Igreja há um que alterou profundamente a cultura portuguesa e que hoje passa despercebido: a abolição dos feriados religiosos.

No dia 12 de Outubro de 1910 foram abolidos todos os feriados religiosos. Só o dia Natal sobreviveu, mas agora apelidado de Dia da Família Portuguesa.

Contudo, para não aborrecer o povo, o governo provisório não se limitou a abolir os feriados. Criou novos feriados e novas festas para fazer esquecer as festas religiosas. Regra geral estas novas festas incluíam grandes paradas e desfiles, tentando recriar as festas populares que festejavam os santos.

Assim foi criado o feriado do 1º de Dezembro, para fazer esquecer a Imaculada Conceição. O dia do nascimento de Nossa Senhora, 8 de Setembro, passou a ser o dia da mãe. O de São José dia do pai. Para substituir a festa da Anunciação (25 de Março) o dia da Árvore.

É neste contexto que nasce o dia de Camões. Como se tinha abolido a festa de Santo António criou-se o dia de Camões. O 10 Junho era um festa republicana desde o ano do centenário do centenário do poeta. Passou então a ser festa nacional, com direito a desfile cívico e discurso das autoridades. O povo nunca aderiu a estas novas festividades e gozava com os desfiles dizendo que era a procissão do São Camões.

Percebo que com tempo esta questão importância. No Estado Novo o 10 de Junho ganhou relevância não como dia de Camões, mas como uma oportunidade de festividades patrióticas. Hoje já não sou este feriado já não tem uma carga anti-clerical como caiu no esquecimento dos republicanos, sendo festejado sobretudo por velhos nacionalistas.

Mesmo assim não festejo o 10 de Junho. Não chateio, não tomo posições morais, não faço causas no facebook. É feriado e eu aproveito. Contudo não adiro a festas maçonicas. Festejar por festejar espero pelo Santo António.

quarta-feira, junho 09, 2010

A um metro do chão.

A questão doutrinal

No i do fim-de-semana

Uma das coisas que mais gosto de fazer com os meus filhos é influenciá-los. Deliro. Ter a oportunidade de explicar, com tempo, o meu ponto de vista, a minha versão dos factos, a minha ideologia, as minhas crenças a pessoas inocentes, sãs, crédulas, civilizadas e inteligentes que não querem discussão mas sim informação, é fantástico. Um sossego. Eu não discuto, ensino. Experimento argumentos, ensaio raciocínios e conto histórias elucidativas das minhas verdades aos meus fiéis seguidores, que me fixam com olhos esbugalhados. Também não imponho nada; explico o óbvio. E claro que eles acreditam piamente em tudo o que lhes digo: se também acreditam quando lhes garanto que a sopa já arrefeceu, não duvidam quando digo que "ajuda humanitária turca" é com aspas. Uma das inúmeras vantagens destas prelecções domésticas e familiares, além das óbvias, que são benéficas para a sociedade em geral, é que me obrigam a dominar e a rever os temas, a melhorar a argumentação para poder explicar as minhas teses com maior clareza. Como tenho de ensinar os conceitos mais elementares, estou constantemente em reciclagem doutrinal. Por exemplo, quando um deles me pergunta o que é um socialista, tenho de lhes dar a definição de imposto, de empresas públicas, de Mário Soares, etc. (sim, é verdade, as crianças de hoje crescem sem Mário Soares nas suas vidas). Claro que a conversa só acaba quando eles ficam devidamente esclarecidos das consequências do socialismo. "Ah, mas isso é manipular as crianças." Claro que é! E só tenho até à adolescência deles para o fazer. Mas cá eu chamo a isto educar.

"O sangue dos mártires é frumento dos Cristãos."


Foi beatificado este Domingo em Carcóvia o Padre Jerzy Popieluszko. Este sacerdote polaco foi preso, torturado e morto em 1984 pelos comunistas polaco.

Capelão de um remota aldeia polaca, foi apoiante do movimento Solidariedade. Defendeu sempre a liberdade contra a opressão comunista e ensinou que o mal só se combate com o bem. A sua trágica morte serviu de testemunho para todo o povo polaco.

O Beato Jerzy Popieluszko é um dos milhares de mártires do século XX. Que o seu testemunho nos eduque a nós no amor a Cristo.

