Foi publicada na semana passada uma entrevista que o Papa
Francisco concedeu ao director da revista La
Civilita Catolica (revista dos jesuítas italianos). A entrevista foi feita
em Agosto, mas só agora publicada. Uma das razões para esta demora foi a
vontade dos responsáveis jesuítas em publicar a entrevista traduzida em várias
línguas de maneira a evitar possíveis más interpretações.
A tentativa foi boa, mas não conseguida. Os media, que tendem sempre a ler naquilo
que o Papa diz e faz o que não está lá, trataram de salientar a parte em que o
Santo Padre falou sobre o aborto e a homossexualidade. Segunda os nossos
jornais o Sumo Pontífice teria dito que a Igreja vivia obcecada com estes
temas.
Mas esta má interpretação dos media não me choca nada. Já estamos totalmente habituados. Foi
assim com João Paulo II, foi assim (repetidamente) com Bento XVI e tem sido
assim com o Papa Francisco.
O que me chocou foi ver tantos católicos a fazerem fé no que
os media disseram para, mais ou menos
abertamente, criticar o Santo Padre. Sendo que muitos dos que agora crêem
piamente no que a imprensa diz sobre o Papa passaram todo o pontificado do Papa
Emérito a criticar o facto de que os jornalistas distorciam tudo o que Bento
XVI dizia.
Em relação às questões que nós chamamos fracturante disse o
Papa: «Não podemos
insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso
dos métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas
coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar
num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da
Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente».
Esta afirmação levantou um coro de “virgens ofendidas”.
Muitos ficaram chocados, dizendo que o Papa não apoiava os católicos que
combatem pelo casamento e pela vida.
Esta escândalo nasce de uma redução de o cristianismo a um
conjunto de doutrinas. Mas fé da Igreja
não nasce de um conjunto de regras, mas do encontro com Cristo presente nesta
realidade que é a Sua Igreja. As regras, a doutrina, são uma consequência desse
encontro.
“Não matarás” não é um artigo de fé, tal como não o é a
santidade do casamento. Estes dois preceitos são consequência da fé. Não é
possível afirmar Cristo e não respeitar estas regras, tal como não é possível
amar uma mulher e ser-lhe infiel.
Se amas a Cristo então deixas que Ele te mude. Desejas olhar
o mundo como Cristo te olha. Para isso é preciso conhecer a Sua doutrina, é
preciso respeitar as suas regras. Voltando ao exemplo da mulher amada: se amas
uma mulher queres saber quais sãos os filmes que ela gosta, que comida prefere,
que livro lê. Tentas fazer o que te é possível para lhe agradar.
Um homem não se deixa mudar por uma mulher que não ame. Ora
também é impossível seguir a Doutrina da Igreja sem amar a Cristo.
Falar apenas das consequências é saltar por cima do mais
importante. O primeiro passo é encontrar Cristo. Para isso é preciso
anuncia-Lo. O resto (a doutrina) é consequência inevitável desta relação.