Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
Este poema é, provavelmente, o meu preferido. Este desejo de tudo e mais alguma coisa, este desejo das coisas finitas mas infinitamente, este desejo do que eternamente faz falta nas paixões e nos amores, é o meu desejo. Tambem eu não quero a média entre o tudo e o nada. A mediania não me satifaz.
Contudo esta sensação não é inútil, esta paixão não é por coisa nenhuma, mas por um rosto muito concreto, Aquele que é infinitamente finito, porque sendo Deus se fez homem, e impossivelmente possivel, porque desceu dos céus e Veio ao meu encontro, Ele que é tudo e um pouco mais: Cristo.
Por isso é que o resultado deste meu desejo não é um cansaço, mas uma certeza da qual nasce a esperança.
1 comentário:
Não conhecia este poema de Álvaro de Campos. Gosto imenso. É, claramente, o meu heterónimo preferido de Fernando Pessoa! Preferidíssimo, íssimo, íssimo!
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