Rogai por nós Beato Jerzy Popieluszko,
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Andrea Bocelli

terça-feira, junho 08, 2010

«"Terrível é a palavra 'non'": o sim de Manoel de Oliveira» por Padre João Seabra, DN, 31/05

Sentado no Centro Cultural de Belém com um milhar de representantes do mundo da cultura, da ciência e da arte, escutei, com espanto e comoção, o discurso "simples e breve", como ele próprio o anunciou, que Manoel de Oliveira dirigiu ao Papa Bento XVI na manhã do dia 12 de Maio. A intervenção é como o cinema de Oliveira: expressão de uma procura de sentido pessoalíssima, dum desejo de verdade incansável, do reconhecimento intenso e livre da presença do Mistério na vida dos homens e do cosmos. Oliveira não se entregou a especulações teóricas: deu um autêntico e despretensioso testemunho de vida, exposto na linguagem directa, enxuta e não analítica a que o realizador habituou quem lhe conhece o estilo: franco, quase desabrido e aparentemente naïf.

Depois de agradecer o "muito honroso convite", enunciou o título da sua curta exposição, "Religião e Arte", e disparou, colocando "éticas" e "artes" lado a lado, enquanto fruto das religiões, que "procuram encontrar explicação para a existência humana e a sua inserção concreta no cosmos". A essa procura, universal no tempo e no espaço, irrompe na História uma resposta inimaginável: "Universo e Homem, criação de um ser transcendente, colocam-nos problemas inquietantes, para cuja solução o Verbo que se fez carne em Cristo nos trouxe insuperáveis Graças divinas." Este foi o mote claro e corajoso da sua reflexão: a colocação da hipótese cristã como possibilidade real para a vida e para a criação artística.

Ratzinger afirmou, já há anos, que "a única, a verdadeira apologia do cristianismo pode-se reduzir a dois argumentos: 'os santos' que a Igreja produziu e 'a arte' que germinou no seu seio" (V. Messori, Diálogos sobre a Fé, Lisboa, Verbo, 1985, p. 107). Como que em intuitiva resposta, Oliveira saudou o Papa sublinhando a fecundidade da fé cristã na criação estética. Afirmou a intimidade original das artes e das religiões, umas e outras "voltadas para o homem e o universo, a condição humana e a essência divina"; na experiência religiosa como na expressão artística se manifesta "a memória da criação e a saudade do paraíso". Neste contexto chamou à Bíblia o "tesouro inesgotável da nossa cultura europeia": uma referência que ecoa como antagónica às recentes afirmações de José Saramago. Em seguida relembrou dois dos seus filmes, O Acto da Primavera (1963) e Cristóvão Colombo, o Enigma (2007), em que representou figuras de anjos: no primeiro caso, como personagem específica desse popular Auto da Paixão, sinal da presença do divino entre os homens; no segundo, como "prévia configuração do Destino" de Portugal, radicando no cristianismo, numa frase sintética e desafiadora, a identidade da História pátria e a sua história pessoal: "[Sou] pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, e que são as raízes da nação portuguesa e de toda a Europa, quer queiramos quer não […]."

Mas o momento mais confessional e provocador da sua intervenção foi aquele em que Manoel de Oliveira se referiu ao drama humano da dúvida e da falta de fé. Retomando as palavras do Padre António Vieira ("terrível palavra é o non"), que deram o título ao seu filme de 1990 (Non ou a Vã Glória de Mandar), Oliveira disse: "Acossados pelas especulações da razão, sempre se nos levantam terríveis dúvidas e descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho, que remove montanhas." Perante a tremenda hipótese da negação, concluiu, com a convicção de quem fala de um caminho trilhado na primeira pessoa: "O non retira toda a esperança, que é a última coisa que a natureza deixou ao homem", esse homem que "caminha na esperança, apesar de todos os negativismos". A dinâmica humana é afirmativa, é um sim: esta é a certeza que Oliveira afirma. A escolha teórica e teorizada que a nega não corresponde ao dinamismo que leva o ser humano a esperar e a desejar: desejar viver, desejar amar e ser amado, desejar criar, desejar ser feliz. Essa dinâmica de afirmativa certeza encontra um testemunho irrecusável naquele homem de 101 anos, de olhar vivo, quase infantil, com uma capacidade criativa invulgar e uma liberdade de pensamento e acção que fazem dele uma criatura sui generis e incómoda no universo em que se movimenta.

Por isso, a maior injustiça que se lhe poderia fazer seria a de retirar às suas palavras simples - tanto as ditas como as escondidas nas entrelinhas - o peso e a consistência de uma vida assim lutada e vivida, com esse visível gosto e essa radical liberdade que sempre recusou ideologias e sempre se deixou fascinar pelo humano e pelo seu desejo de infinito.

Turquia: Terra de Martírio!

No dia 3 deste mês foi assassinado o Monsenhor Luigi Padovese, Vigário Geral da Anatólia e Presidente da Conferência Episcopal da Turquia. As primeiras informações é que tinha sido morto pelo seu motorista que sofreria de problemas mentais. Segundo as autoridades turcas não haveria nenhum motivo religioso ou politico por detrás desta morte.

Contudo o Corriere della Sera publicou hoje uma noticia, tendo como fonte a Asia News, que afinal não se tratou apenas de um acesso de loucura. Não só o assassino cortou a cabeça ao bispo (segundo o ritual islâmico) como depois subia ao tecto da casa onde gritou "matei o grande Santanás! Allah Akbar!".

Ainda segundo o Corriere não nenhum registo médico que indique que Murta Altun (o assassino) sofra de problemas mentais. O único indicio que existe que aponta para esta teste é que o próprio Murat se queixava de estar deprimido hás uns meses. Este facto faz aumentar a suspeita de se tratar de um assassínio planeado há algum tempo.

Perante este acontecimento o Estado Turco limita-se a assobiar para o lado. O mesmo estado cujo o primeiro-ministro tem dirigido ataques furioso a Israel pela morte de nove cidadão turcos que atacaram soldados israelitas, demonstra total indiferença pela morte da cabeça da Igreja turca às mãos de um terrorista islâmico.

Ao mesmo tempo que a esquerda europeia tem vindo a cantar odes de louvor à pobre Turquia, um estado democrático, laico, membro da NATO, vitima de Israel, ninguém presta atenção a este martirio, fruto de terrorismo organizado que visa atacar a Igreja Católica.

Irónicamente dom Padovese celebrou há quatro anos o enterro de don Andrea Santoro, bispo na Turquia que tambem foi morto. Este país tão civilizado é cada vez mais para os católicos terra de martírio!

sábado, junho 05, 2010

"(...)fatti non foste a vivere a viver come bruti(...)"*

Pelos anúncios na rua e pelos jornais fiquei a saber que está para começar um certame na FIL chamado "Salão Erótico". O DN on-line chega mesmo a ter uma notícia sobre a "convidada de honra" de tal evento (uma pobre mulher cuja exploração é disfarçada por um falso glamour dos jornais que tentam assim legitimar o vício dando-lhe um ar socialmente aceitável).

A mim impressiona-me como o nosso mundo reduziu o sexo a uma banalidade. O sexo já não é entrega de um casal que se ama, mas algo tão natural como ir à retrete. Claro que vivem todos convencidos que como se gasta mais tempo a falar e a ver sexo que este é cada vez mais importante para as pessoas. Mentira, neste momento para a maior parte das pessoas a sexualidade é como tomar banho: uma mera necessidade física.

Ora este redução da sexualidade a uma necessidade física, com a consequente redução do homem à bestialidade, é legitimada pela televisão e pelas revistas. Para que ninguém se sinta mal por viver como um coelho ou como uma cadela no cio os media transformam a javardice em progresso.

Ora esquecem-se que as actuais prostitutas e actrizes porno não teriam nada a ensinar aos romanos e aos potentados orientais da antiguidade. As revistas pornográficas já existiam na república Romana e no Oriente existiam templos dedicados à prostituição.

Foi o cristianismo que elevou a sexualidade. Antes de mais porque foi a Igreja que elevou todo o ser humano a pessoa. O estatuto de cada Homem já não dependia da Lei mas do facto de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. A mulher deixou de ser um mero objecto para ser uma igual. A segunda questão é que o cristianismo afirmou com total clareza a unidade do corpo e da alma. O corpo é morada do Espírito Santo.

Por isso nós recusamos esta banalização do sexo, que reduz a mulher a um pedaço de carne e a nós mesmo a animais. Achamos que o sexo é um coisa boa e por isso esperamos pela pessoa e pela altura certo para o praticar. Só entregamos o nosso corpo a quem entregamos também o nosso espírito.

Por isso não alinhamos nestas bestialidades. Não por desprezarmos o sexo mas porque conhecemos a sua importância.
*Divina Comédia, Inferno - Canto XXVI

terça-feira, junho 01, 2010

Corpo de Deus.

Esta Quinta-feira é a Solenidade do Corpo e Sangue de Jesus, mais conhecido pelo Corpo de Deus. Este dia serve para nos dar-mos conta da espantosa graça que Deus nos concede: que uma rodela de pão e um golo de vinho se transformem no Seu preciossimo corpo e sangue.

Muitas vezes para nós a Eucaristia é uma coisa banal. Estamos tão habituados à missa enquanto ritual que nem reparamos no milagre extraordinário que ocorre diante dos nossos olho: o próprio Deus que se faz carne. A hóstia consagrada é o corpo de Nosso Senhor, tão real e presente como no céu.

Na Quinta-feira mais uma vez irá realizar-se a procissão do Corpo de Deus. O Senhor Patriarca irá percorrer as ruas da Baixa transportado o Corpo de Cristo. É um convite a que cada um de nós ganhe consciência do trabalho a que Deus se dá para nos salvar.