Os acontecimentos dos últimos dois meses no
Iraque e na Síria têm-nos deixado com uma sensação de sufoco.
Por um lado os relatos que nos vão chegando
são absolutamente aterradores. Dezenas
de milhares de pessoas expulsas das suas terras, homens mortos através de meios
bárbaros, mulheres violadas e vendidas como escravas, crianças abandonadas no
deserto, Igreja ocupadas e saqueadas. Tudo isto parece tirado de um filme de
terror de má qualidade.
Por outro lado, tudo isto se passa diante
do silêncio do Ocidente. Lemos as noticias, vemos os telejornais, procuramos
saber o que se passa com esses nosso irmãos mártires, mas nada. Apenas um
enorme silêncio. Mesmo quando os jornais falam da situação do Iraque só ouvimos
falar dos yazadi (também eles sujeitos ao terror do ISIS) ou dos xiitas. Mas
aparentemente nenhum lider politico ocidental ou meio de comunicação reparou
que já há mais de cem mil cristãos desalojados e um número ainda por apurar de
mortos e de escravos.
E esta realidade é sufocante, aterradora.
Saber que os nossos irmãos estão a ser perseguidos sem que ninguém se pareça
importar, faz-nos quase chorar de raiva. Por isso revoltamo-nos, justamente.
Acusamos o Ocidente de ignorar a perseguição aos cristãos, não só no Iraque,
mas em tantas partes do mundo. Chegamos a usar a expressão
"cristofobia" para designar esta indiferença pelos cristãos
perseguidos.
Mas ao pensar nisto não posso deixar de
pensar: então e eu? Que fiz eu por estes meus irmão? Porque se é verdade que a
actual situação no Iraque é mais dramática do que nunca, também é verdade que a
perseguição aos cristãos no Próximo Oriente não é propriamente uma novidade.
De facto, há onze anos, antes da
intervenção americana, existiam no Iraque 1.300.000 cristão. Passados alguns
anos só exisitam 300 mil, os restantes tinham fugido da guerra e da
perseguição. E isto acontence e aconteceu um pouco por toda aquela região. Os
cristãos, presos entre guerras e revoltas, sem nenhum lobby ou país poderoso
que os proteja, acabaram por ter que escolher entre fugir ou ser mortos.
Aconteceu na Terra Santa, no Libano, na Síria, no Egipto entre outros países.
E nós que fizemos e fazemos? Discutimos,
resmungamos, escrevemos textos. Mas damos a este assunto a mesma atenção, ou
ainda menos, do que às intrigas eclesiásticas. Quantas vezes perdemos mais
tempo a discutir batinas ou o latim, do que com os cristão perseguidos? Que
parte deste silêncio esmagador é culpa nossa?
E não vale a pena usarmos como desculpa a
falta de meios (a eterna desculpa nacional de que até faziamos, mas ninguém
quer). A verdade é que fomos desafiados vezes sem conta pelo Papa (quer pelo
Papa Reinante, quer pelo Papa Emérito) a rezar pelos cristãos perseguidos. A
verdade é que existem um sem número de instiuições católicas no terreno a quem
podemos ajudar. A verdade é que existem várias agências noticiosas católicas
que continuam a noticiar estas perseguições. A verdade é que têm havido
manifestações na Europa por causa do Iraque, mas todas de apoio ao ISIS... E nós que fazemos? E eu?
Isto nada tira à injustiça que é o silêncio
total do Ocidente sobre a perseguiçãos aos cristãos. Nem significa que nos
devemos calar perante essa injustiça. Mas devemos também cair na conta de que
nós, não sendo os autores dessa injustiça, temos sido sem dúvida seus
cúmplices.
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