A minha primeira reacção à decisão do Santo Padre de
resignar foi de choque. Fiquei completamente atordoado, sem conseguir
compreender o alcance daquilo que estava a acontecer. De algum modo, no meu egoísmo
e no meu mimo, senti-me abandonado.
Sabia que existia a possibilidade, em abstracto, do Papa
resignar. O Código de Direito Canónico, no Cân. 332 §2 prevê essa hipótese. O próprio
Papa Bento XVI no livro Luz do Mundo tinha
dito que poderia resignar um dia. Mesmo assim, não estava à espera que o Santo
Padre o fizesse agora.
Aparentemente esta seria a altura menos expectável. Parecia
que o Sumo Pontífice ia finalmente ter alguma paz. Este ano adivinhava-se como
um ano de sucesso. Era o ano da Encíclica sobre a Fé, o ano da Jornadas no Rio
de Janeiro, o ano dos festejos do 50º aniversário do Concílio. Parecia que este
ia ser o ano da aclamação total do Papa.
Para além disso, por muito que tentemos, é impossível não
nos lembrarmos dos últimos anos do pontificado de João Paulo II. De como o
antecessor de Bento XVI se ofereceu a Deus diante de todos nós.
Mas olhando para este acontecimento com os olhos da fé
percebo que (como eu aliás já desconfiava) o problema está todo em mim. Porque
o meu primeiro juízo parte de sentimentos e de cálculos e não da fé.
Antes de tudo, antes de qualquer explicação ou argumento,
existe em mim esta simples e racional certeza: o Santo Padre Bento XVI ama mais
a Igreja que eu, é mais santo do que e mais inteligente do que eu. Demonstrou
durante todo o seu pontificado a coragem de nunca fugir diante da adversidade e
a humildade de Servo dos Servos de Deus. Por isso se decidiu resignar, mesmo
que eu não compreenda, fá-lo por amor a Cristo e à Sua Igreja e não por uma
resignação ou um comodismo e por isso este acontecimento é um bem. Isto sei eu,
mesmo que não conheça mais nenhum facto.
Para além disso, a verdade é que a circunstância de Bento
XVI é diferente da de João Paulo II. Um foi eleito com pouco mais de cinquenta
anos o outro com setenta e oito. Um era um desportista pujante o outro um homem
frágil. João Paulo II recusou resignar diante da humilhação e da doença, porque
percebia a importância do seu testemunho no sofrimento. Bento XVI resigna
porque sabe que o trabalho que é pedido ao Papa é superior às suas forças.
Respostas diferentes a circunstâncias diferentes, mas um mesmo critério: o amor
total a Cristo e à Igreja.
Aliás o Pontificado destes dois Papas tão diferentes está
intimamente ligado: Bento XVI completou o trabalho de João Paulo II. O Papa
polaco atraiu as multidões e o seu sucessor confirmou-as na fé.
Não digo que compreenda totalmente a decisão do Papa, nem
sequer que goste desta decisão. Bento XVI é um grande Papa e o seu pontificado
é uma graça extraordinária para toda a Igreja e para mim muito concretamente.
Foi durante este pontificado que passei de adolescente a adulto. A pessoa do
Santo Padre, as suas palavras e os seus actos marcaram o amadurecimento da
minha fé.
Mas esta é a grande a alegria de seguir. Não preciso de
perceber tudo, não preciso de gostar de tudo. Porque aquilo que experimentei
dá-me a certeza absoluta que a decisão do Papa é boa.
Nos próximos dias vai ser muita a confusão. Por um lado as
intrigas e os disparates sobre as razões que levaram a esta decisão. Por outro
o carrossel dos candidatos a Papa que irão florescer como ervas daninhas. No próximo
mês iremos ouvir desfiar um rol de perfis que o próximo Papa terá que ter e descrições de cardeais
que encaixam nesses perfis. Uma tarefa vã. Basta relembrar que em 2005 os media todos diziam que Papa ia ser
africano, de um país pobre, progressista e jovem. Em vez disso foi eleito um
cardeal velho, europeu, conservador do país mais rico da Europa.
Por isso o que é preciso antes de mais é serenidade. A
agenda do Espírito Santo não é marcada pelos media nem pelo facebook. É Ele quem governa a Igreja, por isso
podemos estar totalmente descansados.
Depois é preciso rezar. Rezar a agradecer o extraordinário
pontificado de Bento XVI. Rezar pela Igreja para que cresça no amor ao Papa.
Rezar pelos cardeais para que se deixem guiar pelo Espírito no conclave.
Acabo este post como acabei este dia: cheio de gratidão a
Deus pelo pontificado de Bento XVI. Desde o primeiro minuto do seu pontificado
foi possível ver a promessa de Jesus a Pedro: “Tu és Pedro, sobre esta
pedra erguerei a minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra
ela”. Cheio de gratidão a Bento XVI pela sua enormíssima paternidade.
VIVA O PAPA!
SEMPER FIDELIS